Por Michele Pacheco
Tenho 34 anos e a vida inteira fui à praia com meus pais. Acho bonito o cenário, gosto do vento típico do litoral e do barulho das ondas. Mas, nessas férias tive a oportunidade de redescobrir a magia do mar.
Seria apenas mais uma ida a Sossego, no litoral norte do Rio de Janeiro, para aproveitar a casa de praia da Therezinha, mãe do Robson. Quando a chuva deu uma trégua, fomos à la playa! Para nós, tudo na mesma, água escura, areia também, água de coco doce e gelada. Foi quando começamos a observar o Mariano, "namorido" da minha sogra com olhar jornalístico. Ele nunca tinha visto o mar e estava deslumbrado como uma criança. Personagem ideal para uma linda matéria de comportamento.
Passamos a curtir o período no litoral de outra forma. Vendo nossas lembranças de infância ganhando forma num homem de 73 anos, pai e avô. Os olhos do Mariano brilhavam de um jeito diferente ao olhar a praia. Ele chegava, enchia o peito do ar marinho, olhava o horizonte e sorria como criança. Depois de caminhar pela areia, era hora de entrar na água. Dava gosto de ver. Ia com calma, respeitando as ondas e se acostumando com o vai-vem delas. Ficava só no raso, mas era suficiente. Deitava, nadava, pegava jacaré. A cada "braçada", olhava para a Therezinha e sorria como um menino orgulhoso. Ir embora era sempre motivo de tristeza. Ele sempre queria dar mais uma caminhada, entrar mais um pouquinho na água...
Um dia, fomos à Lagoa do Siri, em Marataizes, no Espírito Santo. Foi uma hora de viagem mais ou menos. Pelo caminho, as criações de gado e as plantações de cana e de abacaxi surpreenderam o Mariano. Ele fez todo tipo de pergunta. Queria saber sempre mais. Só ficou mudo ao passarmos por uma ponte precária no caminho.
A paisagem da Lagoa do Siri deixou o Mariano encantado. Ele e a Therezinha não pararam um minuto sequer. Deixaram as coisas na mesa que escolhemos e foram caminhar pela praia. O lugar é mesmo lindo. Uma faixa de areia separa o mar da lagoa. Enquanto algumas pessoas preferem ficar na praia, outras se espalham pelas inúmeras mesas colocadas na margem da lagoa. Os restaurantes garantem atendimento o tempo todo.
Estávamos ficando preocupados com a demora, quando eles voltaram sorridentes. O Mariano tinha adorado a praia, mas teve trabalho para entrar na água, pois o mar é mais forte lá. A solução foi curtir a água calma e na temperatura ideal da lagoa. E ele aproveitou! A animação do nosso amigo era páreo duro para a das crianças que nadavam ao redor.
Voltamos para Sossego, onde ficamos duas semanas na companhia deles. A cada dia de praia, mais uma lição de vida. Quantas vezes perdemos tempo deixando de fazer alguma coisa, com medo de parecer ridículo? Quantas vezes recusamos o chamado de uma criança para brincar, alegando que somos grandes demais para aquilo? Pois o Mariano nos provou que não existe idade para descobrir coisas novas. Que é preciso olhar com mais atenção ao redor e encarar os fatos rotineiros com outros olhos.
Afinal, as pequenas coisas da vida são as melhores!