quinta-feira, 1 de outubro de 2009

PM estoura fábrica de vinho falso em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Por volta do meio-dia, a Polícia Militar chegou numa casa no bairro Filgueiras, zona nordeste de Juiz de Fora.
A denúncia era de que havia tráfico de drogas no local.
Os policiais encontraram dentro da casa 20 papelotes de cocaína, 7 pedras de crack, 40 mídias piratas e cercad e R$ 2.700.
Um pedreiro de 47 anos foi preso em flagrante.

O que os policiais não podiam imaginar era que, ao dar buscas no quintal, fossem encontrar uma fábrica clandestina de bebida.
Eles passaram por dentro da garagem e desceram uma escada de terra no barranco.
Debaixo da casa, havia uma espécie de depósito aberto, cheio de entulho.
Num canto, estavam garrafas, lacres e todo tipo de material para embalar o vinho falso.

Segundo os policiais, o pedreiro usava um tanquinho para deixar as garrafas de molho até os rótulos saírem.
Depois, elas eram retiradas e reservadas para receber a bebida.
Aí, era a vez de preparar a "receita caseira".
Ele misturava, também no tanquinho, suco de uva, essência de uva, corante e álcool, daqueles que usamos na limpeza e achamos no setor de material de limpeza nos supermercados.
Aquilo tudo era batido e colocado num tambor de plástico.

Depois de pronto, o "vinho" era posto nas garrafas.
O falsificador usava rolhas e lacres bem rústicos e colava o rótulo de uma marca de vinho que existe no mercado nacional.
Então, era só distribuir nos bares e restaurantes.
Ao lado da casa dele, havia um bar com várias garrafas.
O material foi apreendido pela PM e por fiscais da Secretaria de Atividades Urbanas.

O fiscal Evailton Pires explicou que ingerir aquele preparado é um perigo.
O vinho falsificado foi feito em condições precárias de higiene.
Além de problemas graves de intoxicação, o produto poderia até matar.
O que preocupa é saber que muita gente vai beber aquela porcaria pensando que se trata realmente do vinho pedido e não de uma falsificação grosseira.

Todo o material foi levado para a delegacia.
O pedreiro foi preso por tráfico e falsificação.
Esta foi a segunda vez que a Polícia Militar apreendeu droga com ele.
No ano passado, Paulo José Coelho da Fonseca foi preso numa casa na mesma rua.
Ele ficou pouco tempo na cadeia e foi liberado.

Protesto em Santa Rita de Jacutinga - MG

Por Michele Pacheco

Quando fiquei sabendo que teríamos que viajar para Santa Rita de Jacutinga para cobrir um protesto, a primeira coisa que veio à minha mente foi a dificuldade para chegar lá.
As lembraças que tinha eram de uma estrada de terra e pedras, cheia de curvas.
Fomos por Bom Jardim de Minas, caminho mais curto para quem sai de Juiz de Fora.
Assim que entramos na estrada, uma agradável surpresa: asfalto!

Não perdi tempo e lasquei o comentário otimista:
"Viu só, com essa estrada asfaltada a gente chega lá rapidinho. Está muito melhor do que a gente imaginava".
Segui sorridente por mais alguns quilômetros e...caí na real.
Eu tinha falado cedo demais!
O asfalto acabou e voltamos à boa e velha estrada de terra.
Claro que tive que ouvir do Robson a tradicional frase:
"porque você não deixa para falar no fim da viagem? Credo, parece que atrai!".
Eu ainda tentei me defender, lembrando que podia ser pior!

Eis que, de repente, a terra acabou e voltou o asfalto.
Acabou o asfalto e voltou a terra.
Esse vai e vem durou alguns quilômetros, até a lama vencer o asfalto.
Aí, foi um atoleiro só até Santa Rita de Jacutinga.
Tinha chovido e estava um mingau.
A estrada está sendo asfaltada e há muitas máquinas passando por lá.
Depois de pronto vai ficar bom, mas por enquanto...
Diante da cara feia do Robson ao volante, achei melhor evitar outros comentários e passei o tempo fotografando o lamaçal.

Meu marido parecia piloto de rally, concentrado em não sair da estrada nas curvas acentuadas.
O atoleiro puxava o carro para um lado, ele agarrava o volante, que parecia ter vontade própria, e tentava retomar o caminho certo.
E foi nessa batalha desleal até a entrada da cidade.
Respiramos aliviados e fomos para as entrevistas.

