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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Lição de vida aos 92 anos em São José das Três Ilhas

Por Michele Pacheco

Adoro quando recebemos pautas em São José das Três Ilhas,
distrito de Belmiro Braga.
A viagem é agradável e a paisagem pelo caminho é linda.
Rodamos um bom trecho de estrada de terra.
A região guarda um pouco da beleza verde que encantou e atraiu os desbravadores que vieram em busca de riquezas nas Minas Gerais.
Desde pequena gosto de imaginar qual a primeira impressão que eles tiveram ao chegar ali.

Meu local preferido no trajeto é depois de uma curva, numa parte mais alta da estrada.
Entre as árvores e palmeiras que contornam o caminho, a gente vê, ao longe, cachoeiras e campos.
O barulho de água e o canto dos pássaros passam uma sensação gostosa de sossego e bucolismo.
Um pouco mais à frente estão as imponentes paredes de pedra da igreja construída pelos escravos no século XIX.
Ela tem uma história curiosa.

A igreja começou a ser construída pelos Barões do Café quando
São José das Três Ilhas era um importante entreposto comercial do período do Império.
Ali eram reunidas as sacas de café que seriam vendidas e as
mercadorias que vinham de fora para abastecer as fazendas e atender aos desejos das senhoras dos barões.

Quando a Princesa Isabel aboliu a escravidão no Brasil, a obra ficou parada.
A mão-de-obra escrava foi substituída mais tarde.
Só que a diferença na construção ficou evidente.
Basta acompanhar a arquitetura e as paredes de pedra com atenção para notar que a parte mais alta da Igreja é diferente do restante.
Assim como o telhado.

As ruas de pedra hoje têm ar de esquecimento.
Os moradores mais jovens e em idade escolar passam o dia fora, nas escolas e faculdades de Belmiro Braga e de outras cidades próximas, como Juiz de Fora.

Os adultos trabalham fora também e muitos só retornam para visitar os parentes nos finais de semana.
Com a evasão, São José das Três Ilhas aos poucos se torna um recanto de tranquilidade para os moradores mais idosos.
Entre as ruas de pedras e os casarios antigos, eles contam histórias e mantém o passado vivo.

Já fizemos várias matérias por lá e sempre aproveitamos para registrar os detalhes pitorescos.
O distrito já foi cenário de vários filmes.
Dá para entender o motivo.
Ele parece uma cidade cenográfica prontinha para ilustrar a história do Brasil e de Minas Gerais.

A gente anda pelas ruas sentindo o cheiro tentador de carne assando,
de comida feita no fogão à lenha e dos doces deliciosos feitos em tachos de cobre, como antigamente.
Eu e o Robson somos suspeitos para falar.
Sempre que possível, procuramos levantar assuntos que possam render boas matérias por lá.
É o tipo de lugar que traz inspiração e ajuda a tornar a reportagem mais charmosa.

Toda vez que vamos, voltamos com outras sugestões para garantir a próxima viagem.
Dessa vez não foi diferente.
Esperamos que tudo dê certo e possamos descrever aqui, em breve, outras maravilhas de São José das Três Ilhas e da terra dos Barões do Café.

Dessa vez, fomos até lá registrar uma mulher que dá uma lição de vida aos 92 anos.
A Dona Vicentinha ou Vó Di, como é conhecida pelos amigos e parentes, é tetraneta dos barões que comandaram a região e fundaram as primeiras fazenda cafeeiras.

O amor pela educação está no sangue.
Ela cresceu vendo os avós e os pais ensinando.
A vocação para lecionar foi descoberta cedo, quando ela ainda era menina.
Dona Vicentina mal sabia escrever e já reunia os irmãos em torno dela para dar aulas.
O irmão mais velho conta que ela ensinava apenas rabiscos, mas tinha uma determinação tão grande que todos obedeciam a "mestra" sem discutir.

Conforme foi crescendo, a paixão pelas letras e pelas salas de aula também aumentou.
Nada que surpreendesse a família.
Os livros sempre foram presentes na casa deles.
Ainda hoje, por onde se passa há estantes cheias de exemplares dos mais diversos assuntos.
A Sandra, filha dela, nos ajudou em outras matérias na região se sempre comentou com muito orgulho o empenho da mãe em continuar ensinando mesmo depois de aposentada.

Passamos a história na redação e ela foi reforçada por outras fontes das nossas produtoras.
Finalmente conseguimos ir até lá registrar essa personagem inesquecível.
Numa manhã fria, encontramos Dona Vicentina no lugar onde se sente mais à vontade.
Na varanda da casa, ela improvisou mesas de ensino e uma pequena biblioteca com livros doados.
Com um cachecol preto e um casaco acolchoado, nossa entrevistada era o retrato que todo mundo faz de uma avó perfeita.

