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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 16 de junho de 2009

Pai tenta fazer justiça com as próprias mãos em Juiz de Fora

Por Robson Rocha

Hoje estava sendo um dia tranqüilo de trabalho. Pela manhã, gravamos parte de uma matéria, um plano para o Jornal e fomos para a TV ficar por conta do vivo.
O tema de hoje era a falta de vagas nos estacionamentos rotativos da cidade.
Foi exibida uma reportagem do Evandro Medeiros e do marco Fagundes com uma personagem que custava para conseguir vaga no centro.
O Tiago, nosso técnico, montou os equipamentos, fez os testes e depois ficou acompanhando a entrevista.

O chefe do Departamento de Fiscalização de Transporte e Trânsito, Jorge Lima, foi o entrevistado. Ele contou que o número cada vez maior de ruas com estacionamento rotativo pago, a chamada Área Azul, é em função da demanda crescente.
A cidade está crescendo e o número de veículos é bem superior ao de espaço urbano para estacionamento.
O Jorge explicou ainda que para transformar uma rua em Área Azul é preciso um estudo completo e a aprovação do poder público, da comunidade e de autoridades legais.

Do vivo, seguimos para a manifestação dos estudantes, da CUT e de outros trabalhadores contra o aumento do preço das passagens dos ônibus urbanos.
Poucos manifestantes se reuniram em frente a Câmara Municipal de Juiz de Fora.
Usando uma caixa de som, eles protestaram contra o prefeito Custódio Mattos (PSDB). "Se os servidores públicos tiveram zero por cento de aumento, o transporte publico também teria que ter zero de aumento" reclamavam ao microfone.

Lembraram que na outra administração o aumento era para pagar propina e perguntaram "se a atual administração não recebe propina por que permitiu esse aumento?"
Ainda alegaram que alguns itens não deveriam estar na planilha de custos e que essa seria a primeira de várias manifestações.
Depois seguiram em passeata.

Na esquina da rua Halfeld com a avenida Rio Branco eles ameaçaram parar.
Mas, a parada foi apenas simbólica e durou poucos segundos.
Apenas o tempo necessário para que os fotógrafos e cinegrafistas registrassem.

Os manifestantes caminharam pela rua Halfeld por poucos metros e pararam para novamente discursarem mostrando o motivo da manifestação e distribuíram panfletos para a população.
Que, na grande maioria, não concorda com o aumento.

Quando estávamos voltando para o carro, encontramos com o Tiago e a Damarice, que estavam em horário de almoço.
Eles disseram que havia uma confusão na esquina da rua Halfeld com Batista de Oliveira.
Aí, um homem passou e disse que havia um tumulto entre policiais civis e militares.

Sai correndo pelo calçadão e, quando cheguei ao local, comecei a gravar tudo, mesmo sem saber o que estava acontecendo.
Coloquei a câmera na cabeça para evitar quebrar o equipamento em caso de briga e entrei no meio do bolo.
Nisso, vi um detetive explicando para o delegado Rodolfo Rolli, que tinha visto um homem pisando na cabeça de um rapaz, chegou e prendeu o homem e que policiais militares haviam entrado no meio e tirado o homem e mais um envolvido do local.
O homem disse que era mentira.
Que ele não tinha saído do local e que os policiais teriam retirado o filho dele dali.
Mas, o detetive chamou testemunhas que desmentiram o homem.
O delegado Rodolfo, experiente, chamou o homem para irem para a delegacia para conversar.
Lógico, que naquele tumulto estava difícil de entender o que havia acontecido.

Eu ainda não estava entendendo a história.
Mas, de repente guardas municipais levantaram um adolescente que estava sentado no chão.
Ele estava com o rosto esfolado e sangue saindo do ouvido.
Aí, juntei as peças e entendi que o homem havia agredido esse rapaz.

Mas, eu ainda não sabia por que.
Lembrei da Michele. Na correria, eu a larguei para traz no meio da manifestação. Sem saber onde eu tinha ido, ela demorou uns cinco minutos para me achar.
Sem repórter, o jeito foi gravar tudo e usar o microfone da câmera para pegar os sobe sons que poderiam servir para a reportagem.

