Por Michele Pacheco
Quem sai de Jamapará, distrito de Sapucaia- RJ, e entra em Além Paraíba nota uma placa onde está escrito "Área de Segurança - Divisa de Estados". Pena que a segurança não funcione para o Aedes Aegypti! Os dois municípios são separados apenas por uma ponte de uns 40 metros de comprimento.
O vai-vem de carros e pessoas é intenso o dia inteiro.
Tem gente de Jamapará comprando em Além Paraíba. Gente de Além Paraíba trabalhando em Jamapará. E por aí vai... Mas, a convivência pacífica está estremecida por um motivo de menos de um centímetro de comprimento e enorme poder de destruição:
o Aedes Aegypti!
A secretaria de Saúde de Além Paraíba afirma que fez o dever de casa e desde 2001 tem intensificado o combate ao mosquito transmissor da dengue. Segundo a equipe de combate à doença, a situação estava sob controle. Mas, desde 2006 o problema está crescendo, porque os vizinhos do estado do Rio não fizeram o mesmo. A Vigilância Epidemiológica de Sapucaia informou que o combate à dengue não está sendo feito em Jamapará porque o governo do Rio de Janeiro não enviou o material necessário. Com isso, o mosquito vive sossegado de um lado do Rio Paraíba do Sul e ainda ganha carona nos carros, caminhões e ônibus para "almoçar" fora no lado mineiro da ponte!
Há focos em todo o município de Além Paraíba e o tráfego intenso de caminhões leva para a cidade pessoas de todo o Brasil, vindas de lugares infectados. Elas podem trazer no organismo o vírus e contaminar os mosquitos do município, que transmitirão a dengue aos moradores. Como todo mundo sabe, essa é uma doença que depende do esforço de todos para ser erradicada. Enquanto houver locais para reprodução do aedes aegypti, é impossível falar em fim da dengue. Basta ver a epidemia que assola o Rio de Janeiro e já matou mais de 60 pessoas!
Segundo a secretaria de Saúde, Além Paraíba tem 665 notificações da doença, com 92 casos confirmados, o que coloca o município em quinto lugar em infestação no estado de Minas Gerais. O secretário Ailton Regazio disse que houve aumento de 50% no atendimento no Hospital São Salvador e no Posto de Pronto Atendimento da cidade. Encontramos vários pacientes tomando soro e sendo medicados. Todos tiveram sangue coletado para exame e tiveram o nome acrescentado à lista de "suspeitos de dengue".
A família do vigilante Francisco Lúcio Pernambuco, de 49 anos, tenta superar a dor da perda, enquanto espera uma resposta. Segundo o jornalista Flávio Senra escreveu no jornal "Além Parahyba", Francisco começou a passar mal no dia 18 de março apresentando dor de cabeça, vômito, febre alta e vermelhidão pelo corpo, sendo atendido e liberado no posto de Pronto Atendimento e no Hospital. Ele morreu no dia três de abril. Os médicos da secretaria de Saúde acreditam que a causa da morte tenha sido leptospirose, doença com sintomas semelhantes aos da dengue. Já a família, só vai ter certeza de que não é dengue hemorrágica quando o resultado do exame de sangue ficar pronto.
Enquanto tenta lidar com as notificações que crescem a cada dia, o secretário de Saúde conta que o município acionou o Ministério Público no ano passado pedindo ajuda para resolver o problema com a cidade vizinha. O primeiro ofício foi enviado em maio de 2007 e o segundo em dezembro. Ambos relatam casos de dengue em Além Paraíba, número de pacientes do Rio que foram atendidos na cidade e a falta de trabalho preventivo em Sapucaia. Enquanto fazíamos a reportagem para o Jornal da Alterosa, consegui ser recebida pela promotora de Defesa da Saúde. Ela não quis gravar entrevista, mas explicou que assim que foi acionada pelo município, entrou em contato com os promotores das duas cidades fluminenses que fazem divisa com Além Paraíba.
O Ministério público de Carmo respondeu e enviou relatório dos trabalhos feitos no local. Já o de Sapucaia, não teria enviado qualquer resposta. Com a nossa reportagem, a promotora disse que iria se informar sobre o andamento do caso e fazer novo contato com o promotor de Sapucaia.
Perguntei o que caberia fazer caso ela continuasse sem resposta.
A promotora disse que nesse caso, deve acionar judicialmente a prefeitura de Sapucaia.
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