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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Recepção 1° parte - A Missão

Por Michelle Ribeiro e Mayra Rocha
(Recepcionistas da TV Alterosa Juiz de Fora)

Muita gente acha que trabalhar sentada o dia todo na recepção da Tv Alterosa é moleza, ainda mais que ficamos com a televisão ligada o dia inteiro (ninguém sabe como é cansativo!), mas essa programação faz o dia passar e distrai também! Aqui na recepção nem sempre é essa “mamata”. Eu e a Mayra sabemos bem disso. Às vezes nossa televisão é um meio de escapar do tumulto e dos telefonemas que atendemos o dia inteiro. Cada dia aqui é uma novidade, nunca um dia é igual ao outro (graças a Deus né!). Aprendemos muita coisa, somos um pouco de cada área. O mais triste é que algumas pessoas não vêem isso! Mas, tudo bem, pelo menos nós duas sabemos quais são os nossos deveres e fazemos de um tudo para ajudar a todos (eu às vezes dou uma resmungada rsrsrs, mas nunca deixo de fazer meu trabalho com carinho, atenção e muita dedicação).

Hoje vou falar um pouco de como é a vida aqui na “nossa” recepção. Acho que posso falar assim, pois é como se fosse a nossa sala, com a nossa mesa, nosso telefone, igual a todos aqui que tem sua sala (administração, comercial, técnica... nós também temos a nossa!). E temos orgulho disso!
Tem dias que isso daqui é um tumulto que só vendo: na nossa mesa temos 3 telefones e um 1 deles toca o tempo todo, naqueles dias em que o “bicho” pega ele toca tanto que colocamos as pessoas na linha de espera e depois vamos voltando a atender as pessoas que nos aguardaram pois não tem como falar com todo mundo ao mesmo tempo. Nesses dias dá uma dor de cabeça! Os nervos ficam à “flor da pele” (eu pelo menos quando chego em casa não quero ver mais telefone na minha frente), mas Deus faz às vezes ele ficar bem calminho e tocar pouco. Aí eu levanto a mão para o céu e agradeço rsrs. Temos que ter o controle de tudo o que fazemos aqui e não podemos deixar de anotar nada nas nossas planilhas, pois temos que estar sempre em dia e passar todas as informações; não só uma para outra como também para os vigias que ficam aqui de noite e nos finais de semana. Temos também que tomar conta da garagem dos carros, pois nela só podem parar carros da Tv e de mais ninguém. Ah, esqueci,: o Gleizer (Diretor Regional) também pode. Mas, tem uns abusados que gostam de parar na nossa garagem. Aí, com toda elegância e charme nós caminhamos até eles e pedirmos com toda educação para tirar o carro dali, claro, explicando que é o lugar dos nossos veículos, mas eles não entendem isso, e reclamam e nos xingam. Mas, temos “jogo de cintura” e continuamos a falar com eles com calma. Bem que às vezes dá vontade de perder a linha e sair xingando, pois como as pessoas saem assim do nada nos xingando se estamos fazendo o nosso trabalho? As pessoas às vezes parecem não ter coração, elas estão com raiva do mundo aí a gente aparece no momento errado e nosso ouvido acaba virando “pinico” rsrs. Temos a obrigação de chamar o guincho,mas tentamos contornar a situação para não fazer isso. Graças a Deus, depois de muitos pedidos conseguimos colocar as correntes na garagem e não temos mais esse problema. Porém, nossos amigos repórteres e cinegrafistas e amigos da técnica também saem com os carros e não colocam as correntes (nossa que raiva que dá isso viu rsrs...) aí começa toda a confusão de novo. Deixa eu explicar melhor o motivo dessa confusão: nossas equipes de reportagem vivem na rua trabalhando, e quando voltam cansadas e exaustas de um dia cheio de trabalho debaixo de sol e chuva e às vezes viajando, quando pensam que vão guardar o carro, tem outro ali parado e sem o dono. Aí, eles ficam bravos com a gente, mas nós entendemos a raiva deles, eles que não sabem como fazemos de tudo para que ninguém pare o carro na tão sonhada “vaguinha”. Mesmo assim não deixamos de escutar o blá blá blá na nossa orelha, entenderam a confusão? O melhor de tudo é que no final tudo é resolvido! Nossa e quando é dia de fita para ser gerada para BH (isso é todo dia, mas tem aqueles em que o comercial vem errado, trocado...) ligamos para o moto boy buscar as fitas aqui, ali, e acolá coitados damos dor de cabeça neles, mas isso faz parte!

Nesses dias o nosso momento mais esperado é a hora do cafezinho e a nossa hora de ir embora, pois por mais que gostemos do nosso trabalho, ninguém é de ferro! Mas só passando por isso tudo é que dá para saber como é o nosso dia a dia, aqui só deixei “gostinho” de como é nosso trabalho! rsrs

Vou terminando hoje por aqui, mas ainda temos muitas coisas para contar!
Estão vendo como nossa televisão acaba sendo bem-vinda mesmo nos dias de confusão e calmaria, ela na maioria do tempo é nossa única companhia. E sinceramente não dá para ficar sem ela!
Até a próxima!
Michelle

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

São João Del Rei - A cidade das tradições

Por Robson Rocha

São João Del Rei é uma cidade que eu adoro. Pra quem trabalha com imagens é o paraiso, tudo é bonito, pra onde você aponte a sua lente, vai render uma bela imagem. A cada matéria descobrimos coisas novas e pessoas simples e maravilhosas que ajudam a manter as tradições sanjoanenses.
A Semana Santa é o ponto alto da celebração de todas as tradições pelos filhos da terra.

