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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Pequenos amigos

Por Robson Rocha

Algumas matérias que vamos fazer nos surpreendem. Certa vez, nos passaram uma pauta em Alto Rio Doce, no Campo das Vertentes. Era o caso de uma família, tema de uma pesquisa da USP. Eles tinham problemas graves de crescimento, precisavam de hormônios e a universidade não estava enviando nenhum medicamento, pois eles não tinham como guardá-los, já que não tinham energia elétrica e os remédios precisavam ficar em geladeira.


















Ajeitamos a bagagem e saímos de Juiz de Fora em direção à Barbacena. Até aí tudo bem, cerca de 100km de estrada asfaltada. O pior seriam os pouco mais de 50km de estrada de chão de Barbacena a Alto Rio Doce.
Céu azul, sol quente, tempo bom. Bom? Bom, menos para a Michele e para mim que estávamos em uma Parati 93, sem ar condicionado. Nossas condições: passa um carro, fecha o vidro correndo. Não queríamos nos intoxicar e, também, porque a Michele não ficaria bem gravando uma passagem loira-poeira. A poeira baixou, abre o vidro correndo para não desidratar. E tanta gente paga para fazer sauna seca!

Enfim chegamos em Alto Rio Doce. Esqueci de contar um detalhe da pauta: teríamos que procurar a família, pois eles não tinham telefone e ninguém conseguiu entrar em contato. Na cidade tivemos a triste notícia: eles moravam na área rural entre Alto Rio Doce e Cipotânea.





















De volta à poeira, abre porteira, fecha porteira, pede informação. Falando em informação, na área rural é difícil encontrar alguém para pedir uma referência. “Depois da encruzilhada você vai pra...” foi a resposta que mais ouvimos. Erramos o caminho mais de não sei quantas vezes. Fomos parar em currais, estradas sem saída...

Enfim, chegamos. Era uma casinha perdida num vale. Chamamos e ninguém nos atendeu. Dos fundos da casa vinha um cheiro maravilhoso de torresmo. Fomos entrando pelo quintal e entorno de um tacho de cobre, um grupo trabalhava. Eles tinham matado um porco e, enquanto uma mexia o torresmo no tacho, outros picavam pedaços de carne. Eles simplesmente nos ignoraram. Depois descobrimos que alguns amigos da imprensa, com a arrogância que é peculiar a alguns profissionais da nossa área, tinham tratado mal a família, exigindo algumas coisas na hora da gravação. Mas isso não vem ao caso. Conseguimos quebrar o gelo e enquanto a Michele conversava com eles pegando dados para a matéria, fui fazendo imagens.
Há certa altura, ouvimos alguém tossindo, parecia um bebê, aí saiu da casa uma mulher, de 90cm de altura, que mal batia na minha cintura, era ela que estava tossindo.

Nesse bate papo, cometemos uma pequena gafe, estávamos tratando todos como mulheres. A voz deles era uma mistura de criança com mulher. Só caiu a ficha, quando um deles nos alertou: nós dois somos homens.
Eles nos ofereceram o que tinham de melhor: café, angu e carne. Dá para imaginar a cena? A Michele de blaizer, sentada em um barranquinho com uma caneca de café, um prato de angu e bife de fígado na mão.
A casa por dentro parecia uma casinha de boneca, ou a casa dos 7 anões.
Saímos deixando mais um grupo de amigos. Só voltamos lá mais uma vez e hoje não sabemos como estão.
Guardo comigo o carinho deles nos abraçando. Só isso valeu toda a dificuldade da viagem.

Os amigos que fazemos no caminho é o que mais nos gratifica nessa profissão.