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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Acidentes em Minas - 70 feridos e 3 mortos em 17 horas

Por Michele Pacheco

Não me lembro de já ter feito um plantão de fim de ano tão marcado por sangue!
Hoje, fui a Muriaé registrar o acidente entre um ônibus e um caminhão.
O Robson está gripado desde que passou 16 horas trabalhando direto na última segunda-feira, enxarcado, enlameado e esfomeado.
Coitadinho, hoje ele nem conseguiu levantar da cama!
Viajei com o Gilberto Girardi, que já foi nosso colega de TV Alterosa.

O acidente foi por volta das 3h da madrugada. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o ônibus da Viação Entram saiu de Seabra, na Bahia, com destino a São Paulo.
O motorista perdeu o controle da direção depois de uma curva em Muriaé e bateu de frente num caminhão que vinha no sentido contrário.
Pelas fotos, dá para notar a destruição.
A força da batida foi tão grande que o caminhoneiro, de 49 anos, e a mulher dele, de 50, foram arremessados pelo párabrisa e morreram na hora.

Os dois veículos ficaram pendurados num barranco.
O resgate dos feridos foi complicado.
Estava escuro e chovendo.
Havia muitas crianças chorando e assustadas.
Os feridos foram levados para a Casa de Saúde e o hospital São Paulo.

O enfermeiro que acompanha os pacientes disse que a empresa só ficou sabendo que havia mais gente no coletivo do que constava na lista oficial ao chegar ao hospital.
Lá, foram atendidos 46 feridos, 10 em estado grave.
O número de passageiros que a empresa tinha era de 33.
A conclusão a que se chegou foi de que havia 22 crianças com menos de 6 anos.
Como elas não pagam passagem, não entram na lista.

Os feridos mais leves foram medicados nos dois hospitais e tiveram alta pela manhã.
Na hora do almoço, um ônibus enviado pela empresa levou todo mundo de volta para casa.
Restaram internados 9 feridos graves, entre eles, duas crianças.
Todos permanecem no Hospital São Paulo.
Entre os casos mais preocupantes estão fraturas expostas e lesões na coluna.
Não há previsão de alta para esses pacientes.

Os corpos do motorista e da mulher dele foram enterrados no meio da tarde. Enquanto cobríamos esse caso, fomos informados de outro acidente a 3 km de Muriaé.
Uma carreta de São Lourenço do Oeste-SC, carregada de uva, seguia de Petrolina-PE para São Paulo e tombou na BR-116, região do Bela Vista. O motorista teve ferimentos leves nas mãos, foi medicado e voltou ao local do acidente. Houve danos na cabine.
A carga não se espalhou na pista porque estava numa carroceria fechada, tipo container.

Voltamos a Juiz de Fora, gerei o material para Belo Horizonte e voltei para casa.
Achei que iria poder cuidar do meu adoentado marido, mas a noite estava mais sangrenta do que eu podia imaginar.
A Polícia Rodoviária Federal ligou para a TV, informando que um acidente grave tinha ocorrido na BR 040, entre Juiz de Fora e Ewbank da Câmara.

O Gilberto foi chamado de volta e fomos para a estrada.
A cena era assustadora.
Várias ambulâncias dos bombeiros foram enviadas para a rodovia.
No escuro, a gente via de longe as luzes piscando.
Não deu para ver o ônibus.
Ele caiu numa ribanceira de 20 metros de altura, em meio a bambus e árvores.

A doméstica Ilda Maria de Andrade seguia nos bancos da frente do ônibus da Transur que vinha de Barroso para Juiz de Fora.
Ela contou que conversava com outros passageiros, quando notaram os faróis altos de um carro vindo na contra-mão.
Ilda sentiu o impacto e diz que só notou os bambus passando rápido.
Houve gritos e algumas pessoas tentaram sair logo do ônibus.

No ônibus estavam 31 passageiros, o motorista e o cobrador.
Nove pessoas ficaram feridas.
Três em estado mais grave, entre elas o motorista.
Os bombeiros levaram duas horas para retirar todas as vítimas da ribanceira.
No escuro e com a vegetação molhada e escorregadia, o trabalho foi lento e perigoso.
O Tenente Douglas Freitas estava no comando da operação.