Em uma dessas viagens a São João, a pauta era sobre as amendoeiras. As amêndoas de Páscoa são tradicionais, saborosas e feitas de amendoim ou coco. A tradição veio de Portugal no século XVIII. Hoje as amêndoas são distribuídas em frente à Matriz de Nossa Senhora do Pilar na semana santa.


Fomos à procura de uma dessas mulheres. Pedimos informações na secretária de comunicação da prefeitura e o Almir, assessor de comunicação nos levou a um bairro carente onde encontramos a Antônia Silva ou como todos a conhecem: Tunica.

Na casa simples, dois tachos de cobre ocupavam a sala. Ali ela fazia as amêndoas.
O açúcar era derretido e ela mexia com as mãos os amendoins e o coco para eles aderirem ao açúcar. O calor que vinha dos tachos era insuportável e a única proteção que a Tunica usava para não se queimar eram dedais de costura.
Depois ela embalava os amendoins em cartuchos de papel para vendê-los mais tarde na frente da igreja matriz. O cartuchos maiores e mais bonitos seriam distribuídos aos participantes da cerimônia de Lava-pés.

Em outra ida a São João, em novembro de 2005, a Michele tinha encasquetado de fazer uma matéria sobre a linguagem dos sinos. Nessas alturas só passava uma coisa na minha cabeça: vou me ferrar. Isso porque eu já tinha, na época que estava na Globo, feito um material sobre a Igreja de São Francisco. A escada sem iluminação para chegar ao sino é um caracol, mas não é um caracolzinho qualquer. Quando cheguei no alto, eu estava tão tonto que não sabia nem de que lado ficava a cidade.

Mas a história da linguagem dos sinos nos encantou. Os sinos realmente falam em SJDRei. Através das badaladas os moradores sabem o horário e o tipo da missa e até quem vai celebrar.Encontramos crianças que mantém a tradição, mas fomos atrás do sineiro mais antigo de São João Del Rei. Encontramos Seu Newton tocando em uma banda de música. Aos 81 anos, ele é a 4a geração de uma família de sineiros e tocou sinos por quase 70 anos. Aposentado, ele nos contou sobre as disputas dos sineiros na quaresma. Não tivemos coragem de deixá-lo subir na torre da igreja, as pernas não ajudam mais.
Mas a gente via que a vontade dele era subir e fazer o sino repicar.
Chorando ele falava da saudade do tempo de sineiro. Não sabemos se ele está vivo, mas cada vez que olhamos ou ouvimos os sinos em São João Del Rei, lembramos do Seu Newton e do amor dele pelos sinos com nome de santos.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Arte natalina em Andrelândia

As fotos e o texto abaixo foram enviados pelo Geraldo Adriano Nogueira de Souza da Rádio Andrelândia.

Merece destaque o trabalho feito pelos moradores para enfeitar a cidade que fica a 299 km de Belo Horizonte, na divisa do Sul de Minas com o Campo das Vertentes. O município surgiu no início do século XVIII e servia de parada para quem seguia pela Estrada Real para Diamantina e Ouro Preto. Hoje, os visitantes encontram muitos detalhes do passado nos casarios antigos e nas igrejas barrocas.

Já fizemos muitas matérias por lá e, com certeza, recomendamos uma visita.


Olá, pessoal!!!

Estou enviando fotos dos enfeites de Natal em Andrelândia, distribuidos em uma parte da Av. Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, centro da cidade, começando em frente ao Clube de Andrelândia, estendendo-se até a Praça em frente à Igreja Matriz. A inauguração aconteceu dia 23 de novembro, em frente à Prefeitura Municipal, abrilhantada pela gloriosa Corporação Musical São Pio X, um patrimônio cultural de Andrelândia e região.

Este é um projeto idealizado por Karla Rivelli, que teve início no ano passado e, neste ano, teve apoio de alunos e alunas das escolas estaduais, municipais e particulares, além da Fundação Guairá, que também aderiu ao projeto. Mais ou menos 10.000 garrafas pet foram utilizadas (quase 100% do projeto), além de sobras de obras, tintas vencidas e enfeites de outras festas, com custo praticamente zero.

À Prefeitura Municipal restou o gasto com material elétrico e mão de obra para organização dos enfeites. Vale ressaltar o espírito de Natal e a participação efetiva de alunos, alunas e colaboradores deste projeto, que têm por objetivo, além de dar brilho e beleza ao Natal em Andrelândia, retirar da natureza essas garrafas plásticas que demoram décadas pra se decompor.


COM CERTEZA ABSOLUTA A NATUREZA AGRADECE!!!
Um forte abraço a todos e SUCESSO SEMPRE!!!






Geraldo Adriano Nogueira de Souza.
Rádio Andrelândia FM.

Museu da Loucura em Barbacena

Por Robson Rocha

Nosso trabalho tem a vantagem de nos mostrar muitas verdades, que ficaram escondidas e que mostramos no dia-a-dia.
Algumas matérias acabam nos marcando pelas histórias e pelas imagens que encontramos.
Nossa região possui vários locais com histórias interessantes. E um deles é o Museu da Loucura em Barbacena.

Quando estive lá pela primeira vez, fiquei um tanto assustado. Quando entramos havia vários pacientes andando pelo jardim. Eles ficavam nos olhando, eu os cumprimentava e eles me ignoravam. Parecia que eu não estava ali, apesar deles me encararem. Outros tinham um olhar distante. Mas havia um que me incomodava. Ele andava de um lado para o outro, em uma calçada de uns 3 metros, na entrada do museu, sem parar. Isso segundo a enfermeira, era o dia todo.

Do lado de dentro, o cheiro era ruim. Alguns tentavam conversar, mas simplesmente eu não entendia quase nada. Parecia que éramos seres de planetas diferentes.
Voltei lá outras vezes, mas não encontrei os pacientes e a equipe não pôde mais entrar no hospital.