Aos 92 anos, a voz ainda é firme e agradável ao contar histórias com os olhos brilhando de emoção e ajudar os alunos nas lições.
Bastam alguns minutos de conversa para que a gente queira colocar a Vó Di no carro e levar para casa.
Ela é uma pessoa maravilhosa.
Quem acha que a Dona Vicentina é uma pacata moradora do interior de Minas se engana.
Ela já trabalhou muito e conquistou lugar de destaque na educação na Zona da Mata Mineira.

Foi professora por muitos anos, depois ocupou o cargo de diretora do Colégio dos Jesuítas, um dos mais disputados e conceituados de Juiz de Fora, onde criou o curso primário.
Quando estava prestes a se aposentar, a professora surpreendeu a família ao informar que tinha se matriculado numa faculdade de Direito.
Ela concluiu o curso, apesar de nunca ter exercido essa profissão.

De volta a São José das Três Ilhas, à casa que construiu, ampla, com quartos para todos os filhos e netos, ela voltou a fazer o que mais gosta. Ensina de graça matemática e português e ajuda com reforço escolar da comunidade. Os alunos reunidos na varanda recebem atenção, carinho e cobrança da professora.

Encontramos na "varanda de aula" a Luzinete.
Ela é dona de casa e vai fazer um concurso público de olho num cargo estável para ajudar no orçamento familiar.
Ela ficou sem jeito ao falar que tem pouco estudo, mas se alegrou ao dizer que Dona Vicentina é um anjo na vida dela e que todas as pessoas que sonham em aprender deveriam ter um ser tão especial assim por perto.

As crianças também parecem ter carinho e respeito pela professora.
Renan, de 10 anos, e Yverson, de 11, tinham muitas dificuldades na escola. Eles passavam de ano, mas não conseguiam nem ler, nem escrever direito.
Dona Vicentina pede orgulhosa que os alunos leiam um texto para nossa equipe e eles atendem prontamente.
Ela também mostrou a caligrafia deles e elogiou o empenho dos dois em aprender e buscar um futuro melhor por meio do ensino.

Ver aquelas crianças caprichando na letra, se dedicando às lições foi emocionante.
O olhar atento deles às palavras e às questões era uma prova do quanto levam à sério a chance que estão tendo.
O cuidado para manter a letra bonita e bem desenhada agrada à professora, que exige lições no caderno de caligrafia todo dia.
Dona Vicentina afirma que o rigor no estudo faz diferença e critica os modelos atuais, em que os alunos mal aprendem a ler.

Dos seis filhos da Dona Vicentina, apenas um não se tornou professor.
Dos 21 netos, formados nas mais diversas profissões, 7 são professores.
Dos 20 bisnetos, a maioria é muito pequena para decidir a profissão que quer.
Mas, o bisneto mais velho já está cursando a Faculdade de Letras e seguindo a tradição familiar.
Dona Vicentina bate papo entre uma explicação e outra e mostra o quanto fica feliz por ver a vocação passando para as futuras gerações.
O amor pela educação é sentido pelos alunos, como a Vitória, que entre uma equação e outra de matemática, somava conhecimento e atenção.

Quando perguntamos o segredo de manter a mente ativa e a memória afiada aos 92 anos, a professora nem parou para pensar antes de responder.
Com um sorriso franco, que iluminava os olhos, ela explicou simplesmente que era obra de Deus.
"Eu vejo minhas primas em cadeiras de rodas, outras pessoas bem mais novas do que eu com a cabeça ruim, e penso que só Deus poderia me manter com essa energia.
Foi um presente dele e é a melhor coisa da minha vida.
Vou ensinar até quando Ele permitir.
Por mim, não páro nunca" disse com aquele jeitinho adorável que conquista todo mundo que a conhece.

Incêndio destrói galpão de fábrica de embalagens em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

A cortina de fumaça era vista de longe.
O incêndio foi num galpão onde estavam armazenados 2 milhões de bandejas de papelão para ovos.
O material estava em caixas e pronto para ser enviado aos clientes.
O fogo começou numa pilha de caixas, se alastrou pelo depósito e chegou a grandes proporções.
As chamas destruíram as embalagens e a estrutura do galpão de 8 mil metros quadrados.

Assim que ficamos sabendo do incêndio, corremos para o local.
Na portaria, funcionários informaram que a empresa não iria passar dados à imprensa durante o combate ao fogo.
Eles apenas confirmaram que não havia vítimas.
Sem ter como fazer imagens de baixo, procuramos um ponto de melhor visibilidade no alto de um morro, ao lado da empresa.