A caminhonete Pagero, com placa de Juiz de Fora, virou um amontoado de ferragens.
A frente foi destruída e retorcida até a parte traseira.
A motorista Valéria Delmonte, de 46 anos, estava sozinha e morreu presa às ferragens. O airbag não foi suficiente para proteger a mulher da violência do impacto de frente com o ônibus.

Os bombeiros trabalharam por quase duas horas usando o desencarcerador, equipamento com motor, usado para serrar a lataria e permitir a retirada de corpos e vítimas.
A Pagero é tão resistente que eles custaram para conseguir abrir uma brecha entre as ferragens para liberar o corpo.
Um pé-de-cabra foi usado de um lado, enquanto do outro os bombeiros trabalhavam serrando.

Por fim, foi necessário amarrar a frente com um cabo de aço e a traseira com uma corrente, ligando as pontas ao caminhão-tanque e a um carro de salvamento.
Eles puxaram em sentidos contrários.
Ainda assim, foi difícil conseguir espaço para liberar o corpo das ferragens.

Quando conseguiram um espaço suficiente, os bombeiros se dividiram.
Alguns ficaram em cima da lataria retorcida e outros ao lado.
Foi preciso um esforço grande para retirar o corpo da vítima e encaminhá-lo ao Instituto Médico Legal de Juiz de Fora.
Os feridos socorridos pelos bombeiros e pelo SAMU foram levados para o Hospital de Pronto Socorro.
Mas, segundo o Tenente Freitas, muita gente foi socorrida por motoristas que passavam pelo local na hora do acidente.

O Policial Rodoviário Federal, José Adriani, disse que a combinação de tempo ruim com imprudência tem sido mais uma vez a grande vilã nas estradas nos feriados de fim de ano.
Pouco antes do acidente entre a Pagero e o ônibus, ele tinha atendido outra batida a poucos quilômetros de distância.
Duas pessoas ficaram feridas.
A suspeita era de excesso de velocidade.

Ônibus e caminhão batem de frente na BR116 em Muriaé

Por Robson Rocha

Mais um acidente grave na madrugada de hoje na BR-116, desta vez no Km 709, em Muriaé.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal um ônibus da empresa Entran, placa CBR8347, de São Paulo e um caminhão de Muriaé, placa GVJ4358, bateram de frente, por volta de 3h e15 da madrugada de hoje.
Pelas primeiras informações, o ônibus teria saído de Seabra, no interior da Bahia tendo como destino a cidade de São Paulo.
Com o impacto, o ônibus foi jogado para fora da pista junto com o caminhão. Os 56 passageiros e o motorista ficaram feridos.

Já os ocupantes do caminhão, Antônio José da Cunha, 50 anos e sua esposa Rosa Maria Alves Cunha, 49 anos morreram.
Eles foram arremessados para fora do caminhão.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, a gravidade do acidente foi maior, pois nenhum dos passageiros do ônibus e nem os ocupantes do caminhão estariam usando o cinto de segurança.

Os 57 feridos foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros de Muriaé e levados para o Hospital São Paulo e Casa de Saúde Santa Lúcia.
Entre os 56 passageiros, havia 22 crianças.
A maioria dos feridos já foram liberados, mas 10 continuam internados em estado grave no hospital São Paulo.
Os veículos foram levados para o pátio da Polícia Rodoviária Federal em Muriaé (Tel: (32) 191) .

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Prefeito toma posse em Juiz de Fora e começa trabalho

Por Michele Pacheco

Ano novo, governo novo. 2009 começou com a posse do prefeito, do vice-prefeito e dos vereadores na maioria das cidades brasileiras.
Em Juiz de Fora, a solenidade de posse foi ontem no Cine Teatro Central.
Ele ficou lotado de autoridades, curiosos e parentes dos empossados.
O evento começou com os 19 vereadores eleitos para o mandato 2009/2012 entregando as declarações de bens e elegendo a nova Mesa Diretora. Bruno Siqueira, do PMDB, apresentou chapa única e foi eleito presidente na gestão 2009/2010 por 16 votos a 3.
A bancada do PT votou contra.

