segunda-feira, 9 de março de 2009

Greve de ônibus pára Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

A previsão era de que a greve fosse deflagrada à meia-noite desse domingo.
Estávamos preparados para entrar no serviço e virar a madrugada, quando uma fonte ligou e nos disse que só haveria confusão a partir das quatro da manhã, quando os coletivos começam a rodar. Entramos às três e fomos a algumas garagens ver como estava a situação.
Na Viação Santa Luzia, no bairro Bandeirantes, zona nordeste da cidade, o clima era tenso.

Do lado de dentro estavam funcionários e o presidente do Sindicato dos Rodoviários elaborando uma escala de revezamento.
Na cidade existem 521 ônibus.
O objetivo era preparar um plano de saída de 30% da frota de cada empresa, como previsto na Lei de Greve. Do lado de fora, estavam trabalhadores revoltados por que queriam entrar e seguir com o trabalho.
No meio disso tudo, ainda havia o pessoal da Associação da categoria, “arquiinimiga” do sindicato.

Na Viação Goretti e Irmãos, no bairro Vitorino Braga, zona leste da cidade, a situação também estava tensa.
Os funcionários que estavam na empresa queriam sair para trabalhar e os representantes do sindicato se sentaram na entrada do portão da garagem para impedir a saída dos veículos.
Houve discussão e o clima esquentou.
A Polícia Militar acompanhou tudo para evitar violência.

Aos poucos, ao longo da madrugada, os coletivos foram saindo.
Quem precisava chegar cedo ao trabalho, se arriscou e seguiu caminhando na escuridão.
No bairro Linhares, era grande o movimento de pedestres em direção ao centro da cidade.
Com mochilas e bolsas, eles mal paravam para gravar entrevista, alegando que tinham um longo trajeto pela frente e não poderiam perder a hora.

Quando o dia clareou, os pontos de ônibus estavam lotados por toda a cidade.
Com o número reduzido de veículos rodando, quem tinha sorte seguia espremido.
Quem não tinha, ficava no ponto por um bom tempo.
Aqueles que não podiam atrasar, se arriscavam a ir a pé.
Os pontos de táxi estavam vazios e os veículos rodaram sem parar desde a noite passada.
Com medo da greve, muitos moradores nem se arriscaram e preferiram gastar um pouco mais.

Por volta de dez e meia da manhã, fontes nos avisaram que os rodoviários iriam parar todos os ônibus na Avenida Rio Branco, em frente à sede do sindicato.
No local, encontramos vários sindicalizados e seguranças.
A PM também estava por perto.
Os policiais tiveram muito trabalho hoje.

A todo momento, chegavam chamadas das portas das garagens feitas por funcionários que se consideravam ameaçados ou que queriam trabalhar e não podiam.
Eu tive que voltar para a TV, pois hoje estreamos mudanças no Jornal da Alterosa e fizemos vivos com os dois repórteres.
O Robson voltou para o ponto previsto para os ônibus pararem e registrou o máximo que pôde de imagens do movimento.

Os rodoviários chegaram com os ônibus da Viação Tusmil, atravessaram os veículos nas pistas centrais da Avenida Rio Branco e fecharam o trânsito.
Eles colocaram faixas sobre a greve e distribuiram panfletos explicando à população a razão do protesto.
A categoria quer reajuste salarial de 11,86% e vários outros benefícios.
A Astransp já avisou que não tem condições de dar o aumento sem reajustar o valor das tarifas.

O Ministério Público acompanha a questão do transporte na cidade desde que um vídeo foi divulgado no ano passado, mostrando o então prefeito Alberto Bejani negociando propina com o dono de uma empresa de ônibus em troca de reajuste na tarifa.
Os promotores se dividem: um acredita que aumentar o valor das passagens seja uma questão a discutir e o outro é terminantemente contra.

Nós, da imprensa, fazemos o nosso papel e divulgamos ao máximo todos os lados da questão, para que os moradores possam entender melhor toda a situação complicada.
Afinal, no fim é o povo que sai prejudicado, de um jeito ou de outro.
O Robson encontrou na paralisação o Fernando Priamo, da Tribuna de Minas.
Ele estava atento aos detalhes.
Numa situação dessas, a gente nunca sabe de onde vem a confusão.

O triste é saber que mais do que os direitos trabalhistas e o reajuste salarial, a greve esconde uma briga antiga entre as facções dos rodoviários.
Em 98, havia um sindicato só.
Depois de uma briga e de troca de acusações, a categoria teve uma separação.
Até hoje, os grupos não se entendem.

O sindicato organizou a greve e a associação fez de tudo para acabar com ela.
O sindicato encerrou as negociações com a Associação das Empresas de Transporte Coletivo (Astransp) e a associação achou melhor seguir com as discussões e deixar a greve para último caso.

Quando saímos da TV os coletivos parados na Avenida Rio Branco.
Enquanto os passageiros se viravam à pé, os motoristas e cobradores descansavam nos canteiros centrais.
O boato de que os veículos poderiam ser apedrejados deixou todo mundo apreensivo.

Durante toda a tarde, nenhum ônibus conseguia circular pelo centro da cidade.
Como todas as linhas passam ou pela Rio Branco ou pela Getúlio Vargas, ao fechar o cruzamento das duas avenidas, os grevistas conseguiram parar o transporte coletivo em Juiz de Fora.
Claro que a população não gostou nem um pouco e as críticas à greve são ouvidas por toda parte.

A paralisação começou por volta de onze e meia da manhã e só terminou às oito da noite.
Depois de um reunião tensa e longa na prefeitura, o prefeito Custódio Mattos assinou um Termo de Compromisso com os grevistas e se propôs a mediar a negociação entre a categoria e os empresários do setor de transporte de passageiros.
Mesmo com o fim do protesto, os coletivos demoraram para voltar a rodar.
A greve foi interrompida até o próximo dia vinte.
Se até lá não houver reajuste salarial, os rodoviários podem interromper os serviços mais uma vez.

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