O Hospital foi criado em 1903 e instalado em um antigo sanatório para tratamento de tuberculosos, nas terras da Fazenda da Caveira que, no século 18, pertenceu a Joaquim Silvério dos Reis, o traidor da Inconfidência Mineira. Na época, ia para Barbacena quem estivesse no pior estágio da loucura. No início do século 20, logo após a inauguração do Hospital, chegava à cidade o famoso “Trem de doidos”, lotado de pacientes de todos os cantos do Brasil. A demanda ia sempre aumentando, visto que Barbacena era referência e acolhia a todos que chegavam: alcoólatras, sem tetos, portadores de deficiência física e os chamados “loucos”. Todo ser humano que tivesse algum “desvio” era mandado para lá. Se fosse hoje, quantos jornalistas estariam lá?
Quando os pacientes vinham para Barbacena, às vezes enviados de outros hospitais psiquiátricos, já sabiam que estavam condenados à prisão perpétua. Dali não sairiam nunca mais.

Mas visitando o Museu da Loucura, que ocupa o espaço do torreão do antigo hospital, o susto foi maior, são vários equipamentos de tortura e fotos em que os internos parecem pedir socorro. Daí lendo os documentos você descobre que mais de sessenta mil pacientes morreram ali. Existem registros de que muitos corpos foram vendidos para universidades.

E uma das histórias mais pavorosas conta que era prática normal no hospital o método de “desencarnar” os mortos, o que consistia em colocá-los em tonéis com ácido para tirar-lhes a carne e vender os esqueletos às faculdades de medicina.
Muitos internos participavam desse trabalho, “desencarnando” seus colegas mortos e muitas faculdades de medicina, em todo o Brasil, compravam os cadáveres de Barbacena para abastecer seus laboratórios de anatomia.

O jornal Estado de Minas de 28 de agosto de 1979 denunciou o que chamaram de “DEPÓSITOS DE LIXO HUMANO”.
No dia-a-dia, os mais rebeldes ou aqueles que cometiam algum ato considerado pelos funcionários como insubmissão eram mantidos presos em celas gradeadas, algemados pelos pés e mãos, contidos por várias técnicas e métodos diferentes. Passavam por sessões de eletro-choque, das quais saiam mortos ou com dentes e ossos quebrados. O hospital possuía um centro cirúrgico no qual eram realizadas as psicocirurgias. A leucotomia e a lobotomia, procedimento que consistia na incisão nos lobos frontais para desconectar as fibras nervosas, dessa região, do resto do cérebro. O procedimento transformava pacientes agressivos em pessoas calmas e apáticas.
Em 1979, o conhecido psiquiatra italiano Franco Basaglia visitou o Hospital Colônia de Barbacena e o comparou aos
campos de concentração nazistas de Adolf Hitler.
Hoje, os tratamentos mudaram, mas vale a pena conhecer este
museu e pensar em quantas loucuras os seres “normais” fizeram com pessoas que sequer tinham como se defender.
Todas as vezes que saia de lá, não tinha resposta pra uma pergunta que ficava ecoando na minha cabeça: quem eram os verdadeiros loucos?

sábado, 1 de dezembro de 2007

Cobertura inesquecível 3

Por Michele Pacheco

No último texto sobre a cobertura da chuva no Sul de Minas, em 2000, terminei falando do imprevisto na entrada ao vivo de Pouso Alegre. Depois do almoço, tivemos uma reunião no restaurante para dividir o trabalho. A equipe de Varginha preferiu continuar com o governador Itamar Franco. Assim, ficamos livres para ousar.

Conversando com os técnicos de Varginha, descobrimos que eles conheciam um atalho para Santa Rita do Sapucaí. A cidade estava isolada por inundações e quedas de barreira e as autoridades e a imprensa só conseguiam entrar de helicóptero. A tentação foi grande demais e decidimos arriscar. Com a nossa Parati 93, seguimos a pick-up da técnica por uma serra íngreme e escorregadia.
Em alguns trechos, o pessoal parava para nos esperar, achando que não conseguiríamos. Mas, a gente não iria largar aquele osso suculento por nada! Paramos no alto da serra, onde os técnicos Edson (de BH) e Eduardo (de Varginha) ficaram para virar a antena e garantir a entrada ao vivo de Santa Rita, assim que a nossa equipe chegasse lá. Seguimos a pick-up do João Mário, responsável técnico da TV Alterosa no Sul de Minas, e chegamos à cidade. As pessoas nos olhavam como se tivéssemos descido de um disco voador e queriam saber como tínhamos conseguido ultrapassar as quedas de barreira e as dificuldades da serra.

Pegamos o equipamento e nos posicionamos na praça central que estava inundada. Pelo rádio transmissor, ouvíamos todo tipo de xingamentos vindos da torre. O Edson estava sendo atacado por marimbondos.
Eu e o Robson ficamos posicionados, com água no joelho, à espera do sinal para a entrada. Pelo ponto ligado ao celular, a gente passava o tempo conversando com o Miltinho, Diretor de TV, que estava em BH. Entre uma brincadeira e outra, eu debochava que havia peixinhos na minha bota e o Robson falava mais um monte de besteiras. O que a gente não sabia era que o Camilo Teixeira da Costa, diretor da TV Alterosa estava na cabine, ouvindo tudo! Veio o sinal esperado e entramos ao vivo. No flash, fiz questão de lembrar que fomos a única equipe de reportagem a entrar por terra na cidade depois da tromba d´água e isso se devia à competência da nossa equipe técnica.