Depois de escolhido o novo presidente, ele comandou a sessão de posse do prefeito e do vice.
O prefeito Custódio Mattos (PSDB) e o vice Eduardo de Freitas entregaram as declarações de bens, leram o Termo de Posse e assinaram o livro de posse.
Custódio fez discurso prometendo seriedade no governo e empenho para recuperar o crescimento de Juiz de Fora e apagar as más recordações das denúncias de corrupção contra o ex-prefeito Alberto Bejani.

Assim que a solenidade acabou, fomos todos para a prefeitura para registrar a passagem de cargo.
O ex-prefeito José Eduardo Araújo esperou no saguão pelo sucessor.
Eles se cumprimentaram e foram para o nono andar, onde fica o gabinete.
O batalhão de fotógrafos e cinegrafistas foi junto.

Na sala de reuniões lotada, o difícil foi encontrar espaço para trabalhar, sem incomodar as autoridades que tentavam assistir à passagem de governo.
Agachados, sentados, ajoelhados.
Era cômica a cena de um monte de homens grandes tentando passar despercebidos.
Claro que foi impossível.
O João Schubert, do Jornal JF Hoje, fez o trabalho dele com a competência de sempre e ainda encontrou tempo para registrar os colegas no aperto.

Claro que o Robson não deixou por menos e aproveitou a concentração do Schubert para devolver a gentileza.
Imagine a dificuldade para se trabalhar nessa posição!
Bastava o pessoal levantar um pouco a cabeça ou o equipamento para alguém reclamar e pedir licença para ver a passagem de cargo.

Entre uma foto e outra, o Schubert e o pessoal da imagem se apoiavam como dava para descansar.
A posição ingrata e desconfortável foi mantida por um bom tempo.
Entre discursos, troca de elogios e promessas para o futuro, os dois prefeitos lembraram da união importante da equipe de transição.

O ex-prefeito José Eduardo Araújo fez um balanço dos 199 dias no poder.
Ele assumiu a prefeitura depois da renúncia de Alberto Bejani, preso duas vezes no primeiro semestre pela Polícia Federal por suspeita de uso indevido de verba pública e corrupção. José Eduardo falou das dificuldades financeiras que encontrou à frente da administração municipal, mostrou o relatório de contas que entregou ao novo prefeito e explicou as medidas tomadas nos últimos dias de governo.

Hoje, toda a imprensa da cidade tinha a mesma pauta: o primeiro dia do prefeito.
A informação de uma visita ao Hospital de Pronto Socorro vazou e levou equipes de todas as empresas de comunicação à porta do HPS.
Mesmo pego de surpresa pelo grupo, o prefeito manteve a classe e a educação que são características dele.
Foram permitidas algumas imagens da entrada e depois fomos convidados a esperar do lado de fora.

O HPS é o maior hospital de Urgência e Emergência da Zona da Mata, atendendo a 200 municípios.
Por mês, a média é de 14 mil atendimentos e 400 internações.
O Hospital é referência em traumatologia e a maioria das vítimas de acidente é levada para lá. Enquanto esperávamos o fim da reunião entre o prefeito, o vice e autoridades da saúde, fizemos o que mais gostamos: colocamos a conversa em dia com os colegas jornalistas.

Falamos do trabalho de cada um no fim de ano, dos plantões cansativos por conta das chuvas em Minas, etc.
As coberturas desse tipo têm essa vantagem, encontrar os amigos e matar as saudades daqueles que vemos pouco.
Algumas vezes, passamos meses sem coincidir pauta com o restante da imprensa.
Ainda bem que uma vez por mês a gente se reune em um boteco para matar a saudade.

Depois da reunião, o prefeito voltou acompanhado do vice e da Secretária de Saúde, Eunice Caldas Dantas.
Eles conversaram conosco e explicaram a primeira análise feita dos problemas do HPS.
Custódio Mattos disse que a prioridade é contratar mais médicos, para que o plantão noturno tenha sempre um cirurgião.

Ele recebeu um relatório das dificuldades que os funcionários e administradores têm enfrentado.
Disse que medidas já estão sendo tomadas para melhorar o atendimento e as condições de trabalho.
Como três médicos se demitiram há pouco tempo, novas contratações são necessárias.

