Por Michele Pacheco
Fui convidada pelo Ricardo Bedendo, um profissional que admiro muito, para dar uma oficina-palestra de Jornalismo Policial no CES, Centro de Ensino Superior.
Amei o convite.
Como já disse em outros textos, adoro o contato com estudantes de comunicação.
Eles sempre têm uma curiosidade natural sobre a profissão e os desafios dela.
Hoje foi o primeiro dia. O Robson preparou um DVD com matérias policiais que tínhamos guardado no nosso arquivo pessoal.
O tipo de reportagem que tem um significado especial por algum motivo e que nos marcou.
Pois elas serviram direitinho ao meu propósito.
Mostrei os vídeos e fui explicando os bastidores de cada matéria, de cada informação exclusiva, de cada levantamento feito junto às fontes.
No início, achei que ninguém estava prestando muita atenção.
Afinal, ficar numa segunda-feira cedo numa sala escura vendo vídeos é suficiente para dar um sono daqueles.
Mas, aos poucos fui notando o interesse dos estudantes a cada história.
Eles estavam meio tímidos, parecendo sem jeito de expressar a própria opinião.
Depois de um intervalo, pedi que cada um apontasse a reportagem que mais tinha gostado ou que gostaria de ter feito ou que não gostou.
E fiquei surpresa com o resultado.
As colocações e explicações foram inteligentes e mostraram que todos tinham absorvido a mensagem passada.
Cada um se interessou mais por uma ou outra cobertura policial.
E as razões apresentadas para a escolha foram coerentes.
Notei também uma preocupação grande com conceitos básicos do jornalismo e as dúvidas típicas de estudantes de comunicação. Foi ética a cobertura do caso Eloá? É certo a imprensa colocar um seqüestrador ao vivo por telefone? Isso não piorou a situação? Como vocês fazem ao chegar no local de uma ocorrência? Como são recebidos pela polícia em casos complicados? Vocês já sofreram ameaças?
As perguntas mostraram que o grupo está sendo bem orientado pelos professores do CES.
São futuros profissionais que começaram cedo a colocar em discussão os valores e os erros da profissão.
Ninguém tem uma lei que determine o que é certo ou errado no jornalismo. Mas, o bom-senso é imprescindível!
Fiquei tão impressionada com o grau de profundidade dos questionamentos, que fui fazer uma pesquisa sobre as dúvidas dos estudantes. Acho que vai ser legal levar mais detalhes para discutirmos nesta terça-feira, último dia da oficina-palestra.
Achei um texto muito bom no Portal Imprensa, justamente sobre o caso do uso da entrevista por telefone no programa da Sônia Abrão. O autor do artigo discorda do que foi feito e alega que isso deu uma sensação maior de poder ao seqüestrador.
O Robson hoje comentou que, apesar da polêmica, não podemos esquecer o mérito do profissional que conseguiu localizar o número do telefone e fazer o contato.
Ele exerceu o papel de jornalista.
A discussão com os alunos foi empolgante a esse respeito e chegamos à conclusão de que nenhum de nós está realmente seguro para afirmar que foi certo ou errado.
Estou ansiosa para aprender mais com os estudantes amanhã. Esse é um intercâmbio de idéias e impressões que sempre traz benefícios.
Só posso agradecer ao Ricardo Bedendo e aos estudantes que sugeriram meu nome para a Semana de Comunicação do CES.
Na sexta-feira, vai ser a vez do Robson se divertir, dando um mini-curso de Noções Básicas de Câmera.
Tenho certeza de que todos vão gostar do que ele preparou.
Pena que vou estar trabalhando no horário e não vou poder tietar meu marido e mestre profissional.
O trabalho que ele teve montando o curso foi enorme.
Claro que em três horas só vai poder apresentar a versão super-reduzida. Mas, já vai ser um aprendizado e tanto.