No dia seguinte, a decisão foi de que faríamos uma entrada ao vivo no Jornal da Alterosa, direto da estrada. Os técnicos foram cedo buscar um local que desse para fechar o sinal com a torre e montaram tudo. Chegamos quarenta minutos antes da entrada (a teimosia do Robson nos deixou presos por um bom tempo num trecho alagado!) e encontramos o Edson desarvorado, com o equipamento montado perto de um ponto com água cobrindo todas as pistas da estrada e nenhum caminhão à vista. Ele nos olhou e disse “eu juro que havia um monte de caminhões parados aqui. Escolhemos o lugar porque o pessoal estava preso, sem conseguir passar pelo trecho alagado. Mas, há cinco minutos, eles decidiram arriscar e foram todos embora. Só temos 100m de cabo e não dá para chegar aos que sobraram”.

Olhei em volta e vi alguns caminhões parados uns 500 metros antes. Corri até eles e implorei por ajuda, pedindo que puxassem os veículos para perto do nosso equipamento. Três caminhoneiros que estavam almoçando se sensibilizaram com o nosso problema e concordaram.

Voltei correndo, enquanto eles ligavam os caminhões e contei o que tinha conseguido. Combinamos com o primeiro motorista que chegou o que seria perguntado e nos posicionamos. Esperei o contato com Belo Horizonte, posicionada na estrada, tentando recuperar o fôlego, sem texto escrito (na correria, não deu tempo de parar para escrever) e rezando para dar tudo certo. Veio a deixa dos apresentadores, improvisei, descrevendo o problema que os motoristas enfrentavam e fui me encaminhando até o entrevistado. Imaginem o susto que levei ao ver a estrada vazia. Enquanto eu conversava com os apresentadores, o que passava pela minha cabeça é que eu estava frita! Mas, um movimento num canto me chamou a atenção. O caminhoneiro tinha montado uma cozinha improvisada e estava debaixo do caminhão cozinhando! Nem parei para pensar e disse que quem ficava preso tinha que improvisar, agachei e fui entrando debaixo do veículo. Conversei com ele, saí e encerrei o vivo. Estava comemorando, agradecendo ao caminhoneiro que foi uma estrela e salvou o nosso trabalho, quando vi o Robson com cara fechada e um vergalhão na testa. Quando eu entrei debaixo do caminhão, ele não teve escolha e me seguiu. Mas, com 1m e 90cm, ele não passou e bateu com a cabeça na carroceria. Definitivamente, as entradas ao vivo são imprevisíveis. E por isso mesmo, tão divertidas.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

“Até que você é bonitinha...”

Por Robson Rocha

O momento em que o repórter aparece na matéria, é como se ele estivesse assinando seu material. É a hora em que o telespectador vê quem está lhe contando aquela história. O repórter pode aparecer no início da matéria, abertura. No meio da matéria, passagem. Ou no final da matéria, encerramento. Mas independentemente do momento, ele tem que estar bem no vídeo, o enquadramento tem que valorizar a imagem do repórter. Localizá-lo no ambiente, mas sem que o fundo tire a atenção do público no repórter.


Para melhorar a identificação do repórter pelo telespectador existem algumas regras, ângulos, luz e composição de imagem.
Algumas dessas regras foram herdadas da pintura da Grécia antiga, muitas da fotografia e também do cinema.
Mas voltando à passagem: Muitas vezes graças a isso, as pessoas vêem um repórter na rua e ficam na dúvida se realmente aquela pessoa seja quem eles acham que é.Isso acaba gerando, na rua, situações engraçadas.

Uma dessas situações aconteceu em Guarani, na Zona da Mata Mineira.

Uma senhora, já velhinha, parou do lado da Michele e perguntou:
– Você que é a Michele Pacheco, né?
A Michele mais que rápido respondeu:
– Sim, sou eu mesma.
A doninha afirmou:
– Gosto muito de você, te vejo todo dia. Seu trabalho é muito bom!
Michele:
– Que bom que a sra. gosta. Muito obrigada!
Antes de sair a velhinha fechou a conversa com chave de ouro, virou para a Michele e...
– Na televisão você parece tão grande. Mas, não liga não, você até que é bonitinha!

Do alto dos seus 1m e 67cm, o sorriso da Michele foi amarelando e fui obrigado a zoar dela o resto do dia. Convencido de estar fazendo bons enquadramentos nas passagens ou que pelo menos fiz minha repórter crescer.
Mas, realmente, bonititinha é f...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Notícia porta de cadeia

Por Ricardo Bedendo - Jornalista

Caros amigos, é com grande satisfação que visitei e me tornei leitor deste espaço idealizado por dois profissionais da área "de primeira linha". Tive a oportunidade de encontrar e trocar muitas informações policiais nas coberturas jornalísticas com o Robson e com a Michele. Parabéns pela iniciativa, vocês são um exemplo de, acima de tudo, companheirismo. Pra ilustrar alguns destes momentos, encaminho uma história. Abraços...Bedendo


Notícia porta de cadeia

Superadas as carroças com os surrados pangarés puxando humildes trabalhadores calçando chinelos de dedo, sobre pilhas de entulhos, na tortuosa e íngreme avenida principal do Linhares, nos aproximamos do Ceresp. Esta passagem se constitui parte fundamental desta história, porque, por incrível que pareça, boa parte das vezes que seguíamos em direção à cadeia perdíamos alguns preciosos instantes na Diva Garcia, com poucos pontos de ultrapassagem. Para o fotógrafo, então, parecia a eternidade. Aqueles segundos ou minutos poderiam representar a perda da imagem principal da notícia na unidade prisional, ou a oportunidade única dada pela polícia de chegar um pouco mais perto, o que era raro, por justificadas questões de segurança.