A Secretária de Saúde disse que tem muitos desafios pela frente.
Ela mostrou otimismo ao falar que a secretaria que recebeu envolve constantes decisões emergenciais e polêmicas, que se refletem diretamente nos usuários.
Mas, Eunice está segura de que a equipe do novo governo vai trabalhar unida para sanar as dificuldades.

A boa notícia para o funcionalismo público é que o prefeito espera pagar o mais rápido possível os salários de alguns servidores que não foram pagos no mês de dezembro.
Custódio Mattos disse que já está em negociações com um banco que deve assumir as contas da prefeitura para agilizar a liberação dos recursos e garantir o fim da ansiedade dos pais de família que tiveram um fim de ano sem dinheiro. A data do pagamento seria definida numa das muitas reuniões de hoje.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Estado de alerta em Muriaé

Por 2° Pel BM/3ª Cia BM/4° BBM

Bombeiros Militares encontram-se em estado de alerta na cidade de Muriaé / MG devido as fortes chuvas que caíram na cidade de Miraí, na madrugada do dia 01 de janeiro de 2009, o que resultou no aumento do volume das águas do Rio Muriaé.
A Unidade está atendendo diversas ocorrências causadas pelas chuvas em Muriaé e nas cidades circunvizinhas.

Sete pontos de alagamento foram registrados na cidade, o Corpo de Bombeiros está monitorando os locais com equipes distribuídas estrategicamente em pontos críticos, realizando a retirada de pessoas ilhadas ou em situação de risco.
Para dar um maior suporte à população, além do efetivo operacional do 2° Pelotão foi enviada para a cidade uma equipe de 13 militares do 4° BBM - Juiz de Fora / MG, que estão sendo empregados como reforço.

Acidente com ônibus em Minas Gerais - 12 mortes confirmadas

Por Michele Pacheco

Os bombeiros encontraram hoje o último corpo que estava desaparecido desde o acidente da última segunda-feira.
Agora, estão confirmadas as mortes de 11 passageiros e do motorista.
O veículo da Viação Itapemirim deixou Iúna, no Espírito Santo, com destino a São Paulo.
Oito horas de viagem tinham se passado, quando o motorista perdeu o controle da direção e caiu num precipício de 80m de altura, na BR 116, em Além Paraíba, Zona da Mata Mineira.

O temporal dessa terça-feira atrapalhou as buscas. O rio Angu ficou três metros acima do nível normal e transbordou em vários pontos da zona rural, perto do local do acidente. Com isso, as estradas rurais que margeiam o rio foram inundadas e os bombeiros tiveram que gastar um tempo grande buscando acessos alternativos. Eles subiram por pastos, passaram por matas e se arriscaram na área de enchente.
Como era muito arriscado acompanhar todo o trajeto que eles iam fazer, nós registramos o que foi possível num local de acesso mais fácil. Ficamos surpresos com a força da correnteza. Era impossível adivinhar onde ficava o leito do rio Angu e onde era pasto. Por isso, nem tentamos nos arriscar.

Encontramos por lá ontem o Bruno Sakaue, da TV Panorama.
Ele está no caso desde o início.
Além dos vivos nos jornais locais e de rede, ele fechou bons vts para os principais jornais da Globo.
Ficamos muito felizes com a chance dada a ele.
O Bruno é um profissional muito competente e merece destaque.
Estamos acompanhando o caso desde a manhã dessa terça-feira.
Em momentos assim, eu me lembro que muitas pessoas acham o trabalho de repórter cheio de glamour.
Com certeza, se nos vissem nos dois últimos dias, mudariam de idéia.

Fomos avisados às seis e meia da manhã que teríamos que viajar para acompanhar o trabalho de resgate das vítimas.
Eu e o Robson somos chorões e temos que nos segurar em situações desse tipo.
Mas, amamos nosso trabalho e fazemos o possível para ele ficar bom.

Quando chegamos à BR 116, na terça, encontramos uma equipe da TV Panorama despachando pelo motorista a fita gravada no início da manhã.
O pessoal da Record também estava na área registrando tudo.

