Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Chuva causa inundações, soterramento e acidentes em Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

O temporal começou por volta de nove da noite dessa segunda-feira.
No início, era só uma garoa.
Depois, foi piorando e virou uma tempestade.
A zona leste de Juiz de Fora foi a região mais atingida no município.
45 ocorrências foram registradas pela Defesa Civil na área.
O bairro Linhares foi o mais prejudicado, com 10 registros, seguido por Grajaú, com 8, e Vila Lapina, com 5.

No Linhares, a rua Diva Garcia ficou alagada em frente ao Posto Policial.
Quem estava na rua, teve que se proteger debaixo das marquises.
Mas, isso não impedia que ficassem encharcadas cada vez que um carro se arriscava no alagamento.
O córrego do Yung transbordou e a água se espalhou por toda a parte baixa do bairro.

Um motoqueiro precisava passar e a saída encontrada por ele foi a calçada.
O rapaz foi aos poucos, lutando contra a correnteza quando chegou perto do córrego e conseguiu passar.
Outros desistiram diante do risco.
Os carros que estavam estacionados foram cercados pela água.

Por volta de dez e meia da noite, no bairro Bom Jardim, a enxurrada que descia da parte alta do bairro transformou ruas e calçadas em corredeira.
A força da água formava redemoinhos ao redor dos postes.
Muitas motoristas ficaram parados na Diva Garcia, esperando a água baixar um pouco para tentar passar.
Outros, preferiram seguir pela contramão em direção ao centro da cidade.

No bairro Três Moinhos, mais estragos.
Ruas alagadas, casas inundadas, quedas de barreiras.
A passagem para o centro teve que ser interditada, por conta de um barranco que deslizou e de áreas de alagamento.
Muitas famílias passaram a madrugada tirando lama e água de dentro de casa.

No Vitorino Braga, a força da enxurrada abriu buracos em vários pontos.
O asfalto levantou e se quebrou onde os bueiros não deram conta da quantidade excessiva de água.
Algumas tampas quebraram e saíram do lugar, deixando buracos enormes abertos.
Um perigo para veículos e pedestres.

Os comerciantes passaram a madrugada limpando as lojas invadidas pela enchente.
O dono de uma papelaria reuniu um monte de revistas e jornais molhados e acumulou tudo na calçada.
Ele disse que ainda levou muita coisa para casa, a fim de ver se consegue salvar parte da mercadoria depois que secar.
O comerciante calcula prejuízo de seis mil reais.

Os bombeiros foram chamados para socorrer uma família presa dentro de um carro que caiu numa vala.
O acidente foi no bairro Bandeirantes, zona nordeste da cidade.
O motorista, de 29 anos, a mulher dele, de 30 anos, e os filhos, uma menina de 6 meses e um menino de 6 anos, estavam indo para casa.
Na rua Aurora Tristão, o temporal inundou a pista e o jovem não viu a cratera.
O buraco foi aberto para manutenção na rede de água ou esgoto e fechado com terra.
A chuva forte antes do asfaltamento lavou a terra e abriu a cratera.
Os quatro foram socorridos e levados para o Hospital de Pronto Socorro.

No centro da cidade, a Avenida Rio Branco, uma das mais movimentadas, ficou engarrafada por quase quatro horas.
O problema foi a inundação do Mergulhão.
Os carros não conseguiram passar e houve confusão no tráfego das ruas no entorno do Largo do Riachuelo.

Os motoristas de ônibus estacionaram os veículos na pista central e ficaram de prontidão, esperando a água baixar para poderem seguir no trajeto de cada um.
A fila era longa quando chegamos.
Os motoristas estavam do lado de fora, vigiando a chuva forte.
Agentes trânsito sinalizaram a área e impediram a passagem pelo trecho até a água escoar.

Nas ruas ao redor, estava difícil passar.
A gente tentou pela Francisco Bernardino.
Mas, o trânsito parado não parecia voltar ao normal tão cedo.
Seguimos para a Rio Branco e notamos que a situação era pior.
Não havia para onde correr.
Seguimos então em direção à zona norte, demos uma volta imensa e paramos do outro lado do Mergulhão para fazer imagens.

Hoje cedo, voltamos aos locais onde estivemos durante a noite.
No Linhares, duas máquinas ajudavam os funcionários do Demlurb, Departamento de Limpeza Urbana, a raspar a lama agarrada no asfalto.
A rua Diva Garcia, em frente ao Posto da PM, foi um ponto complicado para limpar.
A enxurrada passou, deixando para trás quase um metro de lama e lixo.

