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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Festival da loucura

Por Robson Rocha

Cheguei do Festival da Loucura em Barbacena, louco para postar um texto sobre o evento. Baixei as fotos e apaguei do cartão fotográfico. Loucura, eu sei! Pois aí, logo depois, meu computador queimou a fonte. É coisa de doido!
Fiquei enlouquecido, porque não gosto de postar texto sem fotos. Peguei o notebook e tentei escrever alguma coisa. Mas, meu nervoso era tanto, que estava à beira de um ataque de nervos.
Tentei dar um eletro-choque no meu PC, mas foi em vão. Pra fazer uma lobotomia nele e transferir alguma coisa para o notebook era impossível.
O jeito foi me acalmar e hoje o levei em uma clínica eletrônica, onde recuperaram meu computador, sem nenhuma violência. Ele voltou pra casa bonitinho.

E como as fotos estão recuperadas, posso contar que fomos a Barbacena para cobrir um festival que é muito bacana: o da loucura.
Começamos gravando uma mesa redonda com o tema:
“Nunca houve um homem como Heleno 1920-1959”.
Heleno de Freitas foi um grande jogador do Botafogo de 1945 a 1948 e 1950. O centroavante atuou pelo Vasco (1949), Boca Juniors, da Argentina(1951), América do Rio (1951), Atlético Barranquilla (1951 e 52) e Santos (1953).
E ficou internado de 1954 até 08 de novembro de 1959, quando morreu aos 39 anos em Barbacena, de sífilis cerebral.

Foi uma divertida aula com Luiz Mendes, jornalista esportivo da rádio Globo, e, principalmente, com o médico José Teobaldo Tolendai, que cuidou de Heleno.
Eles conseguiram dar uma aula, sobre um assunto sério, mas de forma descontraída.
Contando várias histórias desse mineiro que nasceu em São João Nepomuceno.

Dali, fomos almoçar e depois visitamos a tenda ou, o circo.
Onde de cara, a gente encontrava um Dom Quixote enorme todo feito de sucatas, lembrando o maior louco da literatura mundial. Muito bacana!
Depois, a gente passava por uma exposição de quadros pintados por pacientes psiquiátricos.
Havia também muitas fotos dos pacientes em um grande mural, onde a gente não cansa de olhar e tentar entender a felicidade deles. Era uma exposição mostrando a emoção de quem voltou para casa com a desospitalização.

Logo à frente, me deparei com muitas fotos antigas de Barbacena. Como adoro fotos antigas, não resisti e vi uma por uma. E uma coisa me deixou feliz, eles estavam vendendo um cd com as fotos. Lógico que depois voltei e comprei!
Mas, enquanto gravava as fotos, ouvi uma gritaria. Era um grupo fantasiado de loucos levando a Michele para uma tenda onde fizeram alguns testes de loucura com ela. Era o grupo Blade, de Belo Horizonte, que ficava o tempo todo fazendo maluquices. Todo mundo que passava por lá era obrigado a usar um chip de louco.

Com as loucuras, o grupo conseguia prender a atenção dos turistas, que
participavam das brincadeiras, mas em momento algum deixava de registrar as coisas estranhas que eles faziam. Na verdade, eles nos mostravam que todos nós somos um pouco loucos.
E a loucura ali é tão levada à sério, que eles me tomaram a câmera e me fizeram vestir um paletó de mil novecentos e preto e branco. Mas não bastava só vestir. Tive que fazer todas as gravações usando o paletó que tinha cheiro de guarda-roupas. Fazer o quê?

Saímos e fomos para o Museu da Loucura, um lugar em que você viaja no tempo e pode conhecer o tamanho da maldade humana.
Fotos de depósitos de pessoas, que loucas ou não, sofriam as maiores torturas que um ser vivo pode suportar.

O Jornal Estado de Minas, que denúciou em 28 de agosto de 1979
“A vida que se esconde nos depósitos de lixo humano”.
As imagens são fortes e as fotos não precisam de texto, elas por si só dizem tudo.

Depois, visitamos e gravamos nas casas onde vivem hoje os internos.
O legal é que não tínhamos marcado nada e pudemos circular sem restrições.
O único pedido foi não identificar os pacientes.

Fiquei feliz, pois a transparência mostra que lá ninguém tem nada a esconder. Nos admiramos com a limpeza e principalmente a qualidade de vida que os pacientes têm ali.
A Francisca é a funcionária que nos acompanhou na visita.
Muitos dos internos conversaram com a gente, eles têm carências, entre elas a de conversar com as pessoas.
E muitos ainda são remanescentes dos períodos de tortura. Alguns até hoje ainda não se acostumaram com a nova realidade. Andando por lá, em determinados momentos dá vontade de chorar.

Depois que escrevemos um texto sobre o museu da loucura, o Alexandre nos mandou um e-mail sobre a história de seu avô, que foi internado lá. Tentamos entrar em contato com o Alexandre, mas os e-mails retornaram.

Estamos juntando várias histórias sobre a loucura e talvez em breve postaremos algumas.