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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A volta das Domésticas de Luxo

Por Robson Rocha

Depois de aproveitar bastante as férias, voltamos ao trabalho na segunda-feira.
É verdade que voltei meio lento, meu corpo estava trabalhando fora de forma e meu espírito ainda estava de férias. Além disso, minha expectativa era o desfile das Domésticas de Luxo.
Domésticas de Luxo é um grupo caricato onde só desfilam homens fantasiados de domésticas do inicio do século vinte. Esse grupo foi inspirado nas Domésticas de Lourdes, de Belo Horizonte.
O grupo de Juiz de Fora estava sem desfilar há quase uma década.

As Domésticas de Luxo iam desfilar na quarta-feira às 18h. Justamente no dia, eu trabalharia no período da tarde. O jeito foi pedir para trocar a escala. Troca feita, na quarta-feira entrei no trabalho às 7 da manhã, parei às duas da tarde e aí fui me preparar.
A Michele foi me ajudar a comprar uma bolsinha para colocar o dinheirinho da cerveja. Depois, voltamos para a TV.
Ela foi trabalhar e eu me arrumar para debutar no bloco. Afinal, nunca tinha desfilado no grupo.

Vesti minha fantasia e fui a pé, pela avenida Rio Branco, até o Parque Halfeld, local da concentração.
Como ainda não estava com a cara pintada, algumas pessoas ficavam olhando meio de rabo de olho e outras riam mesmo.
Afinal, um homem vestido de mulher, com um vestido todo colorido e cheio de babados, às três da tarde estava estranho. Cheguei na concentração e fui logo sendo maquiado. Até que fiquei uma doméstica ajeitada, apesar da barriga dar um aspecto de grávida.

Aos poucos, foi se juntando um bando de homens, mais de 160, com o rosto pintado, de vestidinhos e avental.
Com perucas encaracoladas e coloridas, segurando nossas sombrinhas invadimos Parque Halfeld. O detalhe é que alguns eram até barbudos.
E uma coisa interessante é que apesar de nem todos os componentes se conhecerem, todos pareciam velhos amigos.

Outra coisa legal nas Domésticas é que ninguém quer ser reconhecido, quer simplesmente ser uma anônima doméstica.
A idéia é brincar um carnaval sem maldades e divertir as pessoas.
O Cerezo foi minha primeira vitima.
Só correu quando tentei pintá-lo.
Mas, pelo menos ficou o registro.

Minha mãe foi me prestigiar e dançou da concentração até o final, na praça Antônio Carlos.
Deve ter me olhado e pensado: “Onde foi que eu errei?”
Brincadeira, ela adorou.
Aliás, ela que levava eu e meu irmão quando éramos criança para assistir ao desfile das Domésticas de Luxo.
Que era o ponto forte dos desfiles, era na realidade o que todo mundo queria ver.

Infelizmente, as Domésticas não puderam desfilar na avenida esse ano, mas nem por isso perderam a essência.
Levar alegria para as pessoas.
Mas, quem sabe minha filha, a Paula, ainda vai ver as Domésticas voltando a abrir os desfiles de carnaval em Juiz de Fora.
Ela foi e adorou.
Tirou foto de tudo e se divertiu muito.

Já a Michele estava trabalhando, por isso tentei não perturbá-la.
Mas, a tentação é grande e aí...
A idéia não era atrapalhar a ligação, apenas registrar uma foto.
Afinal, um de nós dois tinha que trabalhar.
Como não era eu...

Além disso, ela tinha me dado o maior apoio para desfilar.
Tudo bem que eu acho que em determinados momentos, ela estava com uma carinha meio assustada.
Mas , eu acho que era com a minha beleza.
Fiquei bonitinha não fiquei?

Muito bacana encontrar os irmãos Guedes participando e esbanjando felicidade.
Eles são carnavalescos e eternos reis momos de Juiz de Fora, fizeram e fazem muito pelo carnaval da cidade. O carnaval de Juiz de Fora ficou conhecido no Brasil todo na década de oitenta graças a eles.
Pois chamou a atenção da imprensa nacional o fato da cidade ter dois reis momos.

Outra pessoa que faz tudo para o carnaval de rua voltar a ser como no passado é o José Carlos Passos, o Zé Kodak.
Ele batalha pela volta dos carnavais de marchinhas.
E, nesse carnaval, ele provou que dá certo.
A Batalha de Confetes foi um sucesso e as Domésticas não ficaram atrás.

Com o enredo “Voltei... Aqui é meu lugar”, as Domésticas invadiram o calçadão da rua Halfeld e arrastaram uma multidão de todas as idades.
O povo cantava e dançava com as “pretinhas”.
Ali ficou provado que as Domésticas voltaram pra ficar.

Para registrar, o pessoal da imprensa tinha que se espremer no meio da multidão.
Isso, sem esquecer que fizemos questão de passar um pouquinho de tinta em cada um.
Mas, para mostrar a dimensão da festa e dar a noção de quantas pessoas participavam, teve jornalista escalando prédios pra encontrar um ângulo legal.
O João Schubert foi um deles.

Quem mais se divertia eram as crianças.
Elas queriam tirar fotos e ficavam esperando para dançar com a gente.
E, abriam um grande sorriso quando a gente as sujava de preto.
O desfile foi muito gostoso e não havia só doméstica experiente e barriguda.

Pequenas domésticas também participaram.
Pais levaram os filhos para desfilar.
Em um determinado momento uma senhora me parou e disse:
“Que bom que vocês voltaram!
Não deixem as Domésticas morrerem.
Meu marido saía todo ano, infelizmente ele não está mais aqui.
Mas deve estar feliz de ver vocês desfilando.”
Ela me deu um beijo no rosto e foi embora.
Por um momento, apesar de toda a agitação, me desliguei e fiquei pensando o quanto essas pretinhas fazem parte da nossa história.

Mas, logo dei de cara com um amigão.
A namorada do sujeito é ciumenta demais, porém não se importou que ele tirasse uma foto comigo.
Pelo menos nessa foto fiquei mais pretinho que o Rafael.
Ele trabalha com a gente na TV e, no ano que vem, vou arrastá-lo para o bloco.

A patroa, a única mulher (de verdade) do bloco era a Williana, nossa amiga de um tempinho.
Ela não perdeu o pique, sambou o tempo todo sem parar.
Também, se ela era a patroa tinha que dar o exemplo e não deixar as Domésticas perderem o pique.

O desfile invadiu a avenida Getúlio Vargas. Lá, as 160 Domésticas se multiplicaram em milhares de foliões dançando e cantando.
Os integrantes do bloco terminaram o desfile na praça Antônio Carlos.
O diretor da TV Alterosa viu e adorou.

Ele disse que no ano que vem vai ser uma das Domésticas.
Como ele, muita gente viu uma amostra do que é um carnaval de bom gosto, sem baixarias, sem brigas.
Apenas com alegria e vontade de se divertir e de divertir as pessoas.

Parabéns a todos da organização da Domésticas e ao Carlos, presidente do bloco.
Ao Zé Kodak, que há anos lutam para resgatar o carnaval de rua de Juiz de Fora, nosso agradecimento e nosso respeito.
Ano que vem estarei lá de novo!



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