Por Michele Pacheco
Parece que a Olívia adivinhou que a mamãe teria que sair mais cedo de casa hoje e acordou meia hora antes do normal.
Eu tinha acabado de dar mamadeira a ela, às 5h, quando o celular do Robson tocou.
Era uma fonte avisando que o mandado de reintegração de posse do terreno que pertence à prefeitura no bairro Caiçaras III seria cumprido hoje.
Acionei o Marco Fagundes, que está comigo pela manhã nesta semana, e fomos para o local.
Chegamos às 6h e acompanhamos o trabalho de máquinas e homens para desmontar 8 barracos de madeira.
Todos os acessos estavam fechados.
120 Policiais Militares e 10 Guardas Municipais participaram da ação.
O advogado da Emcasa, empresa de habitação ligada à prefeitura, explicou que a área não pode ser usada para moradias, porque tem muitas nascentes e o terreno é instável.
Ele mostrou a ordem judicial de reintegração de posse e afirmou que as famílias encontradas no local foram atendidas e cadastradas por assistentes sociais e vão ser encaminhadas a abrigos, caso não tenham outro lugar para ir.
O que chamou a atenção foi que dos 8 barracos,
apenas três estavam com moradores quando a ação começou.
Segundo as autoridades, é comum quem vive nos bairros vizinhos invadir terrenos como este e depois vender os barracos.
Aos poucos, o movimento de moradores foi aumentando.
Num dos barracos, encontramos a Ângela.
Ela morava no local com o marido e 4 crianças.
A salgadeira contou que é a segunda vez que é despejada de áreas invadidas e que vai continuar invadindo porque não tem uma casa própria.
Ela reclamou da demora da Emcasa em resolver o problema.
No barraco dela, encontramos uma das curiosidades do local: uma antena de TV por assinatura.
Em outra construção, havia uma garagem improvisada, com um Monza dentro.
Sem a despesa com aluguel, acaba sobrando um dinheiro para investir no conforto da família.
Depois da reintegração de posse de hoje, há previsão de que outras famílias que vivem na parte alta do bairro também sejam retiradas nos próximos dias.