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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Invasão de terra em Juiz de Fora

Por Robson Rocha

Ontem estávamos gravando na Zona Norte de Juiz de Fora, quando uma fonte nos avisou que estaria havendo tiros no bairro Milho Branco.
Fomos até lá, mas a PM não encontrou nada.
Na volta, vimos muitas pessoas em um morro.
Chegamos mais perto e notamos que elas estavam limpando o terreno que pertence ao município e montando barracas.
Como estávamos sem pauta, decidimos ir até o local e ver o que realmente estava acontecendo.

Nosso receio era como seríamos recebidos.
Nem sempre a imprensa é bem vinda em determinados momentos.
Porém, chegando ao local, que fica no bairro Amazônia, as pessoas nos receberam com desconfiança, mas fomos bem tratados.
Logo de cara, dava pra ver que o terreno já havia sido dividido em lotes, que eram demarcados por arame, fitas e até pedaços de tecido.

Os barracos começavam a ser erguidos e os invasores usavam pedaços de madeira, resto de móveis, plástico e lona para dar acabamento ao barraco.
E, outra coisa que chamou a atenção, foi a presença feminina, a maioria dos sem-casa no local era de mulheres e também muitas crianças.
Algumas das mulheres estavam grávidas, como uma adolescente de 16 anos.
Segundo ela, não pode mais morar com a família e a invasão é a única forma de conseguir um lugar para viver.
Sinceramente, não me convenci com a entrevista que ela gravou e quando toquei no detalhe da gravidez, ela desconversou e de uma forma infantil disse que tem alergia a camisinha.

Os líderes da invasão dizem que estão tentando uma casa junto à Emcasa, empresa da prefeitura de Juiz de Fora, responsável pela política habitacional da cidade, mas não conseguem, por isso resolveram invadir o terreno.
Eles têm noção de que estão cometendo um crime, mas acham que só assim vão conseguir um espaço para construir suas casas.

A Emcasa vai se reunir com os sem-casa amanhã para tentar uma saída e cadastrar os invasores para que eles façam parte do projeto de financiamento da casa própria.
O problema é que parte deles nem renda tem.
Isso fora que, desde a operação “João de barro” da Polícia Federal, as obras para a construção de casas populares da Emcasa, no bairro Barreira do Triunfo, estão paradas por suspeita de desvio de verbas.
O loteamento Novo Triunfo II levaria 18 meses para ficar pronto, atendendo 300 famílias que vivia em áreas de risco.
Um outro detalhe é que Juiz de Fora tem um déficit de quase 20mil moradias. Sendo 9 mil para famílias com um ganho de até 3 salários mínimos por mês.

Mas, o grande problema das invasões, é que juntamente com pessoas que realmente precisam, vêm os espertalhões, que demarcam o espaço e depois vendem para outras pessoas.
Essa não é a primeira invasão que gravamos.
Isso aconteceu na invasão no Jardim Cachoeira e nas invasões no bairro Milho Branco, onde pessoas carentes que precisavam realmente se misturavam com quem não tinha necessidade do terreno, mas queria levar vantagem.

Mas, quem invade o terreno no bairro Amazônia, quer ter a mesma chance de quem invadiu o Jardim Cachoeira e no Milho Branco, pois eles tiveram a invasão legalizada. Mas, segundo o presidente da Emcasa, a prefeitura não vai legalizar essa invasão.
E, aí eles terão que entrar na fila, pois os moradores da invasão da Br040 estão aguardando o retorno das obras para que as casas no bairro Barreira do Triunfo sejam entregues.

Agora, é aguardar o resultado da reunião de amanhã entre invasores e a Emcasa.
O difícil é explicar a essas sorridentes crianças que apesar delas ouvirem sobre roubalheira, desvio de verbas e falcatruas, que é errado invadir terreno do município e que graças à roubalheira a prefeitura não tem dinheiro e elas vão continuar sem uma casa.