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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

São João Del Rei - A cidade das tradições

Por Robson Rocha

São João Del Rei é uma cidade que eu adoro. Pra quem trabalha com imagens é o paraiso, tudo é bonito, pra onde você aponte a sua lente, vai render uma bela imagem. A cada matéria descobrimos coisas novas e pessoas simples e maravilhosas que ajudam a manter as tradições sanjoanenses.
A Semana Santa é o ponto alto da celebração de todas as tradições pelos filhos da terra.

Em uma dessas viagens a São João, a pauta era sobre as amendoeiras. As amêndoas de Páscoa são tradicionais, saborosas e feitas de amendoim ou coco. A tradição veio de Portugal no século XVIII. Hoje as amêndoas são distribuídas em frente à Matriz de Nossa Senhora do Pilar na semana santa.


Fomos à procura de uma dessas mulheres. Pedimos informações na secretária de comunicação da prefeitura e o Almir, assessor de comunicação nos levou a um bairro carente onde encontramos a Antônia Silva ou como todos a conhecem: Tunica.

Na casa simples, dois tachos de cobre ocupavam a sala. Ali ela fazia as amêndoas.
O açúcar era derretido e ela mexia com as mãos os amendoins e o coco para eles aderirem ao açúcar. O calor que vinha dos tachos era insuportável e a única proteção que a Tunica usava para não se queimar eram dedais de costura.
Depois ela embalava os amendoins em cartuchos de papel para vendê-los mais tarde na frente da igreja matriz. O cartuchos maiores e mais bonitos seriam distribuídos aos participantes da cerimônia de Lava-pés.

Em outra ida a São João, em novembro de 2005, a Michele tinha encasquetado de fazer uma matéria sobre a linguagem dos sinos. Nessas alturas só passava uma coisa na minha cabeça: vou me ferrar. Isso porque eu já tinha, na época que estava na Globo, feito um material sobre a Igreja de São Francisco. A escada sem iluminação para chegar ao sino é um caracol, mas não é um caracolzinho qualquer. Quando cheguei no alto, eu estava tão tonto que não sabia nem de que lado ficava a cidade.

Mas a história da linguagem dos sinos nos encantou. Os sinos realmente falam em SJDRei. Através das badaladas os moradores sabem o horário e o tipo da missa e até quem vai celebrar.Encontramos crianças que mantém a tradição, mas fomos atrás do sineiro mais antigo de São João Del Rei. Encontramos Seu Newton tocando em uma banda de música. Aos 81 anos, ele é a 4a geração de uma família de sineiros e tocou sinos por quase 70 anos. Aposentado, ele nos contou sobre as disputas dos sineiros na quaresma. Não tivemos coragem de deixá-lo subir na torre da igreja, as pernas não ajudam mais.
Mas a gente via que a vontade dele era subir e fazer o sino repicar.
Chorando ele falava da saudade do tempo de sineiro. Não sabemos se ele está vivo, mas cada vez que olhamos ou ouvimos os sinos em São João Del Rei, lembramos do Seu Newton e do amor dele pelos sinos com nome de santos.

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