Na esquina das ruas Lamartine Ferreira Leite e Itália, os moradores contaram que sempre são prejudicados.
Basta chover forte, para que as casas fiquem inundadas.
Uma família que mora de aluguel perdeu todos os móveis.
A Cleuza Carvalho contou que estava dormindo e acordou com o barulho da enxurrada entrando na casa.
Com medo de ficar ilhados, os moradores arrancaram uma grade para que a vizinha da casa de cima pudesse entrar para ajudar na retirada das crianças.

Na parte alta do bairro Linhares, os moradores reclamaram que uma rua aberta num loteamento seria o motivo da enxurrada de lama que desce por alguns terrenos.
Fomos em duas casas e vimos que realmente eles têm motivos para reclamar.
Uma cuidadora de idosos ficou ilhada dentro de casa, com duas frentes de deslizamento de cada lado, a escada destruída pela força da água e lama para todo lado.

No bairro Três Moinhos, além de muito barro espalhado, a rua Diva Garcia ficou interditada devido a um deslizamento de terra.
O barranco cedeu por volta de onze da noite de ontem.
O barro só foi retirado no meio da manhã de hoje.

A ocorrência mais grave registrada pela Defesa Civil foi no bairro Alto Grajaú.
Na hora do temporal, um aposentado de 77 anos estava sozinho em casa.
O barranco deslizou, derrubou as paredes e o telhado da casa e o homem ficou soterrado.
Ele foi socorrido pelo genro.

O rapaz desceu no meio dos escombros, no escuro, correndo o risco de também ficar soterrado e correu para ajudar o sogro.
O aposentado foi levado para o hospital, medicado e liberado.
Ele está na casa de parentes.
Pela manhã, ainda estava muito abalado e a família não permitiu que conversasse com os repórteres.

O prédio na parte de cima do barranco foi interditado pela Defesa Civil.
Os moradores deixaram o local.
Dez crianças estão com os pais na sede da Associação de Moradores do Alto Grajaú.
O presidente da associação disse que eles têm apoio da prefeitura, mas reconhece que se a situação se prolongar, vai ficar complicado.
A previsão é de mais chuva para os próximos dias.

sábado, 17 de outubro de 2009

Agentes penitenciários parados em Minas

Por Michele Pacheco

Minas Gerais tem 15 mil agentes penitenciários.
500 deles trabalham em Juiz de Fora.
Com a paralisação deflagrada em todo o estado, a manhã foi tensa na cidade.
Os parentes que chegaram para visitar os presos das penitenciárias José Edson Cavalieri e Arioswaldo Campos Pires foram barrados na porta.

Os agentes fecharam a entrada que dá acesso às duas penitenciárias e ao Hospital de Toxicômanos.
Com faixas e gritos de protesto, eles chamavam atenção para as reivindicações que fazem ao governo de Minas.
A manifestação estava prevista para este fim de semana.
Mas, se as negociações não avançarem, a categoria já pensa em greve.

Cumprindo as determinações da Lei de Greve, 30% dos agentes de Juiz de Fora continuam trabalhando.
Eles cobram, entre outras reivindicações, a equiparação salarial dos agentes com outros órgãos de Defesa, como os Bombeiros e a Polícia Militar.
Querem também o retorno de benefícios que foram suspensos pelo governo estadual.

Os parentes dos presos estavam revoltados com a suspensão das visitas, mas deram apoio ao movimento dos agentes penitenciários.
As mulheres foram pegas de surpresa, quando chegaram com sacolas de comida para os internos.
Elas reclamaram muito e uma comissão foi formada para negociar com a direção da Penitenciária Arioswaldo Campos Pires.
Enquanto o grupo entrava, houve um princípio de tumulto.
A informação era de que os presos estavam batendo grades.
O canil se posicionou e os agentes de plantão ficaram em alerta.
Das janelas, os presos faziam sinais para a imprensa.

No Ceresp, também houve adesão.
Mas, o serviço foi mantido e as visitas de domingo não tinham previsão de cancelamento.
Até porque, com a superlotação do Ceresp, nem é recomendado criar situações de tensão por lá.
O Centro de Remanejamento em Segurança Pública de Juiz de Fora foi inaugurado em agosto de 2000.
Desde então, tem se mantido com número de presos bem acima da capacidade.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Plantação de maconha em cobertura de Juiz de Fora

Por Michele Pacheco

Por volta de dez da manhã, a Polícia Federal de Juiz de Fora desencadeou a Operação Babilônia.
O nome é uma referência aos jardins suspensos.
A comparação é muito bem feita.
Afinal, na cobertura, no 11o andar do prédio, o morador transformou um quarto em estufa de maconha.
Os policiais encontraram 30 pés no local.