Na primeira brecha, perguntei ao Rodrigo o que estava acontecendo.
Ele só disse que o rapaz tinha roubado alguma coisa e sido agredido pelo cara .
Quando colocaram o rapaz na viatura, coloquei a câmera na janela e perguntei se ele havia assaltado alguém, ou o que ele tinha feito.
Ele disse que não tinha feito nada.
Aí eu perguntei se ele tinha apanhado de graça e ele meio atordoado disse que não estava entendendo o que estava acontecendo.

Fui até o homem, que não quis gravar nada.
Mas, disse que o filho dele foi roubado há alguns dias e que os ladrões estariam ameaçando o garoto.
Ele veio atrás dos ladrões e quando os pegou o detetive o prendeu e um dos caras que tinha roubado o filho dele fugiu.

Nisso o delegado já mandou que todo mundo entrasse nas viaturas saíssem do local.
Quando as viaturas estavam saindo, a Michele e o Schubert, do JF Hoje, estavam chegando.
Não foram eles que demoraram.
É que oRodolfo, como já disse, é experiente e não deixou a coisa se estender e esquentar no local.

De quando eu cheguei até eles saírem, passaram no máximo uns quatro minutos.
Passei o que eu tinha escutado e visto pra Michele.
E, fomos voltando, o Schubert, a Michele e eu para nossos carros que estavam lá no Parque Halfeld.
Não bastasse a fome, pois já eram quase duas da tarde e estávamos sem almoço.
Uma mulher veio gritando atrás de nós. Eu não entendi o que era e olhei para trás.

Quando me virei de volta, a Michele e o Schubert deram corda, ou seja, se mandaram na frente e a mulher ficou gritando comigo.
A lista de besteiras que a doninha xingou foi grande. Eu fui ignorando, mas juntando a fome, o cansaço e meu sacro saco (cheio) eu pensei em aloprar. Mas vi que não ia adiantar.
Lógico que meu amigo Schubert perde o amigo mas não perde a piada, digo, a foto e depois me enviou várias.

Na hora, só via os dois bem na minha frente olhando para trás e rindo da minha situação desconcertante.
Mas, como sou filho de Deus, quando passamos pela manifestação ela largou do meu pé e foi gritar com a galera que estava protestando contra o aumento das passagens.
Bem, além disso ainda tive que agüentar o deboche da galera.
Voltamos pra TV e pra dizer a verdade, fiquei tão injuriado que perdi até a fome e nem almocei.

Na delegacia, entendemos melhor o caso do tumulto no centro.
No último dia 10, um estudante de 11 anos saía da escola quando foi rendido por dois adolescentes armados com facas.
Eles roubaram o celular do menino e voltar alguns dias depois para ameaçar a vítima de agressão caso contasse o que tinha acontecido.
Mesmo assustado, o garoto contou à família o que houve.
Hoje, ele tinha acabado de almoçar com o pai e estava andando no centro, quando reconheceu os dois assaltantes numa loja de celulares.

Segundo o Rodrigo Rolli, delegado que ficou responsável pela investigação, o representante comercial, de 45 anos, ligou para a polícia militar e informou o que o filho tinha acabado de contar e pediu que os policiais fossem lá prender os dois sujeitos.
Como os suspeitos saíram da loja, o pai da vítima começou a seguir a dupla.
Um dos adolescentes percebeu algo estranho e correu.
Para evitar que o outro também fugisse, o representante agarrou o loirinho e deu socos nele.
Quando o detetive viu a cena, prendeu o agressor.
Populares tomaram as dores do pai que estava fazendo justiça com as próprias mãos e o clima esquentou.

Por fim, o adolescente vai ser encaminhado à Justiça.
Ele fugiu do Centro Sócioeducativo Santa Lúcia no último dia 6 e teria se envolvido em uma série de roubos desde então.
Já o pai justiceiro, vai responder por lesão corporal.
E, caso os ferimentos se agravem e o adolescente tenha o tímpano rompido, ele vai responder por lesão corporal grave, com penas bem mais rigorosas.