A cena era supreendente.
Em meio aos galpões de metal, havia um buraco enorme.
O telhado do depósito incendiado desabou, deixando à mostra as labaredas sem controle.
A brigada da própria empresa fez o primeiro trabalho, com apoio de equipes de indústrias vizinhas, até a chegada dos bombeiros.
O acesso ao local do fogo era complicado.

Cerca de 40 bombeiros foram deslocados para o Distrito Industrial, na zona norte de Juiz de Fora.
Eles se revezaram em pontos estratégicos com os jatos de água.
Além de combater as chamas, era preciso resfriar as contruções próximas, cheias de material inflamável.
O galpão pertence à EPM, Empresa de Polpa Moldada, do mesmo grupo da Paraibuna Embalagens.

Do alto, a gente via a dificuldade dos bombeiros para controlar o incêndio.
Alguns grupos se alojaram nos telhados resfriados de alguns galpões.
De longe dava a impressão de que eles queriam concentrar o fogo na área do meio, longe dos outros depósitos.
Para isso, os jatos de água eram direcionados.
As labaredas ultrapassavam os telhados dos prédios de cerca de 10 metros de altura.

Segundo o superintendente da Paraibuna Embalagens, o responsável pela EPM não estava em condições de conversar com a imprensa.
Alexandre Stigert explicou que a situação estava controlada às 4 e meia da tarde, que o fogo começou às 13h18 e que apenas 20% do galpão estavam ocupados.
Ele disse que o prédio estava em obras, deveria ter 12 mil metros quadrados, mas já estava operando com os 8 mil metros quadrados concluídos.
A causa do incêndio estava sendo apurada.

Alexandre calculou um prejuízo de 1 milhão e 100 mil reais com a construção destruída, mais 80 mil reais perdidos com o material queimado.
Mas, ele deixou claro que a situação estava contornada e que a produção não parou em momento algum.
Alguns materiais inflamáveis foram remanejados dos depósitos próximos ao local do fogo.
O galpão destruído estava segurado, o que deve cobrir os prejuízos.

Por volta de sete e meia da noite, fizemos o último contato com os bombeiros.
Eles informaram que a equipe permanecia no local e não havia previsão para o fim dos trabalhos.
A gente tem que lembrar que num caso desses, não basta apagar o fogo, é preciso fazer todos os procedimentos de rescaldo.
O material queimado é revirado para evitar que novos focos recomecem o incêndio.

Acidente grave mata uma pessoa e deixa duas feridas em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

O trânsito ficou complicado no início da tarde na Avenida JK, zona norte de Juiz de Fora.
O motorista de um Fiat Uno seguia no sentido Centro-Zona Norte, quando perdeu o controle da direção, passou por cima de uma mureta de concreto e bateu de frente num caminhão que seguia no sentido contrário.
Os três ocupantes do carro ficaram presos às ferragens.
O acidente grave atraiu quem trabalhava ou passava pelo bairro Barbosa Lage.

Policiais militares controlaram o tráfego, desviando os veículos pelo pátio de uma empresa e depois pela pista contrária.
Quem seguia para a zona norte teve que fazer uma volta grande, seguindo pelo Acesso Norte para o bairro Benfica.
Quem ia para o centro foi direcionado para a contra-mão depois do trevo com a BR 267, conhecido como trevo para Caxambu.

Equipes dos bombeiros trabalharam rápido e cortaram toda a lataria do carro.
Os três ocupantes estavam inconscientes quando foram retirados.
Eles receberam atendimento na pista, foram estabilizados, imobilizados e levados pelo SAMU e pelo Resgate para o Hospital de Pronto Socorro.
No início da noite, foi confirmada a morte de um dos feridos.
Os outros permanecem internados.

Pelo estado em que ficou o Fiat Uno, é difícil acreditar que alguém saiu vivo do acidente.
A parte da frente foi toda esmagada.
A lateral entortou de tal forma, que ninguém conseguiria sair.
Os bombeiros cortaram o lado direito do veículo, abrindo uma passagem larga o bastante para o socorro às vítimas.
Com a violência da batida, houve vazamento de ácido da bateria, o que exigiu atenção dos bombeiros.

O motorista do caminhão contou que viu pouca coisa.
"Eu seguia tranquilo, quando vi um carro voando por cima da mureta, invadindo a contra-mão e vindo direto para cima de mim.
Não deu tempo de fazer nada para evitar a batida.
Foi um susto muito grande" explicou o motorista ainda sem acreditar no que houve.