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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Cobertura inesquecível

Por Michele Pacheco

Todo jornalista tem lembranças do trabalho mais marcante que já fez. Um dos meus preferidos foi a cobertura das trombas d´água no Sul de Minas no início de 2000. Uma seqüência de tempestades violentas deixou inúmeras cidades inundadas.


Na época, eu e o Robson trabalhávamos na sucursal da TV Alterosa em Juiz de Fora (a sucursal virou emissora dois meses depois). Lembro que passamos o dia em São Brás do Suaçuí, perto de Congonhas, fazendo uma reportagem produzida para o Alterosa Esporte com o Lincoln, que jogava no Atlético Mineiro. Depois de um dia numa fazenda, sob um sol de rachar, chegamos em Juiz de Fora no fim da tarde, doidos por um banho e descanso. No meio do caminho, veio a ligação de Belo Horizonte. Era a Cristine Cruz, produtora do interior (hoje na Record Minas), avisando que uma tempestade tinha inundado Aiuruoca e que a equipe tinha que seguir para lá o mais rápido possível. Fomos direto.
Chegamos na cidade por volta de sete da noite. O carro teve que ser abandonado na entrada da cidade, pois as ruas estavam alagadas. O centro fica no alto e o córrego passa por várias ruas mais baixas. Resultado, atravessamos a inundação, rodamos todo o centro à pé, fomos às casas e empresas alagadas, ouvimos moradores. Fomos para o hotel por volta de meia-noite.
Às cinco da manhã, estávamos partindo para Caxambu. Aproveitamos que a cidade é colada em Aiuruoca para pegar o rescaldo dos estragos, aliviando o serviço da equipe de Varginha. Ficamos sabendo que São Lourenço estava isolada e que a equipe do Sul não tinha conseguido entrar. Já que estávamos perto, resolvemos tentar.

Na entrada de São Lourenço, a ponte estava interditada, com risco de desabamento. Achamos que nosso esforço tinha ido por água abaixo, mas vimos um barco e pedimos carona. Em dez minutos, gravamos a parte alagada mais próxima e os moradores nos telhados das casas. O único susto foi quando um monte de galhos agarrou na hélice do barco e nós ficamos à deriva na correnteza forte, correndo o risco de bater numa casa no meio do caminho ou na rede de alta tensão que ficou próxima da água. Imaginem o desespero do Robson, que não sabe nadar e tem 1,90m, espremido no fundo do barco pequeno para não esbarrar nos fios. Tudo deu certo e voltamos para a estrada.
Tínhamos que estar em Juiz de Fora até as dez da manhã para gerar o material para Belo Horizonte pela Embratel. Foi um sufoco só, mas valeu a pena. Furamos todas as outras emissoras com as imagens inéditas. Naquele dia, fomos a única equipe de jornalismo a conseguir imagens de dentro de São Lourenço. Missão cumprida, só queríamos descansar. Mas, São Pedro tinha outros planos e mandou mais trombas d'água para o Sul. Resultado, fomos deslocados sem previsão para voltar para casa. Mas, isso é outra história...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Pequenos amigos

Por Robson Rocha

Algumas matérias que vamos fazer nos surpreendem. Certa vez, nos passaram uma pauta em Alto Rio Doce, no Campo das Vertentes. Era o caso de uma família, tema de uma pesquisa da USP. Eles tinham problemas graves de crescimento, precisavam de hormônios e a universidade não estava enviando nenhum medicamento, pois eles não tinham como guardá-los, já que não tinham energia elétrica e os remédios precisavam ficar em geladeira.


















Ajeitamos a bagagem e saímos de Juiz de Fora em direção à Barbacena. Até aí tudo bem, cerca de 100km de estrada asfaltada. O pior seriam os pouco mais de 50km de estrada de chão de Barbacena a Alto Rio Doce.
Céu azul, sol quente, tempo bom. Bom? Bom, menos para a Michele e para mim que estávamos em uma Parati 93, sem ar condicionado. Nossas condições: passa um carro, fecha o vidro correndo. Não queríamos nos intoxicar e, também, porque a Michele não ficaria bem gravando uma passagem loira-poeira. A poeira baixou, abre o vidro correndo para não desidratar. E tanta gente paga para fazer sauna seca!