A polícia suspeita que a estufa
estivesse funcionando há 6 meses.
Os pés de maconha, com cerca de 1 metro e 70 cm de altura, foram plantados há um mês.
Eles cresceram mais rápido do que o normal, pois eram bem adubados e contavam com iluminação especial, à vapor de sódio.
As luminárias foram colocadas em pontos estratégicos do quarto, presas por correntes a um suporte afixado no teto.
Havia também um sistema de ventilação improvisado com ventiladores e exaustores.

O tipo de maconha apreendido é conhecido como Skank.

As sementes são geneticamente modificadas em laboratório, para aumentar o potencial sobre o organismo humano.
Segundo os policiais federais, o efeito é bem mais forte do que o provocado pela maconha comum.
Em compensação, um quilo de skank custa o dobro do quilo da maconha tradicional.
Um DVD com o título "Tudo sobre plantação de maconha indoor (em espanhol)" foi apreendido, junto com quase 3 kg de droga pronta para a venda.

A Polícia Federal recebeu
denúncias de que uma parcela da população de Juiz de Fora estava consumindo em larga escala o skank.
As investigações levaram ao eletricista de 33 anos que morava na cobertura com a mãe dele.
A mulher é doente e os policiais não acreditam que estivesse envolvida com a quadrilha de tráfico.
A maconha era cultivada, prensada e vendida na própria cobertura.
A alta rotatividade de pessoas estranhas no prédio chamou a atenção.

O morador da cobertura seria um dos
integrantes de uma quadrilha que estaria agindo em Juiz de Fora.
Ele seria o responsável por cultivar a droga.
As folhas eram colhidas e colocadas dentro de um armário em outro quarto.
Lá, arejadas e longe da claridade excessiva, elas iam secando até o ponto de serem prensadas e vendidas.

O suspeito preso vai responder
por cultivo e tráfico de maconha e pode pegar até 15 anos de prisão.
O delegado responsável pelas investigações pediu a perda do imóvel.
O motivo é que a cobertura era usada como um laboratório para pesquisa e como estufa de maconha.
Os policiais lembraram que plantação indoor de maconha está cada vez mais comum nos EUA.
Mas, nenhum deles já tinha visto algo parecido aqui no Brasil.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Produtores de leite protestam em Minas Gerais

Por Michele Pacheco

É impossível percorrer as estradas de Minas e não lembrar que o estado é o maior produtor nacional de leite.
Os caminhões-tanque seguem de um lado para o outro buscando e levando a matéria-prima das delícias produzidas pelos laticínios mineiros.
E ainda é possível ver pelas estradas vicinais aqueles suportes para os latões de leite.

Hoje, nossa pauta era seguir para a zona rural de Leopoldina.
O endereço era um sítio entre Argirita e Leopoldina.
A propriedade rural fica bem perto da BR 267.
E, mesmo assim, é uma tranquilidade só, cercada de verde e riachos.
Deixamos a Parati perto do curral, onde o rebanho curioso nos esperava.

Fomos recebidos pelo Odezio Evangelista da Silva.
Ele é dono de 22 vacas leiteiras, que produzem 120 litros de leite por dia.
O produtor herdou o sítio do pai e lida com gado de leite há 37 anos.
Mas, anda desanimado com a desvalorização do produto.
A situação nunca foi tranquila para os pequenos e médios produtores, só que agora anda pior.

Odezio explicou que gasta em média 75 centavos por litro de leite.
Depois, vende o produto por preços que variam de 59 centavos a 65 centavos.
O prejuízo desanima o homem do campo.
"Com o valor tão baixo, não dá para manter o sítio do jeito que eu gostaria.
Antes, eu tinha três empregados.
Tive que demitir dois.
E até a comida do gado teve que ser cortada.
Minhas vacas eram alimentadas com farelo e ração.
Agora, só dá para oferecer o pasto e capim no cocho" lamenta o sitiante.

Acompanhamos o Odezio ao curral.
O Robson fez boas imagens do gado e do produtor ordenhando as vacas.
Ele colaborou com nossa equipe e deixou duas delas sem ordenhar.
Assim, quando chegamos, foi só levar as "voluntárias" para o local reservado e tirar o leite.
Sempre fico encantada com a gentileza e a agilidade com que o pessoal do campo lida com os animais.

