Por Michele Pacheco
Dia difícil! Fizemos duas pautas cedo e fomos acionados pela produtora Regina Ramalho para ir ao bairro Aeroporto, pois o prefeito Alberto Bejani estava sendo preso pela Polícia Federal. Corremos para o local e já encontramos por lá nossos colegas do jornal e da Tv Panorama, do jornal Tribuna de Minas e da Rádio Solar. Tinha cara de mais um dia de espera. E não deu outra! Chegamos por volta de nove e meia da manhã e só saímos ao meio dia. Sem muitos dados oficiais, cada um tratou de acionar suas fontes em busca de notícias.
A Polícia Federal enviou aos órgãos de imprensa o release sobre a Operação Passárgada.
Em Juiz de Fora, além da casa do prefeito Alberto Bejani, houve buscas na prefeitura, onde dois andares (gabinete e departamento de licitações) foram isolados pelos policiais. Ao todo, 500 policiais federais cumpriram 100 mandados de busca e apreensão e 50 de prisão em Minas Gerais, na Bahia e no Distrito Federal. Prefeitos, juízes, procuradores, assessores, advogados e lobsitas foram investigados durante oito meses. Eles são suspeitos de usar um esquema de liberação irregular de verbas do Fundo de Participação dos Municípios. Segundo os policiais, os municípios em débito com o INSS contratavam sem licitação um escritório de advocacia que supostamente pertencia a um lobista. Ele oferecia vantagens a juízes e servidores da justiça em troca de pareceres favoráveis. O dinheiro conseguido no esquem era dividido com os prefeitos.
Com fome, calor e ansiosos por notícias, acompanhamos a chegada de mais repórteres, dessa vez dos jornais Estado de Minas e Hoje em Dia. A falta de imagens e a longa espera deixaram o Marcelo, da Tribuna de Minas, impaciente. Ele escalou uma árvore para ver se conseguia uma foto legal.
O esforço só serviu para passar o tempo e garantir alguns arranhões e muita sujeira na roupa.
Ao meio dia, o comboio com seis carros, um da Polícia Federal e os outros descaracterizados, saiu da casa e seguiu para a Delegacia da Polícia Federal. Nós fomos para a TV para as entradas ao vivo nos jornais de Belo Horizonte.
Por volta de duas da tarde, fomos para a delegacia render a equipe do Evandro Medeiros e do Marco Fagundes, que já estavam azuis de fome! Encontramos uma multidão do lado de fora. Entre gritos exaltados e xingamentos, eles se dividiam entre dar os parabéns à polícia e reclamar da demora na saída do prefeito. Achei curioso ver alguns partidários do Bejani no meio do bolo. Eles estavam quietos, acompanhando tudo e temendo fazer perguntas e ser linchados pela turma exaltada. Contaram que um homem apanhou simplesmente por dizer que o prefeito era inocente e iria provar isso.
Tinha um sujeito com uma caixa de fogos de artifício fazendo uma festa.
Mais espera! A todo momento alguém dizia que o Bejani estava saindo. E nada de sair.
O delegado Cláudio Nogueira, da Polícia Federal de Juiz de Fora, informou o que foi apreendido na busca na cidade. Foram 11 veículos, entre eles um caminhão, triciclos e carros de luxo.
Na casa do prefeito os policiais encontraram 1 milhão e 120 mil reais em dinheiro.
Foi preciso levar uma máquina de contagem de dinheiro para levantar a quantia certa.
A informação de que haveria mais 700 mil reais numa fazenda do suspeito não foi confirmada.
A Polícia Federal apreendeu também 4 armas, entre elas uma pistola 9mm, de uso exclusivo das forças de segurança nacional. Sem porte e registro dessa arma, Bejani vai ter que responder a processo.
Como sempre acontece em casos de espera, as equipes de reportagem ficam de um lado para o outro batendo papo e trocando informações.
Surge cada história!
De futebol a alianças políticas a gente fala de tudo.
O que não pode é ficar parado, senão dá um desânimo...
É claro que a turma fica de olho em tudo o que acontece.
É comum largar uma história pela metade, correr para se posicionar achando que vai acontecer algo importante e depois voltar ao papo.
Essa foto do Carlos Mendonça mostra bem o que é isso. Todo mundo lado a lado, de olho no fato.
São dele também as fotos que mostram os policiais preparando os carros do comboio para levar o prefeito Alberto Bejani para Belo Horizonte. Em volta, muitos jornalistas tentando um espacinho para fazer uma boa imagem ou tentar entrevista. Valeu pela contribuição, Carlos Mendonça!