Enfim chegamos em Alto Rio Doce. Esqueci de contar um detalhe da pauta: teríamos que procurar a família, pois eles não tinham telefone e ninguém conseguiu entrar em contato. Na cidade tivemos a triste notícia: eles moravam na área rural entre Alto Rio Doce e Cipotânea.





















De volta à poeira, abre porteira, fecha porteira, pede informação. Falando em informação, na área rural é difícil encontrar alguém para pedir uma referência. “Depois da encruzilhada você vai pra...” foi a resposta que mais ouvimos. Erramos o caminho mais de não sei quantas vezes. Fomos parar em currais, estradas sem saída...

Enfim, chegamos. Era uma casinha perdida num vale. Chamamos e ninguém nos atendeu. Dos fundos da casa vinha um cheiro maravilhoso de torresmo. Fomos entrando pelo quintal e entorno de um tacho de cobre, um grupo trabalhava. Eles tinham matado um porco e, enquanto uma mexia o torresmo no tacho, outros picavam pedaços de carne. Eles simplesmente nos ignoraram. Depois descobrimos que alguns amigos da imprensa, com a arrogância que é peculiar a alguns profissionais da nossa área, tinham tratado mal a família, exigindo algumas coisas na hora da gravação. Mas isso não vem ao caso. Conseguimos quebrar o gelo e enquanto a Michele conversava com eles pegando dados para a matéria, fui fazendo imagens.
Há certa altura, ouvimos alguém tossindo, parecia um bebê, aí saiu da casa uma mulher, de 90cm de altura, que mal batia na minha cintura, era ela que estava tossindo.

Nesse bate papo, cometemos uma pequena gafe, estávamos tratando todos como mulheres. A voz deles era uma mistura de criança com mulher. Só caiu a ficha, quando um deles nos alertou: nós dois somos homens.
Eles nos ofereceram o que tinham de melhor: café, angu e carne. Dá para imaginar a cena? A Michele de blaizer, sentada em um barranquinho com uma caneca de café, um prato de angu e bife de fígado na mão.
A casa por dentro parecia uma casinha de boneca, ou a casa dos 7 anões.
Saímos deixando mais um grupo de amigos. Só voltamos lá mais uma vez e hoje não sabemos como estão.
Guardo comigo o carinho deles nos abraçando. Só isso valeu toda a dificuldade da viagem.

Os amigos que fazemos no caminho é o que mais nos gratifica nessa profissão.



segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Reconhecimento

Por Michele Pacheco

Todo mundo quer reconhecimento! Ele é o combustível que nos mantém funcionando. Quem está na profissão sabe que nem sempre somos reconhecidos dentro do nosso ambiente de trabalho. É comum recebermos mais respeito por parte da concorrência do que dos colegas de sala. Trabalhamos numa área em que a vaidade dita regras. Infelizmente, algumas pessoas dão mais valor a ela do que ao aprendizado constante.


Mas, o melhor reconhecimento que podemos receber é o carinho do público e das pessoas com quem lidamos nas reportagens. Estou há dez anos trabalhando em TV e ainda me emociono quando param nossa equipe na rua e pedem autógrafo. Num mundo tão corrido e competitivo, alguém encontrar tempo para nos dizer palavras carinhosas e comentar sobre uma matéria ou outra é uma recompensa e tanto. Sempre me pergunto se estou conseguindo passar a notícia da forma correta, se todos vão entender o assunto, se devo simplificar mais a linguagem rebuscada de certas áreas, etc. Saber que as pessoas se lembram do que viram na TV, com tantos outros telejornais, é motivo de satisfação sempre.


Acho que somos apenas um meio para levar a notícia até o telespectador. Por isso, quando recebemos homenagens a sensação é de dever cumprido. A Polícia Militar e os Bombeiros Militares sempre foram muito generosos comigo e com o Robson. Guardamos com carinho todas as homenagens que já recebemos. Ao olhar para elas, vemos mais do que certificados e troféus, vemos presentes de amigos que fizemos ao longo da nossa carreira.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A matéria do dia

Por Robson Rocha

Muitas vezes passamos o dia fazendo materiais fracos, sem nenhuma importância como notícia. E no final do expediente, quando faltam cinco minutos para você ir para casa descansar o pobre esqueleto, pois todo mundo acha que ficar com uma câmera no ombro não cansa, chega uma informação quente! É a matéria pra abrir o jornal.