As vacas só ficaram nervosas com a movimentação do Robson.
Cada vez que ele se aproximava com a câmera, elas olhavam desconfiadas e ficavam virando a cabeça de um lado para o outro tentando ver para onde ele iria.
Algumas mais descoladas chegaram perto e mataram a curiosidade.
Outras, foram para o fundo do curral e ficaram vendo de longe.

Também, ele fica fazendo malabarismo com a câmera!
Quando o vi seguindo para a lateral do curral, não entendi nada.
Depois, vi que o preguiçoso estava encontrando um jeito de não ter que sair do curral, dar a volta no piquete e chegar de novo perto do curral pelo lado de fora para fazer imagem.
Eu chamo de preguiça, mas ele prefere dizer que está otimizando o tempo.
Então, tá!

Nesse vai e vem do Robson, quem se estrepou fui eu!
Fiquei quieta no canto para dar passagem às vacas.
Ele foi para o lado oposto.
Diante do engarrafamento bovino na porta do curral, fiquei parada, esperando que elas passassem e eu pudesse ir para o lado do Robson.
Mas, ele tinha que se mexer e assustar as coitadinhas!
Resultado, elas patinaram no chão cheio de...esterco fresco.
E eu fiquei respingada da cabeça aos pés.
Por sorte, meu blazer foi poupado e só havia sujeira na calça, nas mãos, no microfone, na minha pauta usada como rascunho...

Dei um jeito de me limpar e seguir com a matéria.
Fomos para o carro parecendo dois saches de curral.
Ainda bem que estou acostumada com o cheiro.
Meu pai era veterinário e sempre chegava em casa com os cheiros característicos da lida no campo.
Como isso era um símbolo do amor dele pelo trabalho e pelos animais, nunca me incomodou.

Seguimos para Leopoldina.
Cerca de 500 produtores de leite da Zona da Mata e do Campo das Vertentes se reuniram no Parque de Exposições.
Eles aproveitaram o Dia Nacional da Pecuária para cobrar melhores condições para o homem do campo.
O que todos querem é um preço mais justo para o leite.
Afinal, eles recebem em torno de 65 centavos o litro do leite tipo C e o consumidor paga pelo mesmo litro de leite C na faixa de dois reais.

Para protestar, os tratores deixaram o campo e invadiram as ruas da cidade.
Por onde passavam, chamavam a atenção dos moradores.
Quem estava nas ruas, parou para ver a cena inusitada.
A "tratoreata" percorreu todo o centro do município da Zona da Mata Mineira.
Os trabalhadores rurais que conduziam os tratores estavam sérios, lembrando o risco de desemprego em massa na zona rural.

O protesto foi feito por famílias inteiras.
Havia produtores e trabalhadores rurais.
Todos temem a falência da pecuária leiteira no Brasil.
O presidente do Sindicato Rural de Leopoldina disse que este é um dos momentos mais críticos já vividos pelos produtores leiteiros no país.
Salviano Junqueira Júnior criticou o governo federal: "não adianta ficar falando do Fome Zero e matar de fome o homem do campo.
Cadê a preocupação do governo com os produtores de leite que estão recebendo uma miséria pelo produto?"

Atrás dos tratores, seguiam os produtores com faixas de protesto e cobrança de providências das autoridades.
O manifesto dos produtores leiteiros teve apoio de sindicatos rurais de várias cidades da região.
Nas faixas levadas pelos manifestantes, a população leu e entendeu o drama que aquelas pessoas estão vivendo.

Durante o protesto foi lembrado que, desde a criação do Plano Real, os insumos usados na produção leiteira tiveram 600% de aumento, contra apenas 100% de aumento no preço do leite.
O resultado é um empobrecimento do homem do campo e a desistência de muitos pequenos e médios produtores de leite.
"Com o gado de corte, você chega no matadouro e pergunta quanto eles pagam.
Com o gado de leite, você vende a produção e nem sabe quanto vai receber.
Do mês passado para agora, o preço caiu 17 centavos em Leopoldina, isso tirou de circulação um milhão e meio de reais" explicou um produtor.

Os manifestantes pararam em frente à Câmara Municipal de Leopoldina e cantaram o Hino Nacional.
O momento de patriotismo foi um lembrete para as autoridades.
Não existe uma nação independente e soberana sem alimentos.
Se o governo não começar a prestar atenção às necessidades do homem do campo, ele vai largar tudo e inchar ainda mais as cidades.
O desemprego vai aumentar e a fome também.