Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Rodovias interditadas em Minas - BR 267 em estado de emergência

Por Michele Pacheco

Nossa primeira pauta hoje foi retornar à BR 267 e saber do DNIT, Departamento Nacional de Infra-estrutura em Transporte, que providências foram tomadas para recuperar a rodovia que é tão importante na Zona da Mata Mineira.
No local, a situação está muito pior do que encontramos há uma semana.

Desde o último dia quatro, quando a estrada foi interditada, as pistas já afundaram 70cm.
E o pior é que, além de ceder, o asfalto está escorregando em direção ao precipício.
Os técnicos explicaram que a estrada foi construída numa área ruim.
A BR 267, no trecho que cedeu, foi feita sobre um maciço rochoso.
Algumas pedras foram cortadas e o nível foi completado com aterro.

E foi justamente a área de aterro que afundou.
O que começou como um desnível perigoso no asfalto, virou um degrau alto.
O trânsito não pode ser liberado, pois os estudos no local estão sendo feitos.
Até agora, todos os indícios são de perigo iminente de desmoronamento completo.
Sem as chuvas fortes das últimas semanas, era esperado que as rachaduras ficassem estáveis. Mas, isso não ocorreu.

A chuva é apontada como uma das causas do problema.
Com os temporais do fim de 2008, as nascentes que surgem debaixo das pedras acima da estrada ficaram sobrecarregadas.
A água começou a infiltrar por baixo da terra com mais força e foi arrastando o aterro pelo caminho.
Só restou a parte de pedra.
Mesmo assim, com a movimentação de terra, a encosta rochosa está soltando pedaços que podem matar uma pessoa que esteja passando.

O mais grave é a falta de consciência de algumas pessoas.
Como o DNIT providenciou barreiras grandes com terra, impedindo a passagem de carros e caminhões, os motoqueiros são os únicos que continuam se arriscando.
As pistas podem desmoronar de uma hora para a outra.
Aí, vai ser um tumulto para descobrir responsabilidades.
A rodovia tem placas indicando a interdição e as barreiras.
Mesmo assim, a todo momento motoristas param diante da montanha de terra com ar de quem não sabia que não dava para passar e são obrigados a retornar.

O Supervisor da Unidade do DNIT em Leopoldina, José Paulo Pinto, acredita que ainda nesta semana seja decretado Estado de Emergência na BR 267.
É o passo mais importante para liberar recursos e começar as obras de recuperação.
Um levantamento topográfico foi feito e o resultado foi levado para Belo Horizonte hoje.
O objetivo é fazer o cálculo de custos e dar início ao processo de recuperação.

Conversamos muito debaixo do sol forte.
O José Paulo lembrou que, no passado, as estradas eram feitas seguindo os caminhos já existentes.
O homem do campo transformava as trilhas de mulas e de outros animais em estradinhas maiores, para passar com as carroças.
Essas estradinhas iam aumentando para dar passagem ao caminhão do leite.
Até que algum político conseguia dinheiro para autorizar o asfaltamento da tal estradinha.
E, com o tempo, ela virava uma via importante, com trânsito pesado.

Só que ninguém levava em conta que os animais buscam os caminhos mais fáceis.
Eles não conseguem cavar na pedra e abrir um túnel.
Por isso, fazem uma volta enorme.
Com os equipamentos desenvolvidos pelo homem, ele é capaz de alterar os cursos das rodovias mais antigas.
Transformar curvas em retas, construir pontes para diminuir distâncias, detonar pedras para alargar estradas.
Parece que esse último recurso deve ser usado em Argirita.

“Um dos nosso projetos prevê a detonação de parte dessas pedras. A estrada está deslizando e seria muito perigoso trabalhar com cortes verticais na recuperação dela.
Os operários que estiverem trabalhando na base podem ser soterrados pela terra deslocada com o trabalho na parte de cima.
Como vamos ter que cortar parte das pedras para aumentar a área de segurança, deveríamos aproveitar e melhorar o traçado da rodovia” explicou o supervisor do DNIT.

O melhor atalho para quem segue de Juiz de Fora para Leopoldina continua sendo por Coronel Pacheco – Goianá - Rio Novo – Guarani - Astolfo Dutra - Dona Euzébia -Cataguases. Como gastamos quase 360 km da última vez que fomos cobrir o problema na BR 267, pedimos à produção para marcar com o José Paulo na estrada.
Isso agilizaria o nosso retorno, já que tínhamos outra pauta no sentido contrário.
Assim, fomos por Bicas, paramos o carro na primeira barreira montada e seguimos à pé.

Foi uma boa economia de tempo e de dinheiro.
Mas, um gasto e tanto para os meus pobres dedinhos.
É que hoje acordei com vontade de me arrumar um pouquinho mais.
Nada de botas, tão úteis nos dias de chuva.
Coloquei um sapato de salto, mais elegante e...desconfortável.
Sabe aqueles com o bico tão fino, que parece não ter fim e espreme os dedos desde a base?

Já estava a ponto de reclamar, quando vi a canaleta de suor que descia pelo pescoço do Robson.
Achei melhor ficar calada do que correr o risco de ser arremessada encosta abaixo.
A camisa dele estava ensopada e meu pobre maridinho já estava começando a bufar.
E ainda dizem que vida de repórter é um luxo só!
A câmera pesa mais de dez quilos. Mas, num sol daqueles, ela parece pesar o dobro!

No caminho de volta, vieram os delírios de quem se desmanchava em suor.
Primeiro, notamos ao passar na beira do barranco que havia uma cachoeira linda embaixo, que nunca reparamos passando de carro.
Depois, notamos que as pedras vivem molhadas e a água fica empossada na margem da rodovia. Isso nos lembrou das explicações do José Paulo sobre as causas do movimento de terra que abriu rachaduras na pista.

Para impedir que a água passe por cima da rodovia e acabe levando parte dela, os técnicos abriram canaletas no asfalto.
Assim, a água que sai do lençol sob o maciço escorre para o abismo.
Com a rodovia interditada, a natureza se esbaldou.
Passamos por uma fila indiana de formigas cruzando a rodovia calmamente, sem perigo de ser esmagada pelos veículos.
Mais à frente, as taturanas se aventuravam num passeio que seria suicida há uma semana.

Por fim, voltamos a Juiz de Fora para deixar o material e seguir para a próxima pauta.
A expectativa dos funcionários do DNIT é de que em dois meses a estrada seja liberada. Enquanto isso, os caminhoneiros que usavam a BR 267 para chegar a Leopoldina e como ligação entre a Zona da Mata e os estados do Nordeste, vão ter que desviar passando por Três Rios, no estado do Rio, seguindo por Além Paraíba e passando por Leopoldina.
São 180 km a mais entre Juiz de Fora e Leopoldina.
Daí, dá para fazer as contas do quanto mais vão gastar no restante do trajeto.