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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

As pequenas coisas da vida - Conhecer o mar

Por Michele Pacheco

Tenho 34 anos e a vida inteira fui à praia com meus pais. Acho bonito o cenário, gosto do vento típico do litoral e do barulho das ondas. Mas, nessas férias tive a oportunidade de redescobrir a magia do mar.
Seria apenas mais uma ida a Sossego, no litoral norte do Rio de Janeiro, para aproveitar a casa de praia da Therezinha, mãe do Robson. Quando a chuva deu uma trégua, fomos à la playa! Para nós, tudo na mesma, água escura, areia também, água de coco doce e gelada. Foi quando começamos a observar o Mariano, "namorido" da minha sogra com olhar jornalístico. Ele nunca tinha visto o mar e estava deslumbrado como uma criança. Personagem ideal para uma linda matéria de comportamento.

Passamos a curtir o período no litoral de outra forma. Vendo nossas lembranças de infância ganhando forma num homem de 73 anos, pai e avô. Os olhos do Mariano brilhavam de um jeito diferente ao olhar a praia. Ele chegava, enchia o peito do ar marinho, olhava o horizonte e sorria como criança. Depois de caminhar pela areia, era hora de entrar na água. Dava gosto de ver. Ia com calma, respeitando as ondas e se acostumando com o vai-vem delas. Ficava só no raso, mas era suficiente. Deitava, nadava, pegava jacaré. A cada "braçada", olhava para a Therezinha e sorria como um menino orgulhoso. Ir embora era sempre motivo de tristeza. Ele sempre queria dar mais uma caminhada, entrar mais um pouquinho na água...

Um dia, fomos à Lagoa do Siri, em Marataizes, no Espírito Santo. Foi uma hora de viagem mais ou menos. Pelo caminho, as criações de gado e as plantações de cana e de abacaxi surpreenderam o Mariano. Ele fez todo tipo de pergunta. Queria saber sempre mais. Só ficou mudo ao passarmos por uma ponte precária no caminho.

A paisagem da Lagoa do Siri deixou o Mariano encantado. Ele e a Therezinha não pararam um minuto sequer. Deixaram as coisas na mesa que escolhemos e foram caminhar pela praia. O lugar é mesmo lindo. Uma faixa de areia separa o mar da lagoa. Enquanto algumas pessoas preferem ficar na praia, outras se espalham pelas inúmeras mesas colocadas na margem da lagoa. Os restaurantes garantem atendimento o tempo todo.

Estávamos ficando preocupados com a demora, quando eles voltaram sorridentes. O Mariano tinha adorado a praia, mas teve trabalho para entrar na água, pois o mar é mais forte lá. A solução foi curtir a água calma e na temperatura ideal da lagoa. E ele aproveitou! A animação do nosso amigo era páreo duro para a das crianças que nadavam ao redor.

Voltamos para Sossego, onde ficamos duas semanas na companhia deles. A cada dia de praia, mais uma lição de vida. Quantas vezes perdemos tempo deixando de fazer alguma coisa, com medo de parecer ridículo? Quantas vezes recusamos o chamado de uma criança para brincar, alegando que somos grandes demais para aquilo? Pois o Mariano nos provou que não existe idade para descobrir coisas novas. Que é preciso olhar com mais atenção ao redor e encarar os fatos rotineiros com outros olhos.

Afinal, as pequenas coisas da vida são as melhores!