Por Robson Rocha
Hoje, fizemos uma entrevista com Carlos Bracher, no Pró-Música.
Quando chegamos, o material da exposição dele estava sendo descarregado.
Um volume grande de quadros bem embalados, apesar dele ter trazido apenas parte do material que foi exposto em Brasília.
Simpático como sempre, nos atendeu com o maior carinho.
E ainda estava preocupado com o melhor lugar para gravar a entrevista.
Gravamos a entrevista e ele nos presenteou com um DVD.
É um documentário feito pela filha dele, Blima Bracher, durante a produção dos quadros.
Aí, comentei sobre a gravação que tínhamos feito em Ouro Preto, em 1995.
Ele disse que não tinha essa gravação e, como eu tenho esse registro em meu arquivo pessoal, me pediu uma cópia, que já está pronta e devo entregar o mais rápido possível.
Em 1995, eu trabalhava na TV Globo e essa gravação fazia parte do projeto “Arte da Nossa Gente”. Ele consistia em divulgar o trabalho dos grandes artistas da região.
A cultura era divulgada independente do estilo, que ia da música à pintura, da literatura à colagem. A idéia era mostrar o trabalho e registrar depoimentos desses artistas.
Nas gravações, conheci pessoas fabulosas como Dnar Rocha e tive a felicidade de acompanhar o momento de criação de grandes artistas. Da tela branca às primeiras pinceladas, até que o trabalho ficasse pronto.
Infelizmente, ele se foi antes da hora.
Ainda tinha muito o que criar.
E hoje, tenho o prazer de ter uma gravura do Dnar com dedicatória na minha sala.
Mas, também tive a oportunidade de gravar com Renato Stelling.
Uma simpatia!
Mas, o que me marcou lá, foi ter tomado o melhor café da minha vida, depois do da minha avó Maria.
Era um cafezinho docinho e ralinho.
Como diria um amigo meu, uma água de batata, mas, oh cafezinho gostoso!
Uma outra pessoa que tive o prazer de gravar nesse projeto foi com José Alberto Pinho Neves. Alguém por quem tenho um grande carinho e admiração.
E este foi seu depoimento no vídeo:
“O poeta com sua caneta se torna um pintor de imagens e o pintor com seu pincel se torna um escritor de palavras ou de imagens como a poesia necessita”
Mas, voltando ao Carlos Bracher, tivemos que ir a Ouro Preto, para gravá-lo.
Tentei gravá-lo em princípio com o centro histórico ao fundo, mas tínhamos pouca luz para trabalhar internamente, enquanto do lado de fora, o sol reinava com toda força.
Montamos um pequeno cenário usando uma tela como fundo.
Simpático e tranqüilo, ele aguardou que mudássemos todo o equipamento de lugar e começássemos a gravar.
Em seu depoimento, ele se emocionou quando foi falar de Minas e de Juiz de Fora e,
deu uma pequena pausa na gravação.
Quando falou de seu trabalho disse que se pudesse, só pintaria retratos.
Pois ele gostava de pintar retratos e na sala havia inúmeros.
Acabado o depoimento, fomos mudar os equipamentos de lugar e até parte dos móveis e quadros que estavam no atelier de Bracher. Muito risonho, ele brincava o tempo todo.
Em certo momento, ele encolheu a barriga, puxou a calça para cima e disse que a barriga estava começando a preocupá-lo, olhou para o pessoal da equipe e na época, éramos todos magrelos.
Se fosse hoje, Bracher ia dizer que ele não precisa se preocupar com a barriga. Mas, eu sim! E a danada não pára de crescer.
Mas, vamos mudar o rumo da prosa.
Para não fugir do gosto dele, ele pintaria um retrato para gravarmos para o “Arte da Nossa Gente”.
Separou todo o material e, quando ia começar o trabalho, se virou para trás e nos perguntou se ele podia colocar uma música.
Dissemos que sim e ele colocou uma música orquestrada, que não me lembro qual era.
Lembro apenas que eram batidas fortes.
Com essa música, Bracher parece que foi tomado pela inspiração e com riscos fortes como os acordes, começou o trabalho.
Ele estava tão concentrado, que parecia não notar nossa presença.
E olhe que eram sete pessoas da equipe, dentro de uma sala que não era grande.
E, eu passava de um lado para o outro preocupado, pois normalmente os grandes artistas são cheios de manias.
Mas, a simplicidade e a concentração dele me impressionaram.
No rosto dele havia uma variação de prazer, força, concentração.
Nas mãos, a capacidade de pinceladas vigorosas que, em determinados momentos, pareciam apenas acariciar a tela.
Não sei, sinceramente, descrever Bracher pintando.
Se se esquecer que ele foi premiado com o dom da pintura, o que ele passa não é apenas gostar de pintar e, sim ter paixão enorme pela pelo que faz.
Sei que em alguns poucos minutos a tela estava pronta.
Ele fez o trabalho sem estrelismo.
Com a mesma simplicidade com que havia começado, terminou.
Não só Bracher, mas Dnar, Stelling e o Pinho Neves me mostraram que ser um bom artista não é sinônimo de arrogância e prepotência.
Tenho um orgulho enorme de ter gravado com mais de dez artistas da cidade para o projeto.
Quem sabe, não está na hora de alguma empresa elaborar um projeto parecido para mostrar os talentos que temos?