A produtora me aborda no corredor do 2º andar da emissora com um ar apavorado e um pequeno pedaço de papel rasgado, perguntando onde estava a Michele. Nem esperou minha resposta e com rapidez me entregou o papel que li rapidamente -“Rua Francisco Sobral perto do antigo campo do social entre Santa Luzia e Santa Cecília” – Aí ela me disse o motivo da pressa – “Olha, uma mulher foi encontrada morta e dividida ao meio nesse endereço” – Desço a escada, encontro a Michele, passo-lhe a informação e o pedaço de papel. Entramos no carro. Nessa hora, até esquecemos que nosso horário de trabalho já acabou. Ficamos irritados com o trânsito, gastamos 10 minutos para andar 100 metros da ruazinha da TV e entrar na Avenida Rio Branco (a principal Avenida de Juiz de Fora). Seguimos com o pensamento em como abordar o fato e como seria a cena. É sempre complicado gravar em locais de crimes bárbaros, temos que fazer nosso trabalho sem “agredir” os familiares. Mas nossa preocupação maior era o tempo, estávamos demorando muito para chegar ao local.

Como a referência da rua era muito vaga, pois não sabíamos em qual dos bairros ficava a rua, apostamos indo por Santa Luzia e parávamos em todo cruzamento para pedir informações de onde era a tal rua. Enfim, encontramos a rua, andamos uns 300 metros e avistamos um grupo de pessoas, mas nem sinal de polícia e bombeiros. Seguimos, só podia ser ali o local da matéria do dia.
Quando paramos a Parati da TV ao lado do grupo (cinco mulheres, um homem e uma menininha). Eles nos olharam e começaram a rir sem parar – “A gente sabia que a imprensa ia vir” – e não paravam de rir. Perguntamos se eles sabiam de algum movimento de policiais na rua. Eles disseram que sim, mas já tinham ido embora. E explicaram o motivo do riso: o corpo de uma mulher partida ao meio que todo mundo estava procurando, eram na realidade dois cães mortos, dentro de sacos plásticos, e enterrados em um barranco. Deixamos o local ao som das risadas dos moradores. E lá se foi a nossa matéria do dia.

Fala a verdade!

Por Michele Pacheco



Adorei a peça de teatro montada por bombeiros de Belo Horizonte. Com um tom leve e engraçado, eles deram o recado sobre um assunto sério: a prevenção. Os dez bombeiros-atores me surpreenderam pela atuação. A trama se passa num pelotão do interior. Durante a vistoria de um oficial superior, o grupo atrapalhado apronta de tudo. Depois de me contorcer de rir, cheguei à conclusão de que foi a palestra mais divertida que já acompanhei. Eles encontraram uma forma simples de passar alertas que são dados pelas equipes de prevenção do Corpo de Bombeiros, como cuidados em cachoeiras, estratégias para tornar a casa mais segura e atitudes que ajudam a evitar incêndios.



A peça é interativa e eu fui a “convidada” da vez em Juiz de Fora. Apesar da profissão que escolhi, sou tímida, do tipo que se esconde da câmera em casamentos e festas. Trabalhando, eu me sinto à vontade, mas daí a subir num palco no meio de uma peça... Mas, lá fui eu “interpretar” uma gestante em trabalho de parto no meio de um incêndio. Nos batidores, entre uma correria e outra, os atores me disseram para ficar tranqüila, pois eu só tinha que gritar, e muito! Fácil? Que nada. Quem disse que eu conseguia parar de rir para gritar?! Acabei dublada! O título da peça é “Fala a verdade – você não vai morrer de rir porque o bombeiro não deixa”. O grupo viaja pelo estado de Minas Gerais fazendo as apresentações. Recomendo a todos que queiram se divertir e aprender ao mesmo tempo. Parabéns a estes bombeiros que inovaram com talento e criatividade. E, eles ainda fazem um trabalho solidário. Por onde passam, o ingresso é um quilo de alimento não perecível. O material arrecadado é doado a instituições de caridade do município onde foi recolhido. Quem quiser mais informações ou agendar uma apresentação, é só entrar no site dos bombeiros http://www.bombeiros.mg.gov.br/ e procurar o ícone do Pelotão 193.

Aproveitando oportunidades

Por Michele Pacheco & Robson Rocha

Exemplos de que dá certo tentar a sorte cobrindo férias ou lutar por vagas de estágio.



