Por Michele Pacheco
As chuvas têm castigado Minas Gerais.
Hoje, a Defesa Civil do estado confirmou o registro de 5 mortes.
Quatro delas foram em Ervália, na Zona da Mata Mineira.
Fomos cedo para lá e encontramos a cidade num caos.
No Morro do Roi, os moradores corriam contra o tempo para tirar tudo que podiam das casas.
As kombis da prefeitura que foram ajudar na mudança não conseguiram subir.
O jeito foi amontoar tudo num trator e fazer várias viagens.
A área já estava instável pela manhã, com terra deslizando em vários pontos, e piorou com mais chuva intensa durante a tarde.
Todas as casas da encosta foram interditadas.
Segundo a Defesa Civil Estadual, em torno de 70 famílias foram levadas para abrigos ou estão alojadas em casas de parentes.
A estudante Priscila de Souza olhava desanimada para os fundos da casa da família dela. Um barranco caiu no quintal dos vizinhos e a chance de outros deslizamentos obrigaram a todos a mudar do local.
Ela contou que vai passar uns dias na casa de uma tia e que pretende esperar para ver o que vai acontecer no Morro do Roi.
Se a situação continuar perigosa, Priscila pretende mudar do local com a mãe.
Além do transtorno de ter que deixar tudo o que construiu para trás, uma família, em especial tem motivos de sobra para chorar.
A lavradora Denise de Oliveira Souza estava desesperada.
O sogro dela, a mulher dele e os dois filhos mais novos do casal dormiam num cômodo nos fundos da casa no alto do morro, quando o barranco deslizou, durante a madrugada. Um adolescente, também filho do casal, e um tio da Denise, de 84 anos, estavam em outro cômodo da casa e conseguiram escapar.
As fotos da Polícia Civil mostram detalhes do trabalho de resgate.
O acesso ao local é difícil durante o dia. Imagine então, durante a noite, debaixo de temporal, no escuro, derrapando na lama e ouvindo os gritos desesperados de familiares e vizinhos das vítimas.
Com certeza não foi uma cena agradável para os bombeiros de Ubá, deslocados durante a madrugada, e os policiais civis e militares de Ervália.
Eles trabalharam com dificuldade, escavando o monte de terra que se acumulou nos fundos da casa e invadiu o quarto onde o casal dormia junto com os meninos, um de 4 e outro de 6 anos.
Foram horas de agonia e esperança de achar as vítimas ainda vivas.
Mas, a cada minuto as chances de sobrevivência diminuíam.
A necessidade de salvar a família levou alguns bombeiros a ficar quase enterrados na lama.
É nas horas que desespero que a gente vê a coragem e o preparo desses heróis.
Eles esquecem o medo e se arriscam pelos outros.
Infelizmente, nesse caso foi impossível salvar a família.
Os corpos dos pais e dos meninos foram retirados da lama e levados para o Instituto Médico Legal de Ubá.
Os policiais civis e militares de Ervália também deram um belo exemplo de união num momento difícil.
Eles estiveram em todos os locais mais problemáticos, acompanharam as vistorias da Defesa Civil e ajudaram os moradores a deixar os locais de risco.
Conversamos na delegacia com o agente da Polícia Civil, Rodrigo Maia. Ele estava desde a madrugada rodando os bairros mais atingidos e registrando imagens de tudo.
Além dos deslizamentos de terra, as autoridades estavam em alerta por conta das inundações.
O rio Turvão está com o volume de água bem acima do normal e transbordou em vários pontos do município. A zona rural ficou inundada.
No centro, a enxurrada de água e lama invadiu uma rua e causou prejuízos no comércio. Várias lojas ficaram alagadas.
A Maria Luiza Pontes é costureira e perdeu tudo na oficina de costura.
Mas, ela estava assustada mesmo era com as recordações do desespero da vizinha que ficou ilhada dentro de casa.
O rio transbordou, derrubou um muro nos fundos das lojas e casas e causou estragos.
As galinhas que estavam num quintal morreram afogadas.
Um depósito de café teve muitos prejuízos.
As sacas com grãos ficaram debaixo d’água.
Assim como os freezers e todo o estoque de um bar.
Ainda em Ervália, a fila de caminhões era grande no trevo que dá acesso à BR 358, que liga Ubá a Muriaé.
Em dois trechos, os córregos da zona rural transbordaram e invadira a estrada.
Na fazenda Bom Jardim, a enxurrada impedia a passagem de veículos.
Na Cachoeira da Usina, mais problemas.
A enchente cobriu a rodovia num trecho em curva.
No início, apenas os caminhões estavam conseguindo passar.
O caminhoneiro Fábio do Carmo foi um dos primeiros a se arriscar. “Não posso ficar parado esperando.
Tenho uma carga de remédios que tem que ser entregue com urgência.
Não pára de chover e não sei quando a estrada vai ser liberada.
O jeito é arriscar” explicou ele, ainda em dúvida se daria certo.
Mas, a passagem foi feita sem problemas.
A água começou a baixar um pouco e alguns veículos pequenos seguiram viagem.
O motorista de um gol passou aperto.
No meio do caminho, a correnteza estava muito forte e ele quase perdeu o controle. Tudo terminou bem.
Voltando para Juiz de Fora, decidimos conferir como estava a situação em Ubá.
O rio que tem o mesmo nome da cidade estava bem cheio e imaginamos que haveria problemas nas áreas mais baixas.
Encontramos o rio esbarrando nas pontes da Avenida Beira Rio e muitos moradores vigiando.
O medo deles era que a inundação chegasse rápido e não houvesse tempo de salvar bens nas casas e lojas. A precaução é mesmo necessária por lá.
No centro, um córrego transbordou e a enxurrada passou por dentro das casas e lojas. Uma rua que fica entre o córrego e o rio foi a mais prejudicada.
Moradores e comerciantes reclamavam que a situação ocorreu em função de um muro que caiu dentro do córrego e a prefeitura não retirou.
Nos fundos de uma casa, havia uma vila onde 60 famílias com idosos e crianças tiveram que sair correndo.
Num único dia, elas viveram duas enchentes: uma às nove da manhã e outra às duas da tarde.
E a previsão era de que a noite seria um tormento!
Foram registrados desabamentos em três casas e cerca de 240 pessoas estavam desalojadas até o início da noite de hoje.
Chove desde sexta-feira em Ubá e o temporal de hoje piorou a situação.
A previsão é de chuva constante até o fim de semana.
Em todo o trajeto entre Juiz de Fora e Ervália, pegamos chuva forte.
As zonas rurais de cidades como Tabuleiro, Tocantins e Rio Pomba estão alagadas e muitas estradas sumiram no aguaceiro. Bem que a Defesa Civil Nacional avisou que a região sudeste seria castigada neste verão. E só está começando!
Abaixo, imagens do resgate dos corpos em Ervália.