Especialmente quando estávamos com um dos nossos motoristas mais antigos na "casa" o encontro com os cavalos e seus vagarosos passos parecia marcado. Ele reconhecia isto. Levantava as mãos pro céu, as batia no volante e suplicava:
- Será possível? O problema é comigo! Toda vez que passo aqui é a mesma coisa!
Ultrapassado o primeiro obstáculo entramos à esquerda e ganhamos a pequena reta, com fim no portãozinho de acesso a outro trecho curto, de subida e curvas ainda mais fechadas, até chegarmos ao prédio do cadeião, no pé da úmida montanha. Quando a informação era de que "a cadeia poderia virar" [1], em meio a mais um tumulto, o movimento intenso de viaturas policiais, em alta velocidade, naquele espaço apertado, aumentava nossa preocupação com um acidente. Felizmente, sempre passamos ilesos.

Na porta do Ceresp em dias de ocorrências, cada vez mais constantes, como brigas de presos, ameaças de rebelião, suspeitas de fuga, possibilidades de desabamento de muros e apreensão de armas e drogas e outros bagulhos mais, os cenários deixaram marcas. Em algumas semanas, a freqüência da ida da imprensa ao local era tão grande, que creio ter passado mais tempo na área da cadeia, do que em casa ou no jornal. Era preciso paciência e contato permanente com a equipe na redação, administrando o tempo de fechamento da reportagem e adiantando informações, para serem levadas à reunião na qual eram definidas as prioridades.
Era agonizante aguardar do lado de fora alguma novidade em meio ao entra e sai de carros da polícia e do Corpo de Bombeiros, com os motores acelerados e as sirenes ouvidas ao longe. Caso o policial na direção fosse conhecido, corria até o veículo e tentava arrancar algumas rápidas palavras. A atenção era redobrada, face ao clima tenso, responsável por transformar o ambiente em frações de segundos. Quando parecia calmo, começava o bochicho de novo.
Se o sol rachava sobre nossas cabeças, num calor de arrancar o couro, a encolhida sombra na barraquinha de lanche em frente ao prédio do Ceresp era disputadíssima. Às vezes, dava tempo de tomar um refrigerante, comer uma cocada, especialidade da casa, e colocar a conversa em dia com os colegas de imprensa. Mesmo assim, o sossego perdia para os mosquitos e seus companheiros insetos das mais variadas espécies, cachorros com os pêlos esgarçados, latidos desafinados e pulgas em festa, e cavalos, com as ferraduras desgastadas e o lombo castigado pelo sol e carrapatos, repetindo o estado precário daqueles das carroças, zanzando de um lado pro outro. Todos pareciam desnorteados, inclusive nós quando não tínhamos mais posição que aliviasse.

Quanto mais o sol dava as caras, mais fediam os latões de lixo perto da barraca, nos quais eram jogados, também, os dejetos da "panela de pressão" que se tornou o Ceresp. Na entrada do cadeião, íamos do deserto ao Pólo Norte. Quando chovia fino e fazia frio, o desafio era anotar alguma coisa no bloco respingado e ficar de cabeça em pé duelando com o vento, na tentativa frustrada de evitar que ele cortasse os lábios. Exigir do cara da barraquinha um caldinho quente, na linguagem popular o famoso "péla égua", aí já era demais.

Gostava de sentar no estreito banco de madeira próximo ao portão. Mas era por pouco tempo, já que as formigas e moscas administravam o pedaço. Quem também aparecia para algumas visitas indesejadas eram os marimbondos que, um pouco mais acima de nossas cabeças, construíam um belo condomínio, em um dos blocos do cadeião. Tanto lugar pro bicho resolver morar e foi escolher logo aquele! Aquela "casa" dos marimbondos inquietos sempre chamava a atenção. Imaginava se a trabalhosa obra fosse ao chão. O efeito da correria poderia ser maior do que em qualquer outro tipo de tumulto. Apesar dos "riscos" oferecidos pelos voadores ou terrestres e sorrateiros bichinhos, valia a pena ficar ali. Diria ser a posição estratégica. Sentado próximo ao portão principal, captava o bate papo de policiais, de familiares, observava de perto toda a movimentação. Precisava ter alguma informação para questionar a fonte oficial na entrevista concedida sempre no final da ocorrência. Repórter atônito e no ritmo dos pangarés come mosca, principalmente ali na porta do Ceresp, com aquele calor e o cheiro fétido dos latões.

Em meio às temperaturas, que mudavam repentinamente, e ao diversificado reino animal, parentes desesperados, com sacolas e alimentos nas mãos, na espera da notícia, sempre reservavam imagens e depoimentos reveladores da realidade de quem estava lá dentro das celas. Mulheres grávidas, algumas novinhas ou noivinhas apaixonadas, e idosos subiam o morro às pressas e tinham que ser acudidos. Faltava-lhes o fôlego e a pressão ameaçava o sofrido coração. Outros familiares chegavam no automóvel velho, caindo aos pedaços, mas tratado com carinho, com valor de carro de bacana. Na porta do Ceresp, víamos a dor em contraste com o alívio daqueles que cruzavam as grades, com destino à liberdade, pelo menos física. Esta talvez não fosse a "tão sonhada liberdade".

Na porta de uma unidade prisional, também aprendemos, visualizamos que o teor da notícia vai além do que acontece no interior do prédio. Nas imagens e nos depoimentos, podemos entender parte dos fatídicos caminhos percorridos por aquelas pessoas atrás das grades e como funciona o sistema que tenta administrar as conseqüências de realidades distintas, frutos da complexidade do sistema social. Compreender a essência não é fácil, ainda mais quando aquela realidade nos parece tão distante, às vezes inimaginável.


