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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 6 de maio de 2008

A verdade que não queremos ver

Por Robson Rocha

Hoje, o dia começou com um arrombamento no caixa eletrônico de um banco na Avenida Rio Branco.
Depois, fomos gravar a restauração do monumento em homenagem a Francisco Mariano Halfeld, no Parque Halfeld.
O painel foi erguido em 1902, em homenagem ao homem que bancou a primeira reforma no largo que mais tarde se transformou no Parque mais freqüentado de Juiz de Fora.

Chegamos e o monumento estava cercado por tapumes.
Pra nossa sorte, já tínhamos fotografado o trabalho na semana passada e deu para ter uma idéia de como vai ficar depois de finalizada a restauração.
O fundo vai voltar a ser azul e destacar muito mais a obra.

Quando acabamos de gravar e estávamos prontos para ir para outra matéria, fomos abordados por um morador de rua. Completamente embriagado e pedindo dinheiro.
Lembrei da matéria que saiu na Tribuna de Minas de hoje.
Na matéria é afirmado que Juiz de Fora tem 607 pessoas em situação de rua, ou seja, morando na rua.
A pesquisa, segundo o jornal, foi feita pela Unesco e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome em 71 cidades brasileiras com mais de 300 mil habitantes.

O índice de moradores de rua em JF é quase o dobro do nacional.
Segundo a pesquisa, no município, o número equiva­le a 0,118% dos 513.348 habitantes, enquanto no país a média é de 0,061%. Em núme­ros absolutos, Juiz de Fora aparece na nona posição. Em índices, o município é o quarto, perdendo apenas para Curitiba (PR), Santos (SP) e São José dos Campos (SP).
Basta andar pela cidade para notar que essa população tem aumentado e muito nos últimos anos.

Mas, dali seguimos para o Pólo de Atendimento ao Eleitor, para gravarmos uma matéria e imagens para serem usadas em outro material.
A fila era enorme.
As duas garotas que a Michele entrevistou primeiro, estavam ali havia mais de três horas e pelo tamanho da fila, quem estava lá atrás, ia esperar muito mais.

Quando estávamos voltando pra TV, mais uma prova do aumento da população de rua.
Os catadores de papel, sem preconceito, tomaram conta da cidade, uma prova do empobrecimento da nossa população.
A pobreza está empurrando boa parte da população carente para esse tipo de trabalho.

Na TV, nos informaram de uma apreensão de produtos na Rua Marechal Deodoro.
No caminho, mais um catador de papel seguia pela Avenida Rio Branco com a mulher, enquanto seu fiel escudeiro, um vira-lata, ia dentro do carrinho.
Estou batendo nessa tecla, pois nós preferimos, normalmente, fingir que não vemos a pobreza à nossa volta.

Mas, como ignorar a imagem desse flagrante?
Depois de trabalharem a manhã inteira, a mãe leva o filho pra casa, dentro do carrinho.
A imagem não é humilhante?
Mas, como julgar essa mãe, se nós fingimos todos os dias que não os vemos, apesar de estarem espalhados por toda a cidade.

E olhe que, segundo a pesquisa, são mais de 600 pessoas morando na rua.
Grande parte delas trabalha catando papel e dorme dentro dos próprios carrinhos. E, muitas vezes, monta algo parecido com uma barraca, onde dorme toda a família.
Mas, isso não importa e continuamos fingindo não ver.
Vamos simplesmente dar nossas esmolas para aliviar nossas consciências e encher o peito para dizer que ajudamos ao próximo.

Chegando na Marechal Deodoro, outra pobreza. Talvez possamos chamar de pobreza de espírito do comerciante.
A fiscalização havia apreendido mais de uma tonelada em alimentos e bebidas.
Alguns comerciantes deveriam ser proibidos de atuar na área, pois sujam o nome de uma categoria inteira.
O camarada dono dessa mercadoria já tinha sido pego em outra ocasião, mas parece que não aprendeu.

Na distribuidora dele, os fiscais da Secretaria Municipal de Agropecuária e Abastecimento encontraram todo tipo de produto com data de validade vencida.
Um pó para sorvete tinha vencido em 2006 e estava sendo comercializado! As uvas-passas estavam tão velhas que algumas já estavam se decompondo.
O cheiro era bem desagradável.

Eu e o Adão Mendonça, da TV Panorama, não tivemos escolha e ficamos bem perto do material estragado. Ainda bem que o estômago estava vazio! A Michele e o Bruno Sakaue pelo menos puderam apurar um pouquinho mais de longe e escapar do mau-cheiro.
Pelo menos, ainda temos uns caras como o Evaílton Pires, fiscal, que têm tesão pelo que fazem e fazem bem feito. Nós, consumidores, agradecemos!

Que no futuro seja restaurada a dignidade humana, que aqueles que enfrentaram a fila pela cidadania ajudem a mudar o retrato da miséria e que surjam vários Pires com vontade de mudar uma realidade.

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