Aí, descobrimos um fato que incomoda todo repórter:
estávamos atrasados!
O acidente foi às 23h15 de segunda-feira, as emissoras de TV foram avisadas às duas da madrugada de terça-feira e nós só fomos acionados às 6h30, chegando ao local às 8h30.
Como não se pode ganhar todas, o jeito é esconder o sorriso amarelo e trabalhar rápido para se recuperar do prejuízo.

Acho um caso desses, um bom desafio para o profissional.
Ele sabe que todo mundo tem imagens e entrevistas melhores do que as dele, mas não pode voltar de mãos abanando.
Nossa estratégia foi registrar o que estava em andamento e tentar contar a história de uma forma mais simples, para que todos pudessem entender.
Parece pouco, mas muitos jornalistas pecam pelo excesso e tornam a mensagem difícil de ser captada.

Apostamos no que os outros ainda não tinham feito:
ir atrás dos bombeiros pelo mato adentro à procura dos corpos.
A idéia parecia tão simples!
Mas, acabamos molhados, enlameados e quase atolados no pasto de uma fazenda que fica nas margens do rio.
Registramos imagens da equipe com o bote e voltamos chapinhando no atoleiro até o carro.
Imagens do alto! Isso era mais seguro.

Já ouviram falar da Lei de Murphy? Se algo pode dar errado, dará. E ela estava em vigor ontem. Num raio de 20 km perto do local do acidente não pega celular. Ficamos sem comunicação com a TV para explicar que não voltaríamos a tempo do nosso jornal.
Depois de registrar o que foi possível no local do acidente, fomos à Casa de Caridade Leopoldinense. Aguardávamos a saída de vítimas que estavam tendo alta, quando ligaram de Juiz de Fora pedindo que voltássemos logo para enviar imagens para Belo Horizonte.
Voltamos tão rápido quanto foi possível. Estávamos sem café da manhã e sem almoço. Nossa esperança era de que desse tempo de fazer um lanche antes de cumprir um compromisso com a filha do Robson, agendado desde o mês passado. Mas, fomos mandados de volta para a estrada. Só tivemos tempo de passar em casa para pegar algumas peças de roupa e ligar para a Paula, avisando do cancelamento do compromisso. Vida de jornalista é assim mesmo!

Voltamos à estrada, molhados, cansados e com fome. Glamour? Que piada. Parecíamos mais retirantes das enchentes. Lama por todo lado e nenhuma previsão de conseguir descansar e tomar um banho. Trabalhamos direto até às 23h, contando apenas com um pacote de biscoitos que pegamos em casa e água cedida pelos bombeiros. Mas, sabíamos que o nosso sofrimento não era nada comparado aos daquelas pessoas que viram o fim de ano virar um pesadelo.

Vendo o que sobrou do ônibus, deu uma idéia melhor do desespero dos passageiros e do motorista.
O que sobrou do veículo foi rebocado para um pátio em Leopoldina, a 30 km do local do acidente.
A frente ficou destruída.
As janelas estavam quebradas.
Muitas foram arrancadas pelos sobreviventes para que eles pudessem sair.

Ando muito de ônibus e fico imagino o horror de estar preso num banco, com o veículo girando no ar e batendo. Objetos e pessoas caindo por toda parte, sem saber para onde ir ou onde se segurar. Depois, ainda tem a água fria entrando. Havia marcas de lama e vegetação em toda a carroceria. Muita gente acha que nós jornalistas somos frios e insensíveis diante dos fatos que cobrimos. Isso é mentira! A sensação de ver tudo aquilo tão de perto é ruim e fica conosco por alguns dias. Só que a gente tenta apagar do cérebro as imagens de sofrimento e guardar as cenas bonitas. Senão, não dá para seguir na profissão.

Essa foto mostra uma curiosidade que aconteceu nos bastidores da cobertura e que ninguém viu nos telejornais. Quase às duas da madrugada dessa quarta-feira, os bombeiros retornavam do local do acidente, depois que o ônibus foi retirado.
No caminho para Leopoldina, eles notaram um carro com defeito na BR 116. Claro que pararam para ajudar. O veículo não ligava de jeito nenhum. Solução: amarrar com uma corda e rebocar com a caminhonete dos bombeiros. O Sargento Arthur Peixoto foi o voluntário para seguir com o motorista no carro amarrado.