Ao todo, segundo a polícia federal foram 14 prefeitos presos na Operação Passárgada. Juízes, procuradores e lobistas também foram presos. A investigação apontou que o esquema esvaziou os cofres públicos em cerca de 200 milhões de reais.
Quem somos
- Michele Pacheco e Robson Rocha
- JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
- Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Dengue em Além Paraíba - o perigo mora ao lado
Por Michele Pacheco
Quem sai de Jamapará, distrito de Sapucaia- RJ, e entra em Além Paraíba nota uma placa onde está escrito "Área de Segurança - Divisa de Estados". Pena que a segurança não funcione para o Aedes Aegypti! Os dois municípios são separados apenas por uma ponte de uns 40 metros de comprimento.
O vai-vem de carros e pessoas é intenso o dia inteiro.
Tem gente de Jamapará comprando em Além Paraíba. Gente de Além Paraíba trabalhando em Jamapará. E por aí vai... Mas, a convivência pacífica está estremecida por um motivo de menos de um centímetro de comprimento e enorme poder de destruição:
o Aedes Aegypti!
A secretaria de Saúde de Além Paraíba afirma que fez o dever de casa e desde 2001 tem intensificado o combate ao mosquito transmissor da dengue. Segundo a equipe de combate à doença, a situação estava sob controle. Mas, desde 2006 o problema está crescendo, porque os vizinhos do estado do Rio não fizeram o mesmo. A Vigilância Epidemiológica de Sapucaia informou que o combate à dengue não está sendo feito em Jamapará porque o governo do Rio de Janeiro não enviou o material necessário. Com isso, o mosquito vive sossegado de um lado do Rio Paraíba do Sul e ainda ganha carona nos carros, caminhões e ônibus para "almoçar" fora no lado mineiro da ponte!
Há focos em todo o município de Além Paraíba e o tráfego intenso de caminhões leva para a cidade pessoas de todo o Brasil, vindas de lugares infectados. Elas podem trazer no organismo o vírus e contaminar os mosquitos do município, que transmitirão a dengue aos moradores. Como todo mundo sabe, essa é uma doença que depende do esforço de todos para ser erradicada. Enquanto houver locais para reprodução do aedes aegypti, é impossível falar em fim da dengue. Basta ver a epidemia que assola o Rio de Janeiro e já matou mais de 60 pessoas!
Segundo a secretaria de Saúde, Além Paraíba tem 665 notificações da doença, com 92 casos confirmados, o que coloca o município em quinto lugar em infestação no estado de Minas Gerais. O secretário Ailton Regazio disse que houve aumento de 50% no atendimento no Hospital São Salvador e no Posto de Pronto Atendimento da cidade. Encontramos vários pacientes tomando soro e sendo medicados. Todos tiveram sangue coletado para exame e tiveram o nome acrescentado à lista de "suspeitos de dengue".
A família do vigilante Francisco Lúcio Pernambuco, de 49 anos, tenta superar a dor da perda, enquanto espera uma resposta. Segundo o jornalista Flávio Senra escreveu no jornal "Além Parahyba", Francisco começou a passar mal no dia 18 de março apresentando dor de cabeça, vômito, febre alta e vermelhidão pelo corpo, sendo atendido e liberado no posto de Pronto Atendimento e no Hospital. Ele morreu no dia três de abril. Os médicos da secretaria de Saúde acreditam que a causa da morte tenha sido leptospirose, doença com sintomas semelhantes aos da dengue. Já a família, só vai ter certeza de que não é dengue hemorrágica quando o resultado do exame de sangue ficar pronto.
Enquanto tenta lidar com as notificações que crescem a cada dia, o secretário de Saúde conta que o município acionou o Ministério Público no ano passado pedindo ajuda para resolver o problema com a cidade vizinha. O primeiro ofício foi enviado em maio de 2007 e o segundo em dezembro. Ambos relatam casos de dengue em Além Paraíba, número de pacientes do Rio que foram atendidos na cidade e a falta de trabalho preventivo em Sapucaia. Enquanto fazíamos a reportagem para o Jornal da Alterosa, consegui ser recebida pela promotora de Defesa da Saúde. Ela não quis gravar entrevista, mas explicou que assim que foi acionada pelo município, entrou em contato com os promotores das duas cidades fluminenses que fazem divisa com Além Paraíba.
O Ministério público de Carmo respondeu e enviou relatório dos trabalhos feitos no local. Já o de Sapucaia, não teria enviado qualquer resposta. Com a nossa reportagem, a promotora disse que iria se informar sobre o andamento do caso e fazer novo contato com o promotor de Sapucaia.
