Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

domingo, 4 de abril de 2010

Semana Santa - cobertura diferenciada

Por Michele Pacheco

Cobrimos a Semana Santa em São João del Rei há tantos anos, que já sabemos cada detalhe das celebrações e a duração delas.
Isso, com certeza, nos ajuda na hora do trabalho.
Sabendo o que vai ocorrer, e quando, a gente pode aproveitar melhor o tempo e pensar em algo diferente que ainda não tenha feito nesses 14 anos de Alterosa.

Neste ano, o Robson queria testar o kit de correspondente que ele montou.
Viajamos com o equipamento da TV, mas levamos na bagagem nossa câmera, nosso notebook, placa de captura e uma infinidade de cabos.
A idéia era treinar o envio de materiais por FTP.
A gente sabia que daria trabalho, mas queria tentar.

Para não prejudicar o jornal com as nossas estripulias, garantimos duas matérias em média por dia.
Elas eram feitas nas celebrações da noite e no movimento de turistas pela manhã.
Como nosso jornal agora é às 19h, não adiantaria fechar matérias sobre as cerimônias para o dia seguinte apenas com o factual.
Ficaria velho.
Por isso, priorizamos o uso de personagens, os vts de comportamento.
Não pedimos pautas à produção, porque já tínhamos uma idéia do que queríamos fazer.

Gravamos os eventos à noite, acordamos cedo e fizemos materiais novos.
Depois, corremos para a rodoviária e despachamos as fitas Beta para Juiz de Fora, a tempo de serem editadas.
Aí, era o nosso período de aprontar.
Após o almoço, a gente definia o que podia fazer com nosso equipamento durante a tarde.

No quarto do hotel, o Robson montou um mini escritório.
Eu digitava os textos e enviava por e-mail para a TV.
Bolava os flashes que seriam enviados por FTP e mandava para aprovação da nossa editora, Elisângela Baptista.
Com o retorno dela, a gente calculava o tempo necessário para a gravação e o envio, sem colocar em risco todo o jornal.

Como o tamanho influi diretamente no tempo necessário para o envio, optamos por abertura atualizando + off enviado pelo e-mail mais cedo para ser editado com imagens do ano anterior + encerramento sobre o evento da noite.
A abertura e o encerramento eram gravados por volta de seis da tarde.
O texto não podia ter mais do que 20 segundos na abertura e 15 segundos no encerramento, para não atrapalhar o esquema definido.
No primeiro dia, eu acabei me alongando ao responder à pergunta que a Elisangêla tinha feito e só a abertura ficou com 35 segundos.
Quase fui estrangulada pelo Robson!

Aprendi a lição: tinha que ser curto.
A demora no primeiro dia nos levou a entrar com áudio-tape em vez dos flashes previstos por FTP.
No segundo dia, já estávamos mais escolados.
O Robson fazia as imagens com nossa câmera digital, capturava as imagens na ilha improvisada na tampa traseira da Parati, editava e enviava por FTP.

Eu nem me arriscava a abrir a boca quando ele estava concentrado no computador.
Como se não bastasse o processo ser lento, a internet em São João del Rei não colaborou muito.
O Robson levou nosso 3G da Claro, que parecia funcionar à manivela.
Meu marido ficava roxo, azul, esverdeado e voltava a um colorido vermelho fúria num piscar de olhos.
Acho que ele deve ter rezado um bocado para o material seguir sem problemas.
E vocês acham que eu ainda me arriscaria a dizer alguma coisa? Nem pensar.

Depois do desafio superado, ele se acalmava e até sorria de alívio.
Material enviado, era hora de esperar o jornal entrar no ar.
Levamos no nosso Kit correspondente nossa TV para ligar no carro.
Assim, enquanto esperávamos a celebração da noite, aproveitávamos para ver o jornal.
A Kelly Scoralick e o Eduardo Dutra quebraram nosso galho e capricharam nas edições, dando ao jornal um ritmo dinâmico, mas com muito charme e beleza.
O Daniel Torres foi nosso anjo da guarda, agilizando o recebimento e a captura do material enviado por FTP.

No último dia, fizemos tudo que foi combinado e o Robson estava até alegrinho.
Acompanhou tranquilo o trabalho do pessoal que ajeitava os últimos detalhes para a celebração mais emocionante da Semana Santa de São João del Rei, o Descendimento da Cruz.
Até que um policial parou do nosso lado e perguntou se nós estávamos conseguindo sinal da Vivo. Olhou o computador e perguntou como estávamos conseguindo trabalhar, já que a internet estava lenta o dia todo.
Meus cabelinhos da nuca arrepiaram!

As bochechas do Robson ficaram numa tonalidade entre o beterraba e o vinho tinto.
Achei que ele fosse ter um chilique.
Imagine a cena.
O pobrezinho sentado no alto da escadaria da Igreja das Mercês, com o notebook cozinhando os joelhos dele, sem nem respirar, com medo de perder a boa posição para o envio e... vem essa bomba!
Ele rosnou alguma coisa sobre nem querer pensar na possibilidade de ficar sem sinal de celular. Afinal, se o FTP, que nesse momento viajava lentamente pelos mistérios da rede, falhasse, eu teria que entrar com áudio-tape.

Dito e feito!
Parece que o policial estava prevendo.
A rede ficou tão lenta que não adiantou insistir.
O jeito era o áudio-tape.
Mas, depois de três tentativas, eu ainda não conseguia ficar na linha com Juiz de Fora.
Eles me ligavam, a gente modulava e a ligação caía.
Depois de muito sufoco, conseguimos entrar sem problemas.
Quem está em casa, nem sempre faz idéia do que passamos nos bastidores.

Eu e o Robson nos despedimos da Semana Santa com matéria sobre o Descendimento da Cruz e a Procissão do Enterro.
No sábado, passamos em Prados para acompanhar o Ofício de Trevas e voltamos para casa.
Apesar do estresse, valeu a pena arriscar e descobrir que a gente pode fazer uma cobertura diferenciada usando imaginação, boa vontade e trabalho em equipe.