Os moradores chamaram a TV Alterosa para protestar contra o fechamento da unidade da Vale do Rio Doce.
Por 20 anos, a siderúrgica foi a maior fonte de renda do município de 5813 habitantes.
No mês passado, foi anunciado o fechamento.
Segundo o sindicato dos metalúrgicos de Santa Rita, 66 empregos diretos foram extintos, colocando em risco a economia da cidade.

O presidente da Câmara Municipal, Luiz Fernando do Vale, foi um dos organizadores do protesto.
Ele contou que a Vale recebeu muitos benefícios na época da instalação.
Em troca, deveria gerar empregos e renda.
Isso funcionou bem até agosto deste ano.
O fechamento da unidade pode significar a falência do município, que tinha a economia baseada numa única grande empresa, como ocorre com a maioria das cidades pequenas.

A revolta maior dos moradores é com a recusa da Vale em vender a unidade para outras empresas que estariam interessadas.
Segundo os funcionários, a informação passada é de que a Vale não teria interesse em vender, pois estaria colaborando com a concorrência.
A única parte que foi posta à venda foi a usina, doada pelo município.
Mas, ela não gera os empregos tão esperados.
A assessoria da empresa explicou que todos os direitos trabalhistas foram respeitados e que a
Vale demonstrou interesse em vender a usina.

Os manifestantes se reuniram na praça da estação ferroviária.
Foram feitos discursos de vários sindicalistas de Santa Rita de Jacutinga, Juiz de Fora e outras cidades da Zona da Mata e do Sul de Minas.
Foram eles que organizaram o movimento.
As pessoas mais velhas lembravam que esta é a pior crise que o município já enfrentou desde a fundação, em 1945.
Mas, durante as décadas, problemas parecidos foram registrados toda vez que uma empresa maior se instalava no local e depois fechava as portas.

Encontramos no protesto um casal com os filhos.
Mauro está entre os desempregados e contou que a situação é difícil.
Ele não tem onde procurar emprego na cidade e pode ter que se mudar.
Para ajudar o marido, a Rita está economizando ao máximo em casa.
Ela lamenta a demissão dele e conta que o nível de vida da família caiu muito.
"Meus filhos pedem as coisas e não temos como dar. Não sabemos como vamos ficar quando acabar o seguro desemprego" explicou a dona de casa.

Depois dos discursos na praça, os manifestantes seguiram com faixas e apitos pelas ruas do centro.
O comércio fechou as portas em apoio ao movimento.
O setor é o mais prejudicado.
Antes do fechamento da siderúrgica, R$ 150 mil circulavam pelo município todo mês.
O valor já caiu para R$ 80 mil e pode chegar a R$ 30 mil.

A passeata fechou o centro de Santa Rita e só parou na Câmara Municipal.
A idéia era aproveitar a Audiência Pública marcada sobre o assunto para cobrar das autoridades uma apuração rigorosa dos motivos que levam a Vale a não vender a unidade.
O presidente da Câmara decidiu pedir uma CPI para investigar a história do fechamento e cobrar da empresa um retorno pelos benefícios que ela recebeu na instalação.

Acabamos a matéria e nos preparamos para voltar a Juiz de Fora.
Eu não aprendo mesmo!
Vi os ônibus e vans da comitiva de sindicalistas da região, olhei para o Robson e mandei ver:
"Xiii! Se a estrada já estava ruim, imagine depois desse monte de veículo pesado ter passado por ela!"
Ah, se olhar matasse, ele teria cometido um "esposacídio".

Não é que eu estava certa?
A lama que antes estava lisinha e escorregadia, ficou cheia de ondinhas com o peso do ônibus.
Até seria bonito de ver, se a nossa Parati não fosse tão baixa e passasse raspando nos atoleiros.
A cada curva eu me perguntava (mentalmente, claro!) se seria ali que o Robson me colocaria para empurrar o carro.
E respirava aliviada a cada trecho superado.

Voltou a chover.
Além de se preocupar com a lama, os atoleiros, a chuva e a escuridão chegando, o Robson ainda foi premiado com uma névoa densa que baixou rápido das montanhas.
Eu até ia fazer um comentário, mas notei que o rosto do meu maridinho apresentava uma coloração entre vermelho vivo e roxo e achei melhor não arriscar.
Enfim, chegamos em Bom Jardim de Minas e retomamos o tão esperado asfalto.
Nem preciso dizer que a Parati estava tão coberta de lama que nem dava para ver a cor dela.