[1] Expressão usada pelos presos quando anunciam a possibilidade de um motim

domingo, 18 de novembro de 2007

Micos nossos de cada dia

Por Michele Pacheco

A maior preocupação de um repórter cinematográfico é com a imagem. Conseguir os melhores ângulos, a melhor luz... E o Robson leva isso a sério. Até demais! De olho na imagem, ele não pensa duas vezes em me colocar em situações, digamos, delicadas. Canteiro central de avenidas? Já conheço quase todos em Juiz de Fora. Bancos de praça? Posso descrever aqueles que estão em melhores condições em várias cidades da região.

Um dos meus primeiros micos profissionais foi numa reportagem sobre o Festival de Música Antiga em Juiz de Fora. Os organizadores estavam montando um tablado em frente ao Cine Teatro Central. Para a passagem, ele pediu que eu ficasse de costas para o teatro no meio do calçadão mais movimentado da cidade. O povo passando e meu querido colega gritando: mais para a direita...volta um pouquinho...para a direita de novo...assim não vai dar, vá para trás dois passos...um para frente... E eu lá, naquela dança maluca que só cinegrafista entende. As pessoas paravam para olhar, para rir... e eu naquele vai para lá e vem para cá. Por fim, ele chegou à conclusão de que o ângulo não estava legal.

Para completar o meu mico, o Robson saiu arrastando uma escadinha de madeira até o meio do calçadão. Pensei com meus botões que a criatura não seria capaz de chegar a tanto. Foi quando ouvi o grito todo animado: “suba aí que agora vai dar certo”. Para sorte dele, eu não xingo. Lá do alto, com vista privilegiada de todos que riam da minha cara, fiz a passagem e desci correndo, antes que ele tivesse mais alguma idéia brilhante.

Hoje, já nem perco tempo pensando no mico que vou pagar. Subo rápido onde ele manda e gravo. Ele já me colocou até no telhado da Basílica de Nossa Senhora do Pilar, em São João Del Rei. Fazíamos uma matéria sobre sinos e eu queria fazer a passagem num lugar alto que desse para ver os meninos tocando os sinos. Quando ele ficou todo animado com a idéia, eu já coloquei o pé atrás. Tanta animação não era um bom sinal.

Moral da história, depois de subir vários degraus de uma escada estreita até uma das torres, ele gentilmente sugeriu que eu fosse até a escadinha de metal entre uma torre e outra e ficasse em pé nela. Quem dá idéia atravessada, tem que ficar quieto. Quem mandou eu abrir a boca sobre a passagem?!

Pulei a janela da torre e fui subindo agachada pela
escada, que é estreita. No meio do telhado, tem uma placa de metal que é o único ponto menos inclinado. Eu estava pelejando para me equilibrar de salto, no alto do telhado, com um vento forte, sem olhar para baixo quando veio o conhecido grito de incentivo “anda, fica logo em pé que a minha imagem de fundo vai acabar”. Fiz a passagem, tentando não balançar muito com o vento, nem perder o equilíbrio. Confesso que ficou muito bom o resultado, mas, que eu tive vontade de torcer o pescoço dele, ah, isso eu tive!

Mas, vontade de esganá-lo não é novidade. Lembro de quando resolvemos fazer uma série de reportagens especiais para o aniversário de Juiz de Fora, em 2003. Produzimos, gravamos e editamos o material. Levamos três meses pesquisando e capturando as imagens do jeito que queríamos.
Numa das reportagens sobre o rio Paraibuna, vimos um banco de areia se formando no meio do rio e decidimos fazer uma passagem lá. Depois de três semanas vigiando o banco, fomos gravar. Tripé, bota de borracha e todos os cabos de microfone que o Robson achou na TV. Coloquei o blazer, passei a ponta do fio pelas costas, prendi na cintura, passei por dentro da calça e arrumei com cuidado para fora da galocha. Estava me sentindo um Indiana Jones de saia.

O Robson pegou o tripé e foi para um canto da margem. Eu, toda amarrada no cabo e com o microfone na mão fui para o rio. De longe parecia tão fácil! A distância entre a margem e o banco era maior do que eu pensava. Olhei em volta e o número de curiosos estava aumentando. Já tinha uns engraçadinhos gritando “pula, pula, pula”. Fazer o quê?! Estiquei a perna e... nada de alcançar o banco. Coloquei um pé na água para ver a profundidade e era fundo para ir andando. O jeito foi pular. Toda amarrada, com certeza a cena deve ter sido ridícula.
Enfim, lá estava eu no meio do banco que descobri não ser de areia e sim de lixo acumulado. E o troço mexia! Tinha bicho morto, copo de liquidificador e outras coisas que é melhor nem falar. E para melhorar a minha situação, o Robson berrou lá de longe: “faça a passagem andando”. Juro que tentei. A cada vez que eu andava, o “chão” mudava de lugar e desprendia um pedaço.

Nessa hora, já tinha um cordão de pessoas em volta do rio e gente perguntando se queria que chamassem o Corpo de Bombeiros! Quanto mais gente juntava, mais o lixo mexia, mais eu me estressava e mais o Robson pedia para repetir! Esganá-lo seria pouco, eu já imaginava todo tipo de tortura. Lá pelas tantas, ele se deu por satisfeito, falou que tinha valido e subiu o barranco com o tripé. E para sair do meio do rio? O banco tinha virado uma banqueta e ainda mais longe da margem. Parecia que ninguém tinha nada para fazer naquele dia, pois o povo não arredou o pé. Lá fui eu saltar para a margem. O fio atrapalhou e aterrissei de quatro na terra. Só não coloquei em prática meus planos de tortura, porque chegamos na TV e vimos que o sufoco rendeu um material lindo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Chuvas de verão? Sofrimento à vista!