O que ninguém esperava era que, numa descida da rodovia, a corda fosse arrebentar.
Chovia muito e os bombeiros nem notaram a “perda” do colega. O sargento não sabia se ria ou chorava. Molhado, exausto e...perdido no meio da estrada. Em vez de gritar e chorar, ele foi com o motorista estrada à frente até encontrar um posto de combustíveis e conseguir ajuda. O mais interessante é que em vez de brigas e animosidade entre o grupo, o episódio virou motivo de riso para a equipe. Os dois pedaços da corda foram guardados como recordação. O sargento e o cabo Rangel, que dirigia a caminhonete, vão ter muitas histórias para contar. Parabéns pelo espírito esportivo!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Acidente com ônibus em Minas Gerais - 9 mortos

Por Michele Pacheco

Fim de ano trágico nas estradas de Minas.
Tanto sofrimento para tantas famílias!
Acompanhamos o desespero das pessoas em busca de notícias de parentes que estavam no ônibus da Viação Itapemirim que deixou Iúna, no Espírito Santo, às 15h30 da última segunda-feira, com destino a São Paulo.
Mas, a viagem terminou numa curva da BR 116, em Além Paraíba, Zona da Mata Mineira.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal, por volta de onze da noite, motoristas viram um clarão saindo da estrada e pararam para descobrir o que era.
Eles viram pelo meio do mato da margem da rodovia que era um ônibus.
O motorista perdeu o controle da direção numa curva em declive, saiu da pista, desceu pela lateral e caiu numa ribanceira de 80 metros de altura.

Para piorar, o veículo ficou com as rodas para cima depois de bater numa pedra e cair dentro do rio Angú.
A cena assustava.
As equipes de resgate abriram com facão um caminho na encosta íngreme e escorregadia para ter acesso ao ônibus.

Mesmo assim, elas precisaram descer de rapel para facilitar o trabalho.
Imagino o desespero dos sobreviventes: noite escura, todos desnorteados depois de sacolejar dentro do ônibus e água turbulenta por toda parte.
Há vários relatos de passageiros que conseguiram se salvar da queda e desapareceram no rio.

Desde o momento em que foram acionados, durante a noite, os bombeiros e os policiais rodoviários federais não tiveram descanso. Além da dificuldade de acesso, era impossível virar ou içar o ônibus para agilizar a busca por sobreviventes ou corpos.
Os dois guinchos que estavam no local não tinham força para puxar o veículo pesado e preso nas pedras.
Os bombeiros viveram a agonia de ver os corpos dentro do veículo sem poder tirá-los de lá.

A frente do ônibus parecia em pior estado, mostrando que ele deve ter batido de frente antes de cair na água.
A força da correnteza, aumentada pelas chuvas fortes dos últimos dias arrastou alguns corpos e os bens dos passageiros.
Bombeiros de Juiz de Fora e de Muriaé se dividiram em frentes de trabalho.
Enquanto alguns ficavam próximos ao veículo, avaliando como retirar os corpos, outros procuraram nas margens.

Uma equipe usou um bote inflável para seguir no sentido contrário.
Os bombeiros tiveram acesso ao rio pelo pasto de uma fazenda, a 2 km do ponto da queda.
Eles ouviram de moradores que dois corpos estariam presos na vegetação da margem.
Mesmo com o motor, subir o rio Angu foi complicado.
Havia muita vegetação arrastada pela correnteza e pedras por todo lado.

Uma preocupação constante das autoridades era com a lista de vítimas.
A Itapemirim anunciou primeiro que eram 32 passageiros e o motorista.
Mas, como crianças com menos de 6 anos não pagam passagem, a Polícia Rodoviária Federal temia que elas não estivessem listadas e que o número de vítimas fosse maior.
Depois de muitos levantamentos feitos pela empresa e de conversas com os sobreviventes, a conclusão foi de que havia 34 pessoas no veículo.

