Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Estrada Real - 300 anos do Caminho Novo

Por Michele Pacheco

No dia 14 de julho de 1709 foi inaugurado o Caminho Novo.
A rota mais curta e segura ligava o porto do Rio de Janeiro às Minas Gerais.
Antes, o ouro e as pedras preciosas das áreas de mineração eram transportadas pelo Caminho Velho da Estrada Real.
Ele saía do porto de Paraty e seguia até Villa Rica, hoje Ouro Preto.
Os ataques de piratas por mar e salteadores por terra levaram a Coroa Portuguesa a investir num novo trajeto.

Em 1698, o governador da capitania do Rio de Janeiro, Artur de Sá Menezes informou à corte a necessidade de se criar uma alternativa mais segura.
O Caminho Novo foi aberto por Garcia Rodrigues Pais, filho do bandeirante Fernão Dias.
Ele estava estabelecido como sesmeiro, com uma sesmaria à margens do rio Paraibuna e outra na Borda do Campo, atual Barbacena.
Primeiro, ele abriu uma picada para pedestres, concluída em 1700. Em seguida, aprimorou a estrada para passagem de animais de carga.
A via foi terminada sete anos depois.
Mas, documentos da época informam a data de 1709 como sendo a conclusão do Caminho Novo da Estrada Real.

Com a nova rota, o porto do Rio de Janeiro passou a centralizar o escoamento dos produtos extraídos do Brasil e da chegada das mercadorias europeias.
A viagem pela estrada de pedras sobrepostas durava um mês.
Pouco restou de pé de toda essa história.
Segundo historiadores, o Registro do Paraibuna, em Simão Pereira, é o único posto fiscal do período do império que sobrou.

Ele fica na divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro, às margens do rio Paraibuna.
O local tinha importância estratégica na colônia.
Para impedir a entrada de pessoas não autorizadas pelo governo português na região das minas, a segurança foi reforçada no trecho.
Tropas ficavam de prontidão e patrulhavam o entorno da alfândega.
No casarão, os viajantes eram parados e tinham as mercadorias pesadas e taxadas.
Era cobrado o Quinto do Ouro, um dos muitos impostos que a Coroa Portuguesa recebia pela exploração das riquezas do Brasil.
No posto ficavam os fiscais e guardas responsáveis por prender aqueles que tentavam burlar as leis.
A pesagem era feita no primeiro piso do prédio.
Hoje, o local está cheio de entulho e há poucos vestígios do passado original.
O piso da época da colônia foi redescoberto por arquiologos há 50 centímetros da superfície.
Com o passar dos anos, foram feitas reformas e as origens quase se perderam.

No segundo andar, a situação é pior.
Lá ficava o alojamento dos guardas e dos funcionários do Registro do Paraibuna.
Com o fechamento do posto fiscal, o local foi usado como hotel, bordel e até como galinheiro.
O piso original de madeira foi coberto com cimento.
A medida foi tomada para evitar que a sujeira das aves caísse pelas frestas.
O piso está muito deteriorado e desabando em vários pontos.

Acompanhamos algumas autoridades no dia em que se comemorou os 300 anos do Caminho Novo.
O historiador Nireu Cavalcanti, Doutor em Arquitetura Colonial e Doutor em História, veio de Niterói para acompanhar as solenidades.
Ele exaltou a importância arquitetônica da construção e a necessidade de se restaurar as características originais.
O prédio passou por várias intervenções, teve o telhado mudado, a estrutura das portas refeita e por aí vai...

O historiador lembrou um fato curioso.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, Mártir da Inconfidência Mineira, foi responsável pela segurança na alfândega durante um bom tempo.
Ele comandava uma das tropas que faziam as rondas na divisa das capitanias.
Por isso, alguns pesquisadores alegam que os ideais de Liberdade teriam surgido às margens do Paraibuna, nas patrulhas de Tiradentes.

O Luiz Homem Faria Filho, Presidente da Associação Cultural Portal do Caminho Novo da Estrada Real, disse que a associação está responsável pelo prédio, que hoje pertence à prefeitura de Simão Pereira.
O desafio dele é conseguir recursos para a restauração, avaliada em R$ 4 milhões.

O Luiz tem o apoio do representante do MEC, Ministério da Educação, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Cícero Mauro Rodrigues explicou que a idéia é transformar o prédio, depois de restaurado, num Museu do Caminho Novo.
O local seria destinado à preservação da história e também a pesquisas.
Um acervo vasto sobre as Estradas Reais e o Caminho Novo ficaria à disposição de pesquisadores e estudantes, cumprindo um papel educacional.

Já o chefe da Representação Regional do MINC, Ministério da Cultura, anunciou uma boa notícia que pode ajudar na busca por recursos para a recuperação do Registro do Paraibuna.
Já está confirmado: todos os trechos da Estrada Real que restaram vão ser transformados em Patrimônio da Humanidade.
A decisão aumenta o valor histórico e turístico das vias usadas no período do Império e deve atrair.