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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

sábado, 31 de maio de 2008

Juiz de Fora 158 anos

Por Robson Rocha

Juiz de Fora surgiu com a abertura do caminho novo, estrada criada para o transporte do ouro no século XVIII.
Diversos povoados surgiram, devido ao movimento de tropas que faziam o caminho entre o Rio de Janeiro e as Minas Gerais.
Entre eles, o povoado de Santo Antônio do Paraibuna.
Em 1850, a Vila foi elevada à categoria de cidade e quinze anos mais tarde, ganhou o nome de Juiz de Fora.
Nós, que moramos aqui, achamos o nome da cidade normal, mas quem é de fora acha estranho.
O Juiz de Fora era um magistrado nomeado pela Coroa Portuguesa para atuar onde não havia Juiz de Direito.
Existem divergências quanto à origem do nome, mas a versão mais aceita pela historiografia admite que um desses magistrados hospedou-se por pouco tempo em uma fazenda da região, passando esta a ser conhecida como a Sesmaria do Juiz de Fora. Mais tarde, próximo a ela, surgiria o povoado.
Já fizemos muitas matérias sobre Juiz de Fora e, até hoje, ninguém sabe ao certo quem foi esse juiz de fora e o que ele fazia por aqui.

Independente do nome, a cidade que conhecemos hoje, se deve muito a alguns personagens importantes.
Um deles foi o engenheiro alemão Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld ou, Henrique Guilherme Fernando Halfeld que empresta seu nome a uma das principais ruas do comércio local.
Ele desenvolveu uma série de obras, entre elas a estrada do Paraibuna, que depois passou a se chamar rua direita e que hoje é a principal via da área central de Juiz de Fora, a Avenida Barão do Rio Branco.

Olhando uma foto como essa, ao lado, não dá pra imaginar que essa é a futura avenida Rio Branco.
Com pouquíssimas casas, parece mais uma fazenda e, em nada, lembra a via movimentada de hoje.

Ainda no século XIX, agora já nomeada como rua Direita, já tomava a forma de avenida e chegou a ser citada no diário de D. Pedro II.
E a cidade se desenvolveu entorno dessa longa rua, que refletia o desenvolvimento da cidade.

Novas construções foram surgindo.
E as fotos da época mostram o charme e a tranqüilidade de uma cidade do interior.
Nessa foto da década de 1940, bondes, carros e pedestres parecem conviver em harmonia.

E, olhando do alto, a Avenida fica ainda mais bonita com o charme do Parque Halfeld.
O jardim aparenta ser limpíssimo, com os carros parados, parece uma cena de cinema.
O cenário perfeito, que infelizmente, não conheci.
A avenida foi mudando aos poucos.

Um dos primeiros arranha-céus da cidade foi o edifício do Clube Juiz de Fora, que foi o terceiro construído na avenida Rio Branco.
Nessa época, os bondes ainda transitavam pelo centro da via, que já não lembrava em nada a Estrada do Paraibuna.

O tempo passou e os bondes deram lugar aos carros e ônibus.
E, o patrimônio também não foi respeitado.
O prédio e a capela do Colégio Stela Matutina, não existem mais.
Assim como a maioria dos imóveis do final do século XIX e inicio do século XX.
Hoje, ainda existem alguns poucos prédios que contam parte da história de Juiz de Fora.

Um deles é o prédio das “Repartições Municipaes”, onde funcionou a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora.
O prédio de estilo eclético foi construído em 1918.
Passamos muitas vezes por ele e nem sempre notamos a beleza.

Um dos imóveis preservados e que tem uma história curiosa é o Palacete Santa Mafalda.
Ele foi construído no final da década de 1860 pelo comendador Manoel do Valle Amado, um rico proprietário rural que queria presentear o Imperador D. Pedro II com a obra.
Quando o imperador veio à cidade em 1861, para a inauguração da Companhia União Indústria, ali ele assinou importantes documentos.
Mas, se negou a aceitar o presente do comendador.
Magoado com a recusa, Amado ordenou que a casa jamais fosse habitada, desejo respeitado também por seu filho, o Barão de Santa Mafalda.
A casa só foi reaberta em 1904, quando foi doada à Santa Casa de Misericórdia e todo seu acervo foi leiloado.
Em 1907, o prédio foi vendido ao governo do estado, que montou ali, o primeiro grupo escolar de Minas Gerais.

Outra edificação que esteve abandonada e foi invadida por andarilhos, mendigos e mesmo marginais, foi o castelinho da Seg, como a maioria das pessoas conhece. Construção eclética, um palacete inspirado na mansão Guinle, no Rio de Janeiro. A obra foi projetada e construída por volta de 1924 pelo Dr. Ulisses Guimarães Mascarenhas. Apresenta várias referências das arquiteturas passadas, e possui uma torre de estilo medieval.
Hoje, depois de uma briga judicial está novamente preservado.

A primeira capela de Santo Antônio foi construída em 1847 e em 1924, foi elevada à condição de Catedral Metropolitana, passando por muitas reformas e sendo transformada na construção grandiosa que conhecemos hoje.
Ela se destacava na paisagem urbana. Mas, agora, devido às inúmeras construções ao seu redor, é visível de poucas partes da cidade.

Também existe este mosaico de Portinari, que está preservado e fica de frente para o antigo Jardim Municipal, o atual Parque Halfeld, que é tombado pelo patrimônio histórico, desde 29 de dezembro de 1989.

O local já foi palco até de touradas, sendo que era de chão batido.
Era capinado e limpo para a instalação de diversões itinerantes que passavam pela cidade.
Em 1854, a Câmara Municipal adquiriu o espaço do engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld.

O local passou a se chamar Largo Municipal. Sua primeira reforma data de 1879, quando foi ajardinado e finalmente, em 1906, foi totalmente reformado.
A obra foi financiada pelo coronel Francisco Mariano Halfeld, passando, em virtude disso, a se chamar Parque Halfeld.

A família do Mário Caruso tem uma banca de jornais na avenida desde 1926.
Ela começou funcionando onde hoje é o prédio do edifício Clube Juiz de Fora e depois que ele pegou fogo, a banca passou para o lado do Parque Halfeld.
Caruso se orgulha da Avenida que faz parte da vida dele e onde viu todo o tipo de manifestação popular.
A artéria de Juiz de Fora leva vida à cidade. A Rio Branco é o palco preferido de manifestações e protestos.
Onde muitas vezes, o trânsito intenso dá lugar à disposição dos ciclistas que participam de Passeios Ciclísticos. A avenida também já foi o endereço da folia e dos desfiles de Escolas de Samba.

Sem sair da banca, Mário vê o desfile de carros militares e o orgulho dos pracinhas e ex-combatentes brasileiros por estarem desfilando no maior palco de Juiz de Fora na parada de 7 de setembro.
Porém, dali, ele também vê que a via tão importante para a cidade é contaminada pelos problemas da Juiz de Fora que cresce.
A violência infelizmente marca presença na história da Rio Branco. São roubos, assaltos, acidentes de trânsito.

Todavia, se Henrique Guilherme Fernando Halfeld pudesse ver, hoje, o projeto dele, com certeza se sentiria orgulhoso.
Afinal de contas, a Estrada do Paraibuna continua sendo a mais importante via de Juiz de Fora, mesmo com todos os problemas de uma cidade que, aos 158 anos, tem mais de meio milhão de habitantes.