Vinte e dois passageiros conseguiram se salvar.
Os feridos foram levados para hospitais de Além Paraíba e Leopoldina, cidade a 30 km do local do acidente.
Na Casa de Caridade Leopoldinense, a informação foi de que a maioria dos atendidos teve ferimentos leves e foi liberada pela manhã.
Um passageiro foi levado para o Hospital de Além Paraíba e também teve alta logo.

Nove pessoas morreram, entre elas, o motorista.
Ainda não foi confirmada a causa do acidente.
A Polícia Rodoviária Federal chamou a atenção para o fato de não haver marcas de freada no asfalto.
As marcas que existem são de outro acidente com ônibus, no mesmo local, em maio deste ano.
Na ocasião, duas pessoas morreram.

Desta vez, a suspeita é de que o motorista tenha passado mal ou dormido ao volante.
Todo mundo está cansado de saber que nesta época do ano as viagens são mais constantes e muitas vezes os profissionais das empresas de ônibus trabalham sobrecarregados e cansados.
Durante toda a tarde de terça-feira foram resgatados corpos no ônibus e no rio.
Um guincho maior foi usado para virar o veículo de lado e facilitar a remoção.

Com a noite chegando, três corpos foram amarrados em sacos plásticos e içados com ajuda do guincho.
O dia foi escurecendo rápido e seria muito arriscado tirar um corpo de cada vez e acabar sem visibilidade nos últimos.

Encontramos a Patrícia e o Ítalo, da TV Panorama, de prontidão na estrada.
Outras equipes percorreram os hospitais e garantiram uma bela cobertura para a emissora deles.
Estão todos de parabéns.
Em situações graves como essa, não há lugar para decisões lentas nas redações.
É preciso pensar rápido e com eficiência.
O diferencial é visto no ar.
Ontem, com certeza, foi um show de bola da TV Panorama.

A Rede Record também enviou equipe.
Ao serem informados do acidente, eles decidiram mandar o pessoal do Rio de Janeiro.
Os profissionais cariocas chegariam bem antes da equipe de Belo Horizonte.
Eles chegaram cedo, registraram tudo e voltaram apressados para exibir o material na hora do almoço.

O Robson e o Ítalo buscaram lugares com boa visibilidade do trabalho das equipes de busca. Alguns ficavam no alto de barrancos, às margens da rodovia.
Assim, foi possível registrar o avanço complicado do bote, em meio ao rio cheio.
Os bombeiros sumiam entre a vegetação e reapareciam, com expressão de ansiedade, sem conseguir seguir em frente por muito tempo.

O Tenente Coronel Rodney de Magalhães nos surpreendeu mais uma vez.
Ele chegou com uma das equipes de Juiz de Fora e foi logo assumindo uma postura operacional. Colocou o equipamento de rapel, desceu e avaliou de perto a situação.
Ele trocou idéias com o comandante dos bombeiros em Muriaé, Tenente Patrick Gomes.
Ficou decidido que guinchos maiores seriam contratados em Juiz de Fora para retirar o ônibus.

Todo o grupo agiu unido.
O trabalho foi acompanhado pelo Comandante Operacional dos Bombeiros em Minas Gerais, Coronel Celso Novaes.
Ele estava todo sujo de terra e molhado de chuva.
Mais um que ganhou nossa admiração pela postura participativa e atuante.
As equipes envolvidas neste caso mostraram competência e sensibilidade.

Além de se preocupar com o resgate dos corpos, todos encontraram palavras de carinho e de consolo para os familiares que se reuniram na estrada, rezando para encontrar as pessoas queridas com vida.

Infelizmente, a cada minuto que passava, a possibilidade de encontrar mais sobreviventes diminuía.
Os nove corpos resgatados foram levados para o Instituto Médico Legal de Leopoldina.
A chegada da noite complicou ainda mais o trabalho dos bombeiros.

Os operadores dos guinchos usaram holofotes para iluminar o caminho e permitir que a equipe que estava em baixo fosse vista. Mas, a chuva forte e o vento tornaram lenta a remoção.
Ficamos sem bateria de câmera e deixamos o local por volta de 23h. O ônibus só foi içado quase às duas da madrugada.
Nele, ainda havia o corpo de uma passageira preso às ferragens.