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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Produtores de leite protestam em Minas Gerais

Por Michele Pacheco

É impossível percorrer as estradas de Minas e não lembrar que o estado é o maior produtor nacional de leite.
Os caminhões-tanque seguem de um lado para o outro buscando e levando a matéria-prima das delícias produzidas pelos laticínios mineiros.
E ainda é possível ver pelas estradas vicinais aqueles suportes para os latões de leite.

Hoje, nossa pauta era seguir para a zona rural de Leopoldina.
O endereço era um sítio entre Argirita e Leopoldina.
A propriedade rural fica bem perto da BR 267.
E, mesmo assim, é uma tranquilidade só, cercada de verde e riachos.
Deixamos a Parati perto do curral, onde o rebanho curioso nos esperava.

Fomos recebidos pelo Odezio Evangelista da Silva.
Ele é dono de 22 vacas leiteiras, que produzem 120 litros de leite por dia.
O produtor herdou o sítio do pai e lida com gado de leite há 37 anos.
Mas, anda desanimado com a desvalorização do produto.
A situação nunca foi tranquila para os pequenos e médios produtores, só que agora anda pior.

Odezio explicou que gasta em média 75 centavos por litro de leite.
Depois, vende o produto por preços que variam de 59 centavos a 65 centavos.
O prejuízo desanima o homem do campo.
"Com o valor tão baixo, não dá para manter o sítio do jeito que eu gostaria.
Antes, eu tinha três empregados.
Tive que demitir dois.
E até a comida do gado teve que ser cortada.
Minhas vacas eram alimentadas com farelo e ração.
Agora, só dá para oferecer o pasto e capim no cocho" lamenta o sitiante.

Acompanhamos o Odezio ao curral.
O Robson fez boas imagens do gado e do produtor ordenhando as vacas.
Ele colaborou com nossa equipe e deixou duas delas sem ordenhar.
Assim, quando chegamos, foi só levar as "voluntárias" para o local reservado e tirar o leite.
Sempre fico encantada com a gentileza e a agilidade com que o pessoal do campo lida com os animais.

As vacas só ficaram nervosas com a movimentação do Robson.
Cada vez que ele se aproximava com a câmera, elas olhavam desconfiadas e ficavam virando a cabeça de um lado para o outro tentando ver para onde ele iria.
Algumas mais descoladas chegaram perto e mataram a curiosidade.
Outras, foram para o fundo do curral e ficaram vendo de longe.

Também, ele fica fazendo malabarismo com a câmera!
Quando o vi seguindo para a lateral do curral, não entendi nada.
Depois, vi que o preguiçoso estava encontrando um jeito de não ter que sair do curral, dar a volta no piquete e chegar de novo perto do curral pelo lado de fora para fazer imagem.
Eu chamo de preguiça, mas ele prefere dizer que está otimizando o tempo.
Então, tá!

Nesse vai e vem do Robson, quem se estrepou fui eu!
Fiquei quieta no canto para dar passagem às vacas.
Ele foi para o lado oposto.
Diante do engarrafamento bovino na porta do curral, fiquei parada, esperando que elas passassem e eu pudesse ir para o lado do Robson.
Mas, ele tinha que se mexer e assustar as coitadinhas!
Resultado, elas patinaram no chão cheio de...esterco fresco.
E eu fiquei respingada da cabeça aos pés.
Por sorte, meu blazer foi poupado e só havia sujeira na calça, nas mãos, no microfone, na minha pauta usada como rascunho...

Dei um jeito de me limpar e seguir com a matéria.
Fomos para o carro parecendo dois saches de curral.
Ainda bem que estou acostumada com o cheiro.
Meu pai era veterinário e sempre chegava em casa com os cheiros característicos da lida no campo.
Como isso era um símbolo do amor dele pelo trabalho e pelos animais, nunca me incomodou.

Seguimos para Leopoldina.
Cerca de 500 produtores de leite da Zona da Mata e do Campo das Vertentes se reuniram no Parque de Exposições.
Eles aproveitaram o Dia Nacional da Pecuária para cobrar melhores condições para o homem do campo.
O que todos querem é um preço mais justo para o leite.
Afinal, eles recebem em torno de 65 centavos o litro do leite tipo C e o consumidor paga pelo mesmo litro de leite C na faixa de dois reais.

Para protestar, os tratores deixaram o campo e invadiram as ruas da cidade.
Por onde passavam, chamavam a atenção dos moradores.
Quem estava nas ruas, parou para ver a cena inusitada.
A "tratoreata" percorreu todo o centro do município da Zona da Mata Mineira.
Os trabalhadores rurais que conduziam os tratores estavam sérios, lembrando o risco de desemprego em massa na zona rural.

O protesto foi feito por famílias inteiras.
Havia produtores e trabalhadores rurais.
Todos temem a falência da pecuária leiteira no Brasil.
O presidente do Sindicato Rural de Leopoldina disse que este é um dos momentos mais críticos já vividos pelos produtores leiteiros no país.
Salviano Junqueira Júnior criticou o governo federal: "não adianta ficar falando do Fome Zero e matar de fome o homem do campo.
Cadê a preocupação do governo com os produtores de leite que estão recebendo uma miséria pelo produto?"

Atrás dos tratores, seguiam os produtores com faixas de protesto e cobrança de providências das autoridades.
O manifesto dos produtores leiteiros teve apoio de sindicatos rurais de várias cidades da região.
Nas faixas levadas pelos manifestantes, a população leu e entendeu o drama que aquelas pessoas estão vivendo.

Durante o protesto foi lembrado que, desde a criação do Plano Real, os insumos usados na produção leiteira tiveram 600% de aumento, contra apenas 100% de aumento no preço do leite.
O resultado é um empobrecimento do homem do campo e a desistência de muitos pequenos e médios produtores de leite.
"Com o gado de corte, você chega no matadouro e pergunta quanto eles pagam.
Com o gado de leite, você vende a produção e nem sabe quanto vai receber.
Do mês passado para agora, o preço caiu 17 centavos em Leopoldina, isso tirou de circulação um milhão e meio de reais" explicou um produtor.

Os manifestantes pararam em frente à Câmara Municipal de Leopoldina e cantaram o Hino Nacional.
O momento de patriotismo foi um lembrete para as autoridades.
Não existe uma nação independente e soberana sem alimentos.
Se o governo não começar a prestar atenção às necessidades do homem do campo, ele vai largar tudo e inchar ainda mais as cidades.
O desemprego vai aumentar e a fome também.