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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Operação Metralha - 15 presos em Minas Gerais

Por Michele Pacheco

Hoje madrugamos!
Às 5h30 já estávamos na TV para cobrir uma operação conjunta das polícias Federal e Militar.
Fontes nos contaram dessa investigação há 4 meses.
Ficamos quietinhos, esperando o pessoal acabar o levantamento e finalmente vimos o sucesso do trabalho feito.

Às 4h, 240 policiais militares e federais se reuniram num depósito da Polícia Federal e ouviram explicações sobre a Operação Metralha.
O nome é uma alusão às histórias em quadrinhos da Disney, onde três irmãos criminosos infernizam a vida de todo mundo.
Nesse caso, os irmãos Metralha agiam no tráfico de drogas e na lavagem de dinheiro em Juiz de Fora e região.

Divididos em equipes, os policiais agiram em 24 alvos ao mesmo tempo.
No bairro São Benedito, zona leste da cidade, duas casas foram vistoriadas na Travessa São Lourenço.
Quando passamos por lá, bem cedo, o pessoal não tinha encontrado nada.
Mais tarde, as buscas revelaram que o local funcionava como ponto de venda de droga e laboratório para misturar cocaína.
No terraço, os policiais encontram um posto de observação.
De lá, os traficantes vigiavam toda a parte baixa do bairro e os acessos.
Quando notavam movimento policial, eles escondiam os entorpecentes e fugiam.

Nesta mansão no bairro Aeroporto, zona oeste de Juiz de Fora, foi preso um homem suspeito de liderar a quadrilha ao lado dos irmãos.
Ele é conhecido pelo apelido de Naninho e é apontado como um dos traficantes mais fortes da região.

Os vizinhos ficaram assustados com a movimentação policial.
Ninguém quis gravar entrevista, mas algumas pessoas contaram que a casa foi construída em poucos meses, o que chamou atenção.
O suspeito de tráfico morava no local há um ano.

O irmão dele, conhecido como Ge, foi preso no apartamento onde morava num prédio do bairro Alto dos Passos, outra área nobre de Juiz de Fora.
Os vizinhos também ficaram assustados.
Enquanto esperávamos a saída dos policiais com o preso, notamos que toda hora alguém abria uma janela, olhava para os carros das policiais militar e federal e para o nosso e perguntava o que estava acontecendo.

Uma mulher de pijama apareceu assustada, perguntando se era assalto no prédio.

A saída do suspeito foi acompanhada por alguns moradores desconfiados.
Segundo a polícia, Ge atuava no tráfico e na lavagem de dinheiro.
Ele era visto sempre com carros caríssimos e importados.
Chegou a atuar no ramo automobilístico, tendo uma agência de veículos, segundo as investigações.
Junto com ele os policiais apreenderam muitos documentos que podem ligar a família ao crime.

Ao todo, 15 pessoas foram presas. Todas foram levadas para a Delegacia da Polícia Federal, onde prestaram depoimentos. O último a chegar foi o terceiro “Irmão Metralha”, conhecido pelo apelido de Zói. Ele foi preso junto com a mulher. Um detalhe com relação a essa família de líderes de tráfico de drogas é que todos eram vistos sempre nos bairros onde comandavam a venda de drogas. E eram queridos por muitos moradores, já que conseguiam benefícios para a comunidade. Até parquinho para as crianças eles construíram.

Os homens presos foram encaminhados ao Ceresp, Centro de Remanejamento e Segurança Pública, e as mulheres à Penitenciária Arioswaldo Campos Pires. Os policiais apreenderam material para refinar cocaína, drogas, uma metralhadora pronta para o uso e R$ 80 mil. Uma cobertura jornalística de um fato como esse é empolgante, mas tem algumas complicações. Por uma questão de segurança e de hierarquia, os policiais que vão às ruas fazer as prisões e apreensões não podem passar dados.
A imprensa tenta descobrir o que está acontecendo. Alguns se desesperam com o deadline estourando e nada de entrevista oficial.

Nesta foto, dá para se ter uma noção do que foi a nossa manhã.
Jornalistas grudados na tela da delegacia tentando ver o que chegava nos carros e quem eram os presos.
A cada veículo que entrava, e eram muitos, a gente se posicionava para ver melhor o que estava trazendo.
Numa hora dessas, por mais que você queira é difícil evitar fazer muitas imagens e fotos. Tudo pode ser importante. Todos podem ser líderes da quadrilha.

A coletiva foi às 11h30. Levando em conta que os telejornais vão ao ar por volta do meio-dia, dá para imaginar a nossa correria.
O Delegado da Polícia Federal, Cláudio Nogueira, e o comandante da 4ª Região de Polícia Militar, Coronel Gilmar Simões de Lima, conversaram com a imprensa e explicaram a importância da operação, que desbaratou uma das mais poderosas quadrilhas de tráfico e lavagem de dinheiro da Zona da Mata Mineira.

Eu e o Robson tivemos que gravar rapidamente para enviarmos as fitas para a tv, mas adoramos esse tipo de matéria.
É a oportunidade que temos para encontrar conhecidos do meio policial, ouvir as novas histórias e peripécias do pessoal, saber como vão os policiais que já saíram de Juiz de Fora...
Não paramos de falar um minuto sequer na porta da delegacia.
Toda hora aparecia alguém para bater papo. E assim, o tempo foi passando.

Depois da coletiva, ainda ficamos um bom tempo na delegacia, esperando a saída do comboio que levaria os presos ao Ceresp.
Já estávamos ficando meio moles: sol forte e barriga vazia são um problema!
Desistimos de esperar, pois os policiais conseguiram com alguns dos presos informações importantes que renderam um desdobramento da ação da manhã.
Vários veículos que seriam fruto de lavagem de dinheiro do tráfico foram apreendidos.

Os policiais federais e militares também agiram em duas cidades da Zona da Mata.
Em Bicas, o dono de uma concessionária de automóveis foi preso por suspeita de lavagem de dinheiro.
Ele já tem histórico policial, pois foi preso por tráfico de drogas.
Em Muriaé, a casa da mãe de alguns suspeitos foi vistoriada e ela foi presa.
Nos dois casos, os presos e o material apreendido foram encaminhados para a delegacia da Polícia Federal em Juiz de Fora.

Enquanto esperávamos, eu me lembrava de detalhes do trabalho de inteligência feito em parceria pelas polícias federal e militar. Por uma questão óbvia de segurança, não podemos citar o nome de alguns policiais que consideramos exemplos de dedicação no combate ao crime. Quando a gente vê nos noticiários operações como essa, presta atenção apenas aos dados e imagens.
Poucas pessoas sabem o quanto o trabalho é árduo, até o resultado final.

Nós sabemos o quanto nossos amigos enfrentaram sol e chuva para investigar os passos dos “Irmãos Metralha”.
Quantas noites passaram longe da família, sem conforto.
Quanto stress enfrentaram cada vez que achavam que conseguiriam estourar os locais de venda de droga e prender todo mundo e os planos tinham que mudar por conta de atraso na entrega da droga.
Quanto perigo correram ao investigar uma quadrilha com tanto poder na região.

Mesmo que esses homens não apareçam nas reportagens, mesmo que continuem despercebidos no meio da multidão de policiais em ação, eles têm nosso respeito e nosso mais sincero agradecimento. Quem cobre polícia com freqüência vê que o tráfico de drogas está se tornando a fonte mais garantida de trabalho para muitas comunidades carentes.
Crianças, adolescentes e jovens crescem aprendendo que o dinheiro da droga vem rápido.
A morte também. Mas, isso nenhum traficante avisa antes de aliciar novos “soldados” do tráfico.