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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Denúncia - Juizforano afirma que brasileiros estão abandonados na Nova Zelândia

Denúncia grave de trabalho irregular na Nova Zelândia

Por Michele Pacheco

O Jornal da Alterosa recebeu uma denúncia grave de um advogado de Juiz de Fora.
O relato era de que o cliente dele tinha sido enganado por uma agência de intercâmbio.
O comerciante de 40 anos revela que encontrou na internet o site dessa empresa de Jundiaí, São Paulo, e fez a negociação por e-mail e por telefone.
Ele estava em Brasília na época e queria trabalhar no exterior.

O comerciante Marquetule de Faria Felippe contou que tinha investido todas as economias num bar e queria repor as finanças.
Como tem vasta experiência em intercâmbios de trabalho no exterior, optou dessa vez pela Nova Zelândia.
No site da empresa escolhida havia outras opções, como o Chipre.
Para trabalhar numa plantação de batatas, o escolhido receberia 400 Euros + acomodação + alimentação.
O mineiro de Juiz de Fora disse que todas as propostas eram semelhantes, mudando apenas o salário.

Ele fechou o negócio e diz que pagou 2 mil reais à agência, apenas para os custos da negociação.
O currículo foi aceito e o contrato assinado.
Em lugar algum aparece o nome da empresa contratante na Nova Zelândia.
O documento deixa claro que a agência paulista é responsável apenas por intercâmbio e não por agenciar trabalhadores.
Já nos e-mails trocados entre o Marquetule e um diretor da agência, as citações sobre o trabalho a ser exercido ficavam claras.

O mineiro pagou os 2 mil reais à agência, comprou a passagem e embarcou com visto de três meses como turista para a Nova Zelândia.
Ele reclamou que não havia nenhum contato esperando no aeroporto e que teve que fazer uma viagem de 10 horas até a Ilha Norte, onde ficava a plantação na qual iria trabalhar.
No local, ele relata ter encontrado outros 40 brasileiros, divididos em dez casas.
Ao ser alertado pelo pessoal sobre a enrascada em que havia se metido, Marquetule resolveu gravar o que ocorria por lá.
Ele fez cinco vídeos, mostrando as condições precárias em que vivem os trabalhadores.

Entre os depoimentos, estava o de um pastor que deixou tudo no Brasil para investir no sonho de enriquecer no exterior.
Ele vendeu todos os bens e gastou cerca de 20 mil reais em passagens e na ida para a Nova Zelândia com a mulher e a filha de 18 anos.
Parecia um sonho que se realizava.
Mas, na prática a situação foi bem diferente.
O pastor João contou que não tem como voltar para casa, porque não tem dinheiro para pagar a dívida de aluguel e comida que fez lá fora.

Segundo o Marquetule, o esquema é simples: não há trabalho para todos e o rodízio é definido diante do valor da dívida de cada um.
Quem deve mais e está prestes a vencer o prazo do aluguel, tem prioridade para trabalhar.
Um dos brasileiros que aparecem no vídeo conta que trabalha um dia para pagar pela hospedagem, outro para a alimentação, e depois fica à toa, porque não tem serviço.
A história é repetida por outros trabalhadores.

Os videos mostram ainda um grupo trabalhando na lavoura de abóbora.
O comerciante de Juiz de Fora lembra que a proposta apresentada no Brasil era de colher frutas numa fazenda neozelandesa.
Mas, dos 25 dias que passou na Oceania, ele só trabalhou 3.
Quando percebeu que não tinha esperanças por lá, juntou o dinheiro que tinha levado e voltou para casa, disposto a denunciar o que chama de esquema de tráfico de pessoas.

Ao chegar no Brasil, Marquetule procurou um advogado e apresentou os documentos e os vídeos, a fim de entrar com um processo de indenização contra a agência.
Mas, ao avaliar o material apresentado, Eônio Vieira suspeitou de crime e decidiu encaminhar a denúncia à autoridades brasileiras.
Cópias foram entregues à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
Entramos em contato com a PF.
A primeira informação passada nos deixou de queixo caído.

Uma funcionária disse à nossa produtora que não poderia passar dados do caso, pois o delegado já tinha uma repórter, de outra emissora, acompanhando.
É claro que tiramos isso a limpo.
O delegado Cláudio Nogueira negou qualquer coisa semelhante e disse que não poderia falar, porque não tinha recebido nenhuma denúncia.
Passamos o número do protocolo da entrega feita pelo advogado e ele acabou encontrando o material na mesa dele.
Amanhã, deve dar notícia sobre o assunto.

No Jornal da Alterosa Edição Regional dessa quinta-feira (www.alterosa.com.br/jf), convidamos um professor de Direito, especialista em leis trabalhistas e Direiro Internacional.
Ele apontou alguns pontos críticos no contrato e disse que o caso exigia uma investigação profunda das autoridades.
Se alguém está se beneficiando do trabalho de brasileiros no exterior ilegalmente, tem que ser punido.
Por outro lado, o contrato apresentado pelo denunciante é muito superficial e tem cláusulas que deixam claro que a agência de São Paulo não tem responsabilidade sobre o que ocorre quando os intercambistas chegam ao destino, nem pelo transporte dessas pessoas.

O diretor da agência de São Paulo foi muito educado ao telefone e negou envolvimento com tráfico de pessoas.
Ele explicou que o Marquetule embarcou com visto de turista e sabia que teria que fazer um visto de trabalho na Nova Zelândia.
O empresário citou ainda que nos e-mails trocados entre ele e o denunciante, não houve menção a problemas enfrentados na Oceania.
Já o comerciante mineiro reclama que o visto custaria 500 dólares e não teria validade na região onde ele estava, por isso, se recusou a pagar.
Independentemente de quem tenha razão nessa história, fica a denúncia grave: tem brasileiros ilegalmente no exterior entregues à própria sorte.

Segundo o Marquetule, ninguém procura ajuda nas autoridades da Nova Zelândia nem no consulado brasileiro, por temer a deportação.
Eles entraram com vistos de turistas ou de estudantes e os documentos já venceram, o que significa que podem ser presos.
Como a maioria quer tentar a sorte em outros intercâmbios, o medo de ter o passaporte apreendido ou marcado pela deportação desestimula a denúncia.
Com isso, vão ficando por lá, sem esperança de ver a situação melhorar.