Por Robson Rocha

Uma coisa que todo mundo que trabalha na externa do jornalismo aprende é a lidar com o humor de São Pedro. No período de outubro até março é difícil conseguir um dia em que você trabalhe com uma temperatura agradável e não transpire igual a uma tampa de chaleira.Geralmente quando você sai para uma reportagem o carro já está no sol, quando abre a porta do dito cujo, já vem um bafo quente. Entra e se sente em uma sauna seca. Só pelo calor já dá pra imaginar que o dia vai ser um... INFERNO. Aí você que está lendo diria: “é só ligar o ar condicionado!” – Brilhante! Mas isso prova que nunca entrou em um carro de reportagem.

Tudo bem. Vou seguir sua sugestão. Ligo o ar-condicionado. Surpresa! Ele não funciona. Aí é suar, literalmente, a camisa e torcer para o desodorante não vencer, digo, perder para o cecê.
Lá pelas 4 da tarde, São Pedro, gente boa, resolve dar um refresco. Baixar a temperatura? Não. Ele manda chuva.

Aí fu... Não posso escrever palavrão, senão a Michele vai reclamar. Mas voltando ao tempo, lembra que suei a tarde toda? Pois é, tenho que vestir a capa de chuva. Ela entra colando, puxando todos os pelinhos do braço.
Mas você vai lembrar da Michele e realmente... Ela tinha feito uma escovinha básica, rá, rá rá... Desculpe é que não resisti. O cabelo já era, o blaizer escondido pela capa... O modelito é lindo, isso sem esquecer a maquiagem e o detalhe do capuz.

Mas enquanto ela está na frente da câmera com a capa, eu desisti da capa. Eu suava tanto, que molhado por molhado, a chuva é fresca.

Na última enchente em Ewbanck da Câmara, cidade próxima à Juiz de Fora, fomos gravar. Enfiei minha maravilhosa 7 léguas; quando entrei na água, senti minha meia fria. Mas poderia ser o suor que foi resfriado junto com a bota, certo? Errado. A água encheu a bota, o solado dos dois pés rachou. E a molecada rolou de rir do mané arrastando os pés até poder passar a câmera pra Michele e tirar a bota.


Depois de comprar outro par de meias, calcei meu coturno e fui gravar. O Olavo Prazeres, da Tribuna de Minas, tirou a foto, logo depois. Dá para imaginar o meu humor, né?

E tem também a chuva de molhar bobo. É aquela que você não dá nada por ela e quando volta, uma hora depois, parece um pinto molhado. Dia de chuva fina é sinônimo de acidentes nas estradas e normalmente os veículos caem em ribanceiras, de pontes...
Em Ewbanck tem um viaduto de 30 metros de altura, onde sempre acontecem acidentes e os carros caem debaixo da estrutura e para fazer alguma imagem, tem que descer.
A descida tem muito mato, que você vai tombando com os pés, o mato se mistura com o mingau de água e terra e vira um escorregador. De cada 5 pessoas que descem, pelo menos três vão se encontrar com o chão. Na descida batem com a região glútea e na subida normalmente resvalam os lábios na relva. Posso dizer, por experiência própria, que a sensação não é muito boa. A relação de adjetivos que você quer dizer na hora é infinita.
E quando chega de volta à estrada molhado, sujo, com um vergão na testa (geralmente margem de estrada tem muito bambú e dá pra imaginar onde ele bate.) alguém te pergunta: “que cara feia é essa?” - Vou falar o quê?

sábado, 10 de novembro de 2007

"O Salvador da Pátria"

Por Marcelo Lima - Repórter da Rádio Solar

Olá amigos, Adorei o blog de vocês! Muito bem editado e com um layout leve e super agradável de ler (Nem parece que foi o Robson que fez..rs..rs).
Abaixo segue uma história fora do ar. Tenho a impressão que ficou longo, mas li e reli um milhão de vezes e não encontrei o que cortar.

Abraços Marcelo

"O Salvador da Pátria"


Mudanças bruscas na angulação de uma pauta sempre deixam o repórter meio perdido. Foi isso que aconteceu comigo em uma noite no final de 2006. Estava na redação finalizando a edição de retrospectiva do programa Ronda Policial, quando o porteiro da emissora me transferiuuma ligação. A voz apavorada do outro lado da linha avisava:
"Houve uma troca de tiros envolvendo policiais e assaltantes aqui! Duas pessoas estão mortas".

Sem que pudesse obter mais informações a ligação foi encerrada. Eram 23h30 de uma quinta-feira. Na emissora estavam apenas comunicadores e operadores de áudio. Pensei em acionar o motorista, mas não havia tempo suficiente para o deslocamento dele (ônibus), até a rádio onde pegaria o veículo da emissora. Eu só tinha o endereço e a possibilidade de uma boa reportagem para o Jornal da manhã.
Decidi equipar o meu próprio carro com "mantas magnéticas" com o logo da emissora e segui rumo a um bairro pobre da região sudeste de Juiz de Fora. O cenário era composto de ruas estreitas e vielas que lembram favelas cariocas. Sem o conhecimento de editor ou chefe de reportagem, assumi por conta própria os riscos que corria para obter a matéria. Tomei o primeiro susto no acesso à parte alta do bairro, uma rua escura e estreita. Acelerando o meu Fiesta 1.0 até o limite ouvi gritos para que eu parasse o carro.

Parei e fui interpelado por pessoas que eu não via o rosto. Uma delas perguntou:
- Vai aonde mermão?
Imediatamente respondi:
-Sou repórter da Rádio Solar, me ligaram daqui denunciando um crime.
Logo em seguida ouvi um grito com tom de autoridade:
- Deixa o cara subir! Foi a comunidade que chamô!!!