Michele Pacheco
Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (92/95), estreei em televisão cobrindo férias na TV Alterosa. Na época, 1997, a emissora tinha apenas uma sucursal na Zona da Mata e uma equipe de três pessoas: Stela Amorim – repórter, Robson Rocha – repórter cinematográfico e Leon Pansard – executivo de contas. Fiz as férias da Stela em julho e foi uma experiência incrível. Comecei na TV tendo orientações de grandes profissionais, como Benny Cohen, Antônio Cotta, Madalena Fagundes, Rogério Corrêa e muitos outros.

Com matérias exibidas para todo o estado, consegui uma proposta de trabalho em Uberlândia. Estava quase assinando o contrato, quando a Stela teve problemas pessoais e pediu demissão. Fui contratada e visto a camisa até hoje.
Discordo quando dizem que o mercado de jornalismo é fechado, quase impossível de entrar. Tem espaço para todo mundo, basta investir no próprio potencial, acreditar no que está fazendo e se manter antenado a tudo que acontece no setor. Um profissional desinformado e acomodado não sobrevive nem se destaca no jornalismo de hoje. Informação é ouro, seja para jornalistas formados, seja para estudantes de comunicação. Se não criarmos o hábito de buscar as notícias desde cedo, vamos engrossar a lista de profissionais medíocres que se pautam pelo que os outros já fizeram, que buscam em jornais e rádios as notícias que deveriam ter sido descobertas na véspera, que fazem todo ano a mesma coisa nas datas comemorativas. As chances estão aí, basta saber aproveitá-las.



Robson Rocha
Em 1988 estava terminando o curso de Eletro-técnica no CTU da Universidade Federal de Juiz de Fora, quando consegui a oportunidade de fazer um estágio na TV Globo Juiz de Fora. Meu pai ficou sabendo da vaga e me inscreveu por saber que eu gostava desse negócio de televisão. O estágio foi legal. Aprendi todas as etapas da parte operacional.
O interesse e a seriedade com que encarei a oportunidade compensaram a minha personalidade forte. Ralei muito, surgiu uma vaga e consegui ser contratado pelo setor de Engenharia como câmera de estúdio. No estúdio fazia Santa Missa em Seu Lar, MGTV 1 e 2, Globo Comunidade e muitos comerciais.

Um tempo depois me promoveram pra externa. Quando o departamento de produção comercial acabou fiquei um tempo por conta do jornalismo, até 1996, quando passei para a TV Alterosa.

Não teria como agradecer a todos que me ajudaram e ajudam. Acho que tudo o que aprendi valeu a pena. Me ensinaram que operar uma câmera é mais do que apertar botões. O conhecimento técnico do equipamento é fundamental. Se a câmera dá pau, é importante saber avaliar o problema e passar informações precisas para o técnico, o que agiliza a solução. Mas como um chefe me disse uma vez, “se você não tiver sensibilidade, será simplesmente mais um”.
A televisão hoje não é a mesma coisa de 19 anos atrás, mas sempre falo com os estagiários que conheço que uma coisa não mudou: saber mais do que o cargo exige coloca o profissional alguns passos à frente dos colegas.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Notícias fora do ar

Por Michele Pacheco & Robson Rocha


Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

A idéia surgiu por incentivo do Eduardo Dutra Maia, Editor da TV Alterosa em Juiz de Fora. Ele é aluno de jornalismo na Universo e teve que criar um blog numa das disciplinas. A idéia partiu do jornalista e professor Michael Guedes, um dos profissionais mais competentes que já conhecemos. Ele queria que os estudantes se familiarizassem com as linguagens modernas. Achamos fabulosa a iniciativa e nos tornamos leitores assíduos do Radar de Notícias, Blog que o Dudu montou junto com a Bethânia Vasques (http://www.radardenoticias.blogspot.com/ ). Fazer comentários dos textos é tão divertido que decidimos seguir o exemplo.

Nas palestras que já fizemos em faculdades da região sentimos que os estudantes estão sempre curiosos sobre o dia-a-dia do jornalismo. As perguntas em geral giram em torno do nosso cotidiano, das vantagens e desvantagens da profissão. Então, decidimos criar um canal de comunicação com todos aqueles que gostam de jornalismo e querem trocar idéias sobre o assunto. Esperamos que gostem!