Perguntei o que caberia fazer caso ela continuasse sem resposta.
A promotora disse que nesse caso, deve acionar judicialmente a prefeitura de Sapucaia.
Quem sai de Jamapará, distrito de Sapucaia- RJ, e entra em Além Paraíba nota uma placa onde está escrito "Área de Segurança - Divisa de Estados". Pena que a segurança não funcione para o Aedes Aegypti! Os dois municípios são separados apenas por uma ponte de uns 40 metros de comprimento.
O vai-vem de carros e pessoas é intenso o dia inteiro.
Tem gente de Jamapará comprando em Além Paraíba. Gente de Além Paraíba trabalhando em Jamapará. E por aí vai... Mas, a convivência pacífica está estremecida por um motivo de menos de um centímetro de comprimento e enorme poder de destruição:
o Aedes Aegypti!
A secretaria de Saúde de Além Paraíba afirma que fez o dever de casa e desde 2001 tem intensificado o combate ao mosquito transmissor da dengue. Segundo a equipe de combate à doença, a situação estava sob controle. Mas, desde 2006 o problema está crescendo, porque os vizinhos do estado do Rio não fizeram o mesmo. A Vigilância Epidemiológica de Sapucaia informou que o combate à dengue não está sendo feito em Jamapará porque o governo do Rio de Janeiro não enviou o material necessário. Com isso, o mosquito vive sossegado de um lado do Rio Paraíba do Sul e ainda ganha carona nos carros, caminhões e ônibus para "almoçar" fora no lado mineiro da ponte!
Há focos em todo o município de Além Paraíba e o tráfego intenso de caminhões leva para a cidade pessoas de todo o Brasil, vindas de lugares infectados. Elas podem trazer no organismo o vírus e contaminar os mosquitos do município, que transmitirão a dengue aos moradores. Como todo mundo sabe, essa é uma doença que depende do esforço de todos para ser erradicada. Enquanto houver locais para reprodução do aedes aegypti, é impossível falar em fim da dengue. Basta ver a epidemia que assola o Rio de Janeiro e já matou mais de 60 pessoas!
Segundo a secretaria de Saúde, Além Paraíba tem 665 notificações da doença, com 92 casos confirmados, o que coloca o município em quinto lugar em infestação no estado de Minas Gerais. O secretário Ailton Regazio disse que houve aumento de 50% no atendimento no Hospital São Salvador e no Posto de Pronto Atendimento da cidade. Encontramos vários pacientes tomando soro e sendo medicados. Todos tiveram sangue coletado para exame e tiveram o nome acrescentado à lista de "suspeitos de dengue".
A família do vigilante Francisco Lúcio Pernambuco, de 49 anos, tenta superar a dor da perda, enquanto espera uma resposta. Segundo o jornalista Flávio Senra escreveu no jornal "Além Parahyba", Francisco começou a passar mal no dia 18 de março apresentando dor de cabeça, vômito, febre alta e vermelhidão pelo corpo, sendo atendido e liberado no posto de Pronto Atendimento e no Hospital. Ele morreu no dia três de abril. Os médicos da secretaria de Saúde acreditam que a causa da morte tenha sido leptospirose, doença com sintomas semelhantes aos da dengue. Já a família, só vai ter certeza de que não é dengue hemorrágica quando o resultado do exame de sangue ficar pronto.
Enquanto tenta lidar com as notificações que crescem a cada dia, o secretário de Saúde conta que o município acionou o Ministério Público no ano passado pedindo ajuda para resolver o problema com a cidade vizinha. O primeiro ofício foi enviado em maio de 2007 e o segundo em dezembro. Ambos relatam casos de dengue em Além Paraíba, número de pacientes do Rio que foram atendidos na cidade e a falta de trabalho preventivo em Sapucaia. Enquanto fazíamos a reportagem para o Jornal da Alterosa, consegui ser recebida pela promotora de Defesa da Saúde. Ela não quis gravar entrevista, mas explicou que assim que foi acionada pelo município, entrou em contato com os promotores das duas cidades fluminenses que fazem divisa com Além Paraíba.
O Ministério público de Carmo respondeu e enviou relatório dos trabalhos feitos no local. Já o de Sapucaia, não teria enviado qualquer resposta. Com a nossa reportagem, a promotora disse que iria se informar sobre o andamento do caso e fazer novo contato com o promotor de Sapucaia.
Perguntei o que caberia fazer caso ela continuasse sem resposta.
A promotora disse que nesse caso, deve acionar judicialmente a prefeitura de Sapucaia.
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