Tremendo dos pés a cabeça, engatei a primeira marcha e segui firme em direção à minha pauta. Confesso não ter visto nenhuma arma apontada na direção do meu carro, mas até hoje penso que ela existia. Não sabia quem eram as pessoas que me abordaram naquela espécie de “portaria”, mas tive a nítida sensação de que pensaram realmente em impedir minha entrada. Passado o susto inicial, logo acima encontro uma viatura daPM com dois policiais conversando do lado de fora. A dupla me olha com cara de espanto, enquanto eu os cumprimento e pergunto:

- Onde aconteceu a troca de tiros? Onde estão os corpos?
A resposta de um dos policiais é imediata e vem acompanhada de um conselho.
- É lá em cima no último escadão, mas se eu fosse você, não subiria lá não!!

Por alguns instantes pensei em desistir, afinal de contas, aquela reportagem já havia se tornado arriscada demais para o meu espírito de Tim Lopes. Por outro lado, pensava nos desconhecidos que me abordaram na parte baixa do bairro. Eles poderiam me hostilizar, já que a minha entrada foi condicionada ao fato de que a comunidade havia me convocado para uma matéria. Segui em frente. Fui orientado por um dos policiais a subir uma rua em contra-mão porque acima dela já me depararia com a cena do crime. No trajeto, olhos assustados me fitavam com surpresa pela minha presença naquele horário e diante daquela circunstância. Pensando que iria encontrar a dupla Robson e Michele (os repórteres mais bem informados de JF), subi o morro. Ledo engano. Eu era o único repórter na cena do crime.

Imediatamente meu carro pessoal foi cercado pelos moradores que gritavam revoltados:
- Assassinos! Mataram inocentes! Covardes!!!
Eu acabara de me tornar o Salvador da Pátria! Naquele momento me senti o Governador do Estado, o Secretário de Segurança Pública ou qualquer outra autoridade com poder para exonerar todos os policiais que estavam ali; uma espécie de Sassá Mutema, mas sem professorinha, porque eu estava totalmente sozinho com o meu ímpeto jornalístico.

Tive que pedir licença aos populares para abrir a porta do carro. Na minha frente havia um cordão de isolamento com cerca de 50 policiais militares, mas para chegar até lá, tinha que ouvir as informações que vinham de curiosos, moradores e alguns que se identificaram como sendo da família de uma das vítimas que eu ainda não sabia quem era. Me aproximei do cordão e foi recebido por um Major, já conhecido meu, que sentenciou:
-Você é louco!! O que você está fazendo aqui?
Respondi a ele:
- Me conta o que aconteceu. Vou ser direto, disse o policial: "Não posso dar grandes informações por que fui chamado para comandar essa operação de conter a população que está revoltada, mas posso te contar em Off. Policiais da viatura “tal” subiram aqui à procura de dois homens que assaltaram uma empresária no Bom Pastor (bairro de classe média alta na zona sul); e durante o cerco, um homem cruzou essa viela com uma arma na mão e um colega atirou nele. Ao se aproximar, o colega percebeu que a arma era de brinquedo, mas já não havia o que fazer. Trata-se de um jovem de 18 anos. O Corpo de Bombeiros teve dificuldade de acesso ao local para socorro à vítima e foi aí que me acionaram para cá, com a missão de conter a população que já começava a hostilizar a polícia. Não sei se houve troca de tiros. Não posso avaliar a atitude do meu colega, mas essa é a verdade".

Naquele momento, olhei em volta e percebi que eu seria o porta-voz do povo quando ultrapassasse o cordão de isolamento de volta. Isso porque os boatos já haviam tomado conta do bairro e davam conta de que dois jovens que eram irmãos tinham sido mortos, ou ainda, várias outras versões que não condiziam com os fatos. Caberia a mim dizer a verdade para a população, alguns sem saber o que acontecia de verdade e proibidos de chegarem até suas casas em razão do isolamento para garantir o trabalho da policia técnica.

Me deparei com uma questão. Como dar a informação sem provocar uma convulsão social e o violento confronto entre moradores e a polícia comigo na linha de tiro?
Respirei fundo e passei debaixo do cordão de isolamento voltando ao encontro dos moradores. Imediatamente fui cercado por eles. As perguntas eram tantas, e ao mesmo tempo, que deixei a condição de repórter e me tornei entrevistado. Os questionamentos se seguiram rapidamente aos gritos de alguns mais inflamados:
- Ta conivente com os pm´s assassinos!! Lincha!!! Lincha!!!

Meu carro se encontrava a uns 5 metros de distância e já sabia que teria dificuldades para deixar o bairro. Sentindo que a atribuição de controlar a população havia passado para mim desde a minha chegada ao local do crime, passei a conversar com todos, sem mesmo saber quem eram e que ligação tinham com o fato.
Liguei o gravador e coloquei na boca de todos que se aproximavam. Satisfeitos por terem recebido voz da imprensa, com o equipamento ligado fui gravando tudo e empurrando a massa na direção do meu carro. Ao chegar na porta, desliguei o gravador e disparei a seguinte frase:

Olha, o que aconteceu foi um absurdo!! Preciso acionar o Governador, o Secretário de Segurança, enfim, preciso obter um posicionamento deles, mas para fazer isso tenho que ir para a redação! Acompanhem a programação.

Com essas informações consegui entrar no carro, mas ainda temendo pela minha integridade física. Consegui ligar o carro, virá-lo na rua estreita e deixar o local sem maiores problemas. Entretanto, pelo caminho ainda ouvi alguns gritos de moradores que tinham visto o meu carro subir com identificação da emissora, ligaram o rádio, e claro, não ouviram nada, pois diante da minha situação não havia condição de transmitir um flash sequer. Isso fez com que a teoria de alguns inflamados, aparentemente se confirmasse. Eu estaria realmente do lado dos policiais. Deixei o bairro tremendo com medo de pedradas e sob os gritos de Vendido!! Covarde!! Conivente!!

Essa foi, sem dúvida, uma experiência que me ensinou muito e me fez crescer profissionalmente.