Por Robson Rocha
Quando entrei em tv ninguém falava em tv digital. Imaginar gravar uma matéria em um cartão e enviar por pacotes de dados pelo correio eletrônico, seria motivo de riso, e provavelmente alguém faria uma piadinha do tipo: vai pelo correio Americano? E o pacote é pra presente?
Mas, estamos passando por uma revolução tecnológica e que muitas pessoas do meio não estão percebendo. Hoje, as imagens podem ser feitas e enviadas via celular. Podem ser feitas por uma câmera, descarregadas em um notebook e enviadas via e-mail.
Muita gente vê uma câmera de tv de hoje e não imagina como era complicado há vinte anos.
Quando comecei na televisão, em 1988 as câmeras tinham 3 tubos(RGB), que transformavam a intensidade de luz em corrente elétrica. E era muito engraçado, pois era comum as câmeras marcarem o tubo. O que era isso? O tubo marcava quando o cinegrafista enquadrava um ponto de luz muito forte, que gerava uma corrente elétrica muito alta e que literalmente queimava aquele ponto do tubo onde a imagem havia sido projetada.
A primeira câmera de externa com a qual tive contato foi com uma Sony DXC 1800. Como dá pra ver na foto, era uma câmera, digamos, esquisita. Ela apenas captava as imagens, o sinal gerado era levado para o VT por um cabo tipo ccq. O operador de vt é que fazia a monitoração de áudio e vídeo. O cinegrafista se preocupava apenas com a imagem. Só por curiosidade a resolução dela era de 300 linhas.
Trabalhei também com Ykegami HL-35 e Ykegami HL-77.
Depois chegaram em Juiz de Fora as BVP’s 110, que na emissora eram conhecidas como ferrinho de passar. Elas eram muito leves e com o zoom fechado era muito difícil manter a imagem estável. Todas elas da mesma forma que a DXC 1800 captavam as imagens e geravam o sinal para ser gravado no vt.
Em comum essas câmeras tinham uma coisa: necessidade de luz. Spot’s com lâmpadas de menos de 1000w não serviam. Com a HL 77 para uma área de 100 metros quadrados no mínimo usávamos 4000w. Usar lâmpadas de 100w como usamos hoje, não serviria para absolutamente nada!
Quando chegaram as câmeras DXC-537, com 3ccd’s, foi o paraíso, pois elas não precisavam de tanta luz. E aí começaram a aparecer problemas nas imagens, porque imagem é luz. A câmera precisa de luz, pois ela sozinha não corrige as imperfeições das iluminações de onde as matérias são gravadas.
Hoje, com a chegada de equipamentos HD, os cinegrafistas estão se esquecendo novamente da luz e que a câmera sozinha não faz nada.
E a câmera de alta definição é cruel com o cinegrafista, pois mostra o que o equipamento SD(standard) não mostrava.
E provavelmente vai expor muito os erros de operação.
A mudança no padrão de imagens de 4x3 para 16x9 vai refletir nas regras de enquadramentos e talvez o ponto de ouro mude dos 2/3 e volte para 5/8, quem sabe? Mas para saber isso, todos nós vamos ter que aguardar que os diretores de cada emissora definam a nova "linguagem" visual de cada empresa. E aí, devem ser promovidos cursos para, além disso, mostrar o que muda na iluminação, profundidade de campo, definição de imagem, etc. E novos manuais para cinegrafistas devem ser lançados.
O que todo cinegrafista tem que ter em mente é que da câmera de tubo, passando pelos CCD’s,
aos CMOS’s o principio básico da câmera continua o mesmo:
A luz entra pela lente, passa pelos prismas e chega ao target(tubo, CCD ou CMOS).
O processamento dessa luz e do sinal é que muda.
Então temos que saber mais e não esquecer o básico, a luz.
E para ter imagem em televisão é preciso como diz o diretor:
Luz, câmera e ação.