Por Michele Pacheco
Todo jornalista tem lembranças do trabalho mais marcante que já fez. Um dos meus preferidos foi a cobertura das trombas d´água no Sul de Minas no início de 2000. Uma seqüência de tempestades violentas deixou inúmeras cidades inundadas.
Na época, eu e o Robson trabalhávamos na sucursal da TV Alterosa em Juiz de Fora (a sucursal virou emissora dois meses depois). Lembro que passamos o dia em São Brás do Suaçuí, perto de Congonhas, fazendo uma reportagem produzida para o Alterosa Esporte com o Lincoln, que jogava no Atlético Mineiro. Depois de um dia numa fazenda, sob um sol de rachar, chegamos em Juiz de Fora no fim da tarde, doidos por um banho e descanso. No meio do caminho, veio a ligação de Belo Horizonte. Era a Cristine Cruz, produtora do interior (hoje na Record Minas), avisando que uma tempestade tinha inundado Aiuruoca e que a equipe tinha que seguir para lá o mais rápido possível. Fomos direto.
Chegamos na cidade por volta de sete da noite. O carro teve que ser abandonado na entrada da cidade, pois as ruas estavam alagadas. O centro fica no alto e o córrego passa por várias ruas mais baixas. Resultado, atravessamos a inundação, rodamos todo o centro à pé, fomos às casas e empresas alagadas, ouvimos moradores. Fomos para o hotel por volta de meia-noite.
Às cinco da manhã, estávamos partindo para Caxambu. Aproveitamos que a cidade é colada em Aiuruoca para pegar o rescaldo dos estragos, aliviando o serviço da equipe de Varginha. Ficamos sabendo que São Lourenço estava isolada e que a equipe do Sul não tinha conseguido entrar. Já que estávamos perto, resolvemos tentar.
Na entrada de São Lourenço, a ponte estava interditada, com risco de desabamento. Achamos que nosso esforço tinha ido por água abaixo, mas vimos um barco e pedimos carona. Em dez minutos, gravamos a parte alagada mais próxima e os moradores nos telhados das casas. O único susto foi quando um monte de galhos agarrou na hélice do barco e nós ficamos à deriva na correnteza forte, correndo o risco de bater numa casa no meio do caminho ou na rede de alta tensão que ficou próxima da água. Imaginem o desespero do Robson, que não sabe nadar e tem 1,90m, espremido no fundo do barco pequeno para não esbarrar nos fios. Tudo deu certo e voltamos para a estrada.
Tínhamos que estar em Juiz de Fora até as dez da manhã para gerar o material para Belo Horizonte pela Embratel. Foi um sufoco só, mas valeu a pena. Furamos todas as outras emissoras com as imagens inéditas. Naquele dia, fomos a única equipe de jornalismo a conseguir imagens de dentro de São Lourenço. Missão cumprida, só queríamos descansar. Mas, São Pedro tinha outros planos e mandou mais trombas d'água para o Sul. Resultado, fomos deslocados sem previsão para voltar para casa. Mas, isso é outra história...