Ava Simões, transformista que defendeu o estado do Espírito Santo, estava
gravando entrevista com a nossa equipe, quando a
Miss São Paulo voltou à passarela enfurecida e arrancou a peruca da Miss
eleita com coroa e tudo.
Foi tudo muito rápido, nem o pessoal da organização
percebeu. Felizmente a Miss não se feriu. Algumas pessoas que acompanhavam a Ava se revoltaram e arrancaram a peruca da Miss São Paulo.
Mas, foi uma cena triste de ver.
Houve o
maior tumulto. Houve troca de socos e pontapés e o clima ficou pesado.
Os seguranças correram, os organizadores também.
A Miss Brasil Gay 2009 foi levada para um canto do palco, para se recompor.
Enquanto isso, defensores das duas candidatas batiam boca para saber quem tinha
razão.
O Miss Brasil Gay estava previsto para agosto, mas foi adiado em função das
recomendações preventivas da gripe A.
Com quase três meses de atraso, parecia que tudo estava perfeito.
Até o final lastimável.
Um desrespeito com o público e com toda a equipe de organização que trabalhou
tanto.
Todo concurso tem o risco de alguém se considerar injustiçado.
Mas, isso não justifica a violência!
O Miss Brasil Gay é o maior evento de transformismo do país.
Vinte e sete transformistas participaram, defendendo estados da Nação.
A festa deste ano foi no ginásio do Sport Club, onde tradicionalmente era
feita desde a criação, há 33 anos.
No ano passado, os organizadores
tentaram mudar e levaram o Miss Gay para o Cine Teatro Central.
Não funcionou tão bem e, atendendo a pedidos, o evento voltou ao ponto de
origem.
É um grande espetáculo, que mobiliza toda a comunidade GLBT do país e também a
mídia.
O público acompanha, logo no início,
a galeria da beleza.
Travestis, transsexuais e Drag queens de todo o Brasil capricham nos trajes
elegantes ou irreverantes para fazer bonito no tapete vermelho do Miss Brasil
Gay.
É um desfile de charme e beleza.
Todo ano, ouço comentários do tipo "nossa, nem parecem homens!".
Com certeza, os convidados estão entre os profissionais que mais se destacam em
shows gays.
Eles desfilam um a um pela passarela e tomam os lugares reservados, bem ao pé da
passarela. De lá, têm visão privilegiada de todo o espetáculo.
A tarefa é difícil: eleger o transformista mais bonito do Brasil.
A dificuldade do concurso é uma atração a mais e alimenta os sonhos de muitos
gays pelo país a fora.
As candidatas se apresentam primeiro com trajes típicos.
Elas escolhem alguma característica marcante do estado que estão defendendo e
traduzem isso para o pano e as alegorias.
Neste ano, a criatividade estava à solta.
Foi difícil escolher a apresentação mais bonita.
Uma caixa foi colocada no palco.
As luzes se apagaram e, de dentro dela, saiu a candidata mineira.
Ela estava com um traje prateado, lembrando um robô.
Inúmeros leds deram um efeito especial à roupa.
No escuro, ela brilhava e seguiu pela passarela na performance lembrando um robô
e homenageando o Vale do Aço, que exporta diversos produtos.
A Miss São Paulo também abusou da imaginação.
Um enorme cofre foi colocado no palco.
A música foi rolando, enquanto a porta era destravada por dentro.
Quando o cofre abriu, a candidata estava sentada em meio ao dourado de moedas e
riquezas.
Foi a forma encontrada para lembrar da Bolsa de Valores do maior centro
financeiro da América Latina.
Aos poucos, as pétalas se abriram e revelaram outra flor.
Por fim, a candidata saiu de dentro dela e começou a apresentação performática
que ganhou muitos aplausos do público.
Antes do desfile, a Carol Zwick contou que vinha se preparando desde junho e que
gastou em torno de 22 mil reais na confecção dos trajes.
A Miss Espírito Santo apelou para uma tentação.
Ela veio dentro de uma lata grande, com várias imagens de bombons da Garoto.
A estrutura rodou e ela estava sentada num banco em meio a tubos de cobre,
lembrando a fábrica de chocolate.
Aliás, o cheiro da guloseima se espalhou no ar, junto com centenas de bombons
jogados para o público.
No desfile de trajes de gala,
a maioria das candidatas optou por tecidos transparentes e muitos bordados.
Achei até que ficou meio repetido.
Modelos justos muito bordados e muito coloridos.
Todos maravilhosos, claro, mas alguns eram parecidos.
Poucos transformistas apostaram em modelos mais volumosos.
Mas, não resta dúvida de que foi um banho de glamour na passarela.
Foram muito bem escolhidos, diga-se de passagem.
A irreverência da Kayka é sempre bem recebida.
As apresentações sensuais aumentaram em alguns graus a temperatura na ginásio.
Os transformistas parecem cada vez mais inspirados para se apresentar no Miss
Brasil Gay.
É como um Oscar no mundo gay. A juizforana Xuxu, que se destacou
na internet com um dos clipes mais acessados e está prestes a gravar um DVD ao
vivo, foi um dos destaques. A performance lembrou o vídeo gravado no centro de
Juiz de Fora que fez sucesso na internet. Misturando irreverência e
sensualidade, Xuxu ganhou o carinho do público.
Performático e elástico, o artista se desdobrou, literalmente, na passarela.
Haja fôlego!
Léo Áquila correu, pulou, dançou e revirou a cabeça até a gente se perguntar
em que momento ela sairia voando pelo ginásio.
Muito bom!
A atração internacional anunciada foi a Georgia Brown.
Nascida na Itália e criada no Brasil,
ela faz muito sucesso nos Estados Unidos e é considerada a "Diva da House
Music".
A cantora é reconhecida pelo Guiness Book como detentora da voz mais aguda do
mundo.
E ela usa e abusa desse timbre nos shows.
De cabelos vermelhos e vestido preto, ela não parou um minuto na passarela.
Todos são muito solícitos na organização.
Mas, o espaço é pequeno e sobra apenas uma faixa estreita nos fundos do
ginásio para os cinegrafistas.
O Robson se ajeitou em cima de uma caixa do equipamento de som.
Podemos dizer que a imprensa ficou imprensada lá no fundo.
Mas, tudo acabou bem e todo mundo trabalhou sem perturbar o público.
Os apresentadores Fernanda Müller e Paulo Nahan fizeram o suspense tradicional,
antes de anunciar que a Miss São Paulo, Taysa Shinayder, ficou com o terceiro
lugar.
A Miss Santa Catarina, Carol Zwick, ficou com o segundo lugar.
E a Miss Espírito Santo foi a eleita.
Ela gastou em torno de 50 mil reais com as roupas e plásticas.
Mas, valeu a pena.
Ela ficou ainda com os títulos de Melhor Traje Típico, Melhor Traje de Gala e
Miss Brasil Gay eleita pelo júri popular.
Ava Simões nasceu em Recreio, Minas Gerais, e mora no Rio de Janeiro.
É comum no Miss Brasil Gay que candidatas de outros estados representem as
unidades que não elegeram Misses Gays estaduais.
Apesar do susto dado pela Miss São Paulo, a vencedora deste ano mostrou jogo
de cintura.
Assim que o tumulto diminuiu, ela recompos o visual e voltou para terminar a
entrevista que estava dando antes do ataque.
Sorriu, mostrou confiança e disse que com ou sem peruca, ela é a Miss Brasil
Gay e vai ser uma Miss diferente.
Não quer pