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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Chuva de granizo causa estragos em Carandaí

Por Robson Rocha

Hoje, fomos até Carandaí fazer uma matéria sobre a chuva de granizo da última segunda-feira. Procuramos algo diferente para fazer, pois uma equipe esteve na cidade ontem.
Logo na saída de Juiz de Fora, ligamos para a cidade, para alguns conhecidos, a fim de saber a real situação e depois para ver se conseguíamos sobrevoar a cidade, pois o comandante dos bombeiros estava lá com o helicóptero.
O Ten. Cel. Rodney de Magalhães, comandante dos bombeiros em Juiz de Fora, tentou nos avisar para não demorarmos, pois seria possível o sobrevôo.

Porém, o tempo começou a fechar e eles tiveram que retornar a Belo Horizonte com a aeronave.
Chegamos na cidade e parece que Carandaí foi devastada por uma guerra, casas sem telhado, cacos de telha esparramados e pessoas com um ar assustado, de quem não entende o que aconteceu.
Mas, como o combinado, fomos direto para a Prefeitura. Chegando lá, a Michele foi procurar as autoridades, que estavam em reunião e não puderam atender a nossa equipe.

O Ten. Cel Rodney mostrou a gentileza de sempre e nos explicou o motivo da aeronave ter ido embora.
Ele nos mostrou várias fotos que tirou sobrevoando a cidade e nos cedeu algumas para colocar no blog.
É difícil imaginar como foi essa chuva que conseguiu tão rapidamente destruir parte da cidade.

Para os moradores, foram momentos de terror e segundo eles próprios parecia que o mundo estava acabando.
A cidade ficou sem energia elétrica e 40% do município estão sem abastecimento de água.
A tormenta não discriminou ninguém e atingiu áreas de classe média da cidade, destelhando várias casas.

Mas, foi na área mais carente que o estrago foi maior.
Casas sem laje, apenas com telhado e forro não resistiram.
Sobraram apenas as paredes de pé.
E aí, olhando essa senhora, o quê dizer?
O que consola é que ela tem fé e talvez as imagens na parede ajudem-na a superar o susto e as perdas.

Voltando às ruas, muita gente perdeu o seu sonho de consumo, que era de ter um carro.
O automóvel foi destruído.
Mas, olhando rapidamente a foto, não parece que esse carro foi metralhado?
Vidro estilhaçado, lataria danificada e nem os faróis escaparam.
Hoje, vários veículos rodavam sem vidros em Carandaí, muitos deles com plásticos protegendo para não entrar água.

Outra cena comum era as pessoas tentando separar o que sobrou de telhas entre os cacos deixados pelo granizo.
Pode parecer pouco, mas eles têm que aproveitar ao máximo o que sobrou, pois são pessoas carentes e não terão dinheiro para comprar tudo que perderam.
A prefeitura de Carandaí comprou 11 mil telhas, mas todos sabem que não é suficiente. Um levantamento parcial revelou a necessidade de pelo menos 40 mil telhas para cobrir todos os locais destelhados.

O que sobrou das telhas parece uma peneira.
Aí, olhando para baixo, você vê o guarda-roupas e pensa: será que ele vai resistir depois de tanta água caindo nele?
E a cama?
O colchão todo encharcado, roupas, documentos e pertences molhados.
A maioria das pessoas está só com a roupa do corpo e o pior que a cidade é muito fria.
É aí que entra a importância da solidariedade de quem envia donativos.

As pessoas tentam arrumar suas coisas.
Porém, elas estão sem energia elétrica e por isso também estão sem água.
Pois, sem a eletricidade, as bombas da Copasa estão paradas e a água não sai dos reservatórios.
Além disso, mesmo que a água chegasse às casas, ela não chegaria até as caixas e nem as torneiras, porque a chuva quebrou todos os canos.

Para minimizar o problema, a Copasa enviou caminhões pipa para levar água até as comunidades. Isso para que as pessoas tenham ao menos água para beber, fazer comida e tentar limpar suas casas.
A cidade está lotada de técnicos da Copasa, ao todo 18 de Carandaí e da região trabalham na recuperação da cidade. Conversei com alguns e eles estão sensibilizados com a situação da população, principalmente das pessoas mais carentes.
A Cemig também trabalha para normalizar a distribuição de energia elétrica.

O Ten. Cel Rodney e o Cabo Rangel nos levaram até o bairro Santa Cecília, uma das áreas mais carentes de Carandaí e uma das mais afetadas pelo temporal.
Ali, muita gente trabalhando. Enquanto funcionários e voluntários limpavam as ruas, homens do 4º Batalhão do Corpo de Bombeiros orientavam e cadastravam os moradores que tiveram imóveis danificados pela chuva.

Alguns moradores tentavam recuperar o telhado e outros já tinham coberto a casa com lonas plásticas.
Em outras, as pessoas refaziam a instalação hidráulica colocando novos canos até a caixa d’água ou remendando o que sobrou.
Ali os moradores nos explicaram como se protegeram do granizo.
Segundo eles, as casas são cobertas por telhas, mas os banheiros possuem laje para colocar a caixa d’água e foi para o banheiro que os moradores correram para se proteger.

Depois de gravar com moradores, fomos até um local onde são distribuídos cobertores, roupas, etc.
Tudo doado por pessoas que se sensibilizaram com o drama das famílias.
Vimos uma camionete parada e vários donativos sendo levados para dentro do centro comunitário.
A Michele conversou com uma garota que contou que elas trabalham em uma loja e decidiram arrecadar donativos para os desabrigados.
Elas não quiseram gravar entrevista, mas é isso que faz a diferença em uma hora como essa.
Não estavam fazendo aquilo para aparecer, elas fizeram de coração e isso te dá um nó na garganta.

Do lado de dentro, as pessoas se organizavam para pegar principalmente roupas para crianças e cobertores, pois como já disse, lá estava muito frio.
Mais uma vez, temos que dar parabéns aos voluntários, que trabalhavam sem parar, separando roupas por tamanho, colchões, alimentos e tudo tipo de donativo para facilitar e agilizar a entrega.

Dali fomos até o QG de entregas de donativos.
O local seria apenas para receber as doações, mas a coisa estava meio confusa por lá.
A Michele conversou com um coordenador que nos passou que receberam muitos alimentos e que agora estavam precisando de cobertores, colchões, móveis e telhas.
No local, também era grande o número de voluntários.

Faltava gravar o abrigo onde as famílias estão.
Funcionários da prefeitura nos disseram que algumas famílias estavam na Igreja Prebisteriana, perto de onde estávamos.
No local, várias famílias estão morando temporariamente.
Encontramos a Maria Aparecida que está lá com os 4 filhos e o marido, que é doente.
Ela nos falou calmamente que perdeu tudo e tem que esperar e ver o que vai acontecer.

Antes de sair, tivemos que tirar uma foto com esse garoto.
Como ele nos viu tirando algumas fotos para o blog, ele pediu se podia tirar uma foto com a câmera e com o bombeiro, no caso o Rodney, e não desistiu enquanto não conseguiu.
Eu sai na foto pois alguém tinha que segurar o equipamento, senão o molequinho não ia agüentar.

Mas, voltando à tragédia, o hospital da cidade foi desativado. Os pacientes foram transferidos para hospitais de Conselheiro Lafaiete e Barbacena. Apenas atendimentos de urgência e emergência estão sendo feitos, mesmo assim, precariamente
Olhando de cima, ele ficou todo destelhado e na segunda-feira 200 feridos leves e 30 em situação pior foram encaminhados para lá.
O pronto-socorro ficou lotado e até o prefeito da cidade, que é médico, foi para lá atender pessoas machucadas.

Mas, se do lado de fora a imagem assusta, do lado de dentro parece um hospital fantasma ou um local atingido por um furacão.
Logo na entrada do pronto-socorro, a água brota da laje e os profissionais pouco podem fazer por pacientes que chegam procurando tratamento.

Só nessa quarta-feira, cinco pessoas foram levadas para lá com ferimentos depois de ter caído do telhado, tentando arrumar as casas.
Os médicos e as autoridades até pediram que ninguém tentasse ajeitar nada sozinho, mas o desespero...
Fomos entrando no hospital e encontramos os corredores escuros.

No prédio tem energia elétrica, mas não é possível acender as lâmpadas pois a água pinga das luminárias.
Qualquer lâmpada que seja acesa pode gerar um curto-circuito e provocar um incêndio.
Mas, andando pelos corredores é possível encontrar dezenas de baldes espalhados recolhendo água das goteiras.

Quase todas as salas e os quartos estão alagados.
Em um desses quartos estava uma paciente em estado grave, que teve que ser retirada às pressas e levada para outro hospital em Barbacena.
Isso, sem falar em equipamentos que foram danificados pela água e farão falta aos moradores da região.

O que sobrou, ou o que os funcionários conseguiram salvar, está amontoado em poucos quartos onde a água não entrou.
Os funcionários estão preocupados, sem saber se o hospital vai ser recuperado e quando.
Pois o hospital é de porte médio e atende a um grande numero de pessoas.

O prefeito Moacyr Tostes de Oliveira, que já conheço há uns 10 anos, conversou com nossa equipe no início da noite.
Ele explicou que decretou Estado de Emergência, para agilizar as providências de ajuda por parte dos governos estadual e federal.
O pedido já foi enviado e está sendo avaliado em Belo Horizonte.

O Ten. Cel. Alexandre Lucas, Secretário Executivo de Defesa Civil em Minas Gerais, explicou que representantes da Defesa Civil Nacional estão à caminho de Carandaí para acompanhar a situação de perto e tentar acelerar os processos burocráticos e o envio de relatórios para que os governos federal e estadual autorizem o saque do FGTS pelas famílias prejudicadas pelo maior temporal de granizo já registrado em Minas.

Voltamos para Juiz de Fora e deixamos o Ten Cel Rodney em uma reunião para definir como serão os trabalhos amanhã.
Eles vão definir principalmente, como será a entrega de telhas, pois o maior problema é a logística.
Com isso, não deu nem tempo de agradecer ao Rodney e ao Rangel que apesar de todo trabalho quem eles estão tendo em Carandaí, nos deram todo o apoio para que conseguíssemos gravar a matéria em vários pontos da cidade e franqueando nossa entrada nos locais.