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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Memórias de Natal

Por Michele Pacheco




Adoro o Natal!

O Robson costuma dizer que eu fui criada numa redoma de vidro, num mundo perfeito. Talvez ele tenha razão. Quando fecho os olhos e penso no Natal da minha infância, sinto cheiro de rabanada, tender, leitoa assada e muitas outras delícias que a minha mãe sabe preparar. Ouço a algazarra que fazia com meus irmãos e primos. O mais curioso, é que não tenho lembranças marcantes dos presentes que ganhava. Eram muitos, para alegria geral da ala infantil da família, mas o que ficou na memória foi a deliciosa união familiar.


Meu tio Paulo César, irmão do meu pai, sempre foi uma atração à parte. Nossa família tinha o hábito de mandar as crianças para um quarto, enquanto os adultos montavam os presentes na árvore, na véspera de Natal. Quando dava meia-noite, era uma alegria só. Meu tio saía gritando "meia-noite, corram que o Papai Noel já está indo embora". Nós saíamos em disparada. Eu em especial, não me conformava por nunca ter flagrado o Bom Velhinho em ação. Meu tio me colocava no ombro e corria pelo quintal dizendo "você não está vendo? Ele está lá naquelas nuvens, acabei de ver o trenó". E eu nunca via nada. Ele era tão criativo, que a cada ano inventava uma história diferente. O Papai Noel ia de limusine, de avião, de trenó, de helicóptero... Enfim, quando soube a verdade sobre a origem dos presentes, fiquei triste. Não por ter sido "enganada" pelos adultos, mas por ter perdido aquela farra gostosa da caça ao Papai Noel.

Ainda hoje, adoro fazer matérias sobre decoração natalina. Estivemos em São João del Rei e vimos o Largo de São Francisco todo decorado. As palmeiras centenárias ganharam aros de metal com luz, simulando uma árvore de Natal. Os jardins têm luzes coloridas e um presépio foi montado com fios luminosos. Está lindo. Tanto turistas como moradores têm se reunido por lá para passear, comer pipoca e churros ou simplesmente encontrar os amigos.

Pena, que nem todas as matérias que fazemos neste período do ano são alegres.
Achava que todos, independentemente da situação financeira, tivessem no Natal um momento de satisfação. O que vejo na prática é muito diferente. Crianças esquecidas em abrigos ou à mercê da indiferença ou da violência doméstica, que nunca viram sentido nas comemorações natalinas. E ainda há aquelas que sofrem com o apelo publicitário, sem chance de realizar tantos desejos. Há alguns anos, eu e o Robson fomos fazer uma reportagem sobre uma família tão carente que não teria Natal. Chegamos, conversamos com o pessoal e fomos gravar a entrevista. Nós dois já estávamos meio engasgados, mas quando gravamos com o filho mais velho, não teve jeito: desandamos! Perguntei ao menino que presente ele gostaria de pedir ao Papai Noel, já imaginando se eu teria dinheiro para comprar o brinquedo que ele iria pedir. Mas, a resposta foi rápida "eu queria que ele trouxesse comida, para que a minha mãe não passe outro Natal chorando". Foi impossível segurar a onda. Pedimos licença, saímos um pouco da casa, nos recuperamos e voltamos a gravar dispostos a fazer um material tão bonito que os sonhos daquela criança seriam realizados. Chegamos na TV e contamos a todos o que tinha acontecido. A mobilização foi geral e reunimos muitas doações. Alguns telespectadores também ajudaram. A família teve um Natal melhor, além de conseguir ajuda para superar um período difícil, em que o pai estava desempregado.

Outro ponto que lamento com relação ao Natal é a visão que é passada às crianças hoje. Elas querem a boneca ou o carrinho mais caros, porque um coleguinha vai ganhar aquele presente. Temo que quanto maior o poder aquisitivo, menor a importância dada ao espírito natalino.

Lamento que não exista um Tio Paulo César para cada criança deste mundo. Assim, elas guardariam do Natal uma lembrança mais lúdica e inesquecível.