Por Michele Pacheco
Sexta-feira, fim de horário.
Tínhamos acabado de cobrir uma exposição sobre o ex-presidente Itamar Franco e estávamos na TV gerando o texto de uma matéria pedida pelo SBT Brasil, quando ouvi o telefone tocando.
Senti até os cabelinhos da nuca arrepiando.
Meu sexto sentido não se enganou.
Era mesmo mais serviço! E dos trabalhosos!
Às nove da noite dessa sexta, dia 14 de novembro, 25 adolescentes em conflito com a lei, acautelados no CSEJF, Centro Sócio-educativo de Juiz de Fora, se rebelaram e começaram a destruir celas. Assim que a fonte passou os dados, corremos para lá. Primeiro, encontramos um local num morro do outro lado para garantir imagens do alto. Só dava para ver, no escuro, alguns policiais e agentes andando por um pátio. Mas, já era alguma coisa.
O barulho era muito alto. Uma mistura de gritos revoltados e latidos de cães policiais. Descemos e fomos para a porta. De lá, não dá para ver nada, já que muro é muito alto. Havia muitos carros da Polícia Militar. Assim que o tumulto começou, a direção do CSEJF pediu socorro à PM.
Em casos assim, as equipes da 3ª Companhia de Missões Especiais são acionadas.
Às nove da noite dessa sexta, dia 14 de novembro, 25 adolescentes em conflito com a lei, acautelados no CSEJF, Centro Sócio-educativo de Juiz de Fora, se rebelaram e começaram a destruir celas. Assim que a fonte passou os dados, corremos para lá. Primeiro, encontramos um local num morro do outro lado para garantir imagens do alto. Só dava para ver, no escuro, alguns policiais e agentes andando por um pátio. Mas, já era alguma coisa.
O barulho era muito alto. Uma mistura de gritos revoltados e latidos de cães policiais. Descemos e fomos para a porta. De lá, não dá para ver nada, já que muro é muito alto. Havia muitos carros da Polícia Militar. Assim que o tumulto começou, a direção do CSEJF pediu socorro à PM.
Em casos assim, as equipes da 3ª Companhia de Missões Especiais são acionadas.
Encontramos policiais do GATE, do Choque, do Canil e da Rotam, além do GRI (Grupo de Resposta Imediata). Todos os policiais estavam preocupados. Uma hora e meia depois do início da rebelião, a situação parecia controlada. Os rebelados conseguiram destruir oito celas. Eles abriram buracos nas paredes, unindo os alojamentos e se amontoaram no último deles.
Os amotinados foram remanejados para outras celas.
Os amotinados foram remanejados para outras celas.
Os policiais que saíam para guardar os equipamentos no carro mostravam um ar aliviado. Tudo tinha acabado. Mas, estavam enganados. Por volta de onze da noite houve mais gritos e os PMS correram de volta para os carros, se equiparam e voltaram ao interior do centro. Os adolescentes tinham reiniciado a rebelião nas celas para onde foram levados. Mais seis foram destruídas.
O jeito foi levar os líderes para uma quadra esportiva na lateral do centro sócio-educativo. Do lado de fora a gente ouvia as ameaças que eles faziam aos agentes e policiais. Os revoltosos usaram pedras e pedaços de pau para ameaçar os agentes e os policiais. Assim que foram colocados na quadra, eles atacaram alguns agentes. A situação da polícia militar era delicada.
A segurança e o funcionamento do centro são de responsabilidade da Secretaria Estadual de Defesa Social, a SEDS. Mas, quando o bicho pegou, a PM teve que assumir a situação crítica. Só que os policiais não podiam agir da mesma forma que atuam em rebeliões em presídios e penitenciárias. Nesse caso, o uso da força para controlar a rebelião foi impossível. Por se tratar de adolescentes, protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, qualquer arranhão seria motivo de sindicância.
Controlar apenas com conversa adolescentes rebeldes, com histórico de violência e sedentos por sangue, foi um desafio e tanto. O comandante da 3ª CME disse que as reivindicações eram por melhores condições no CSEJF. Mas, ele não entrou em detalhes sobre que melhorias eram exigidas e disse que as reclamações são de assuntos internos, que vão ser avaliadas pela direção.
Acompanhamos o caso até às 3 da manhã. Chovia muito e a gente não podia sequer descansar os olhos. O carro ficou parado longe. Não dava para escorar nos carros da PM, pois estavam molhados. O jeito foi ficar de pé, contando histórias, rindo e tentando esquecer o sono e a dor na coluna por ficar tanto tempo na mesma posição. E ainda tem gente que acha que vida de repórter é só glamour!
Com certeza eu e o Robson não estávamos nada glamourosos encharcados, tiritando de frio, com cara de sono, com fome...
O jeito foi levar os líderes para uma quadra esportiva na lateral do centro sócio-educativo. Do lado de fora a gente ouvia as ameaças que eles faziam aos agentes e policiais. Os revoltosos usaram pedras e pedaços de pau para ameaçar os agentes e os policiais. Assim que foram colocados na quadra, eles atacaram alguns agentes. A situação da polícia militar era delicada.
A segurança e o funcionamento do centro são de responsabilidade da Secretaria Estadual de Defesa Social, a SEDS. Mas, quando o bicho pegou, a PM teve que assumir a situação crítica. Só que os policiais não podiam agir da mesma forma que atuam em rebeliões em presídios e penitenciárias. Nesse caso, o uso da força para controlar a rebelião foi impossível. Por se tratar de adolescentes, protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, qualquer arranhão seria motivo de sindicância.
Controlar apenas com conversa adolescentes rebeldes, com histórico de violência e sedentos por sangue, foi um desafio e tanto. O comandante da 3ª CME disse que as reivindicações eram por melhores condições no CSEJF. Mas, ele não entrou em detalhes sobre que melhorias eram exigidas e disse que as reclamações são de assuntos internos, que vão ser avaliadas pela direção.
Acompanhamos o caso até às 3 da manhã. Chovia muito e a gente não podia sequer descansar os olhos. O carro ficou parado longe. Não dava para escorar nos carros da PM, pois estavam molhados. O jeito foi ficar de pé, contando histórias, rindo e tentando esquecer o sono e a dor na coluna por ficar tanto tempo na mesma posição. E ainda tem gente que acha que vida de repórter é só glamour!
Com certeza eu e o Robson não estávamos nada glamourosos encharcados, tiritando de frio, com cara de sono, com fome...
Nossa sorte foi que eu sou prevenida e sempre ando com algumas guloseimas no carro.
Parecia o milagre da multiplicação dos biscoitos.
Um pacote de cream cracker foi suficiente para nos alimentar a madrugada toda. E ainda dividimos com vários policiais. O pior foi a sede que deu. Por lá, no tumulto, só tínhamos para beber a água da chuva.
Outro beneficiado pelo nosso picnic foi esta cadelinha muito simpática.
Outro beneficiado pelo nosso picnic foi esta cadelinha muito simpática.
Ela deve estar acostumada a receber alimentos lá.
Cada vez que alguém se movimentava, ela ia atrás com olhos tristes, que pareciam implorar por carinho e comida.
A vira-lata grudou no Robson.
Volta e meia ela latia e voltava com ar de quem tinha cumprido o dever e merecia recompensa.
Cheirava cada um de nós e saía desanimada por não achar nada comestível.
O Moisés Valle, cinegrafista da TV Panorama, também foi nossa companhia na madrugada.
O Moisés Valle, cinegrafista da TV Panorama, também foi nossa companhia na madrugada.
Ele estava sem repórter.
A cada hora que passava, ficava mais desanimado.
Tinha um compromisso às sete da manhã e já estava começando a pensar que teria que ir direto.
Depois que deixamos o centro e voltamos para a TV, ele ainda seguiu no plantão na porta.
O que nos surpreendeu foi que toda vez que se discute a questão de adolescentes em conflito com a lei, diversos órgãos de direitos humanos e representantes da sociedade civil levantam bandeiras e dizem lutar pelos direitos das pessoas com menos de 18 anos. Só que na madrugada, diante da fúria de adolescentes que agem mais como animais do que como seres humanos, nenhuma autoridade apareceu para acompanhar o andamento da crise.
É muito ruim ficar do lado de fora, ouvindo os gritos irados e imaginando que aqueles rebelados mal começaram a viver e já têm pouquíssimo respeito pela vida. Deles e dos outros. E as famílias sofrem muito e se sentem impotentes para recuperar os filhos queridos. Entre os amotinados, estava o adolescente de 17 anos que foi apreendido pela Polícia Civil em Juiz de Fora neste ano. Ele é suspeito de integrar uma quadrilha de roubo a bancos populares e casas lotéricas.
O que nos surpreendeu foi que toda vez que se discute a questão de adolescentes em conflito com a lei, diversos órgãos de direitos humanos e representantes da sociedade civil levantam bandeiras e dizem lutar pelos direitos das pessoas com menos de 18 anos. Só que na madrugada, diante da fúria de adolescentes que agem mais como animais do que como seres humanos, nenhuma autoridade apareceu para acompanhar o andamento da crise.
É muito ruim ficar do lado de fora, ouvindo os gritos irados e imaginando que aqueles rebelados mal começaram a viver e já têm pouquíssimo respeito pela vida. Deles e dos outros. E as famílias sofrem muito e se sentem impotentes para recuperar os filhos queridos. Entre os amotinados, estava o adolescente de 17 anos que foi apreendido pela Polícia Civil em Juiz de Fora neste ano. Ele é suspeito de integrar uma quadrilha de roubo a bancos populares e casas lotéricas.
No dia em que foi preso, chocou todo mundo ao dizer que usava um revólver calibre 38 para dar tiros nos outros e que queria matar muita gente. Será que uma pessoa assim, apaixonada pela violência tem recuperação antes de virar um adulto ainda mais agressivo? Se tem, qual seria o melhor caminho? Quem tiver a resposta, pode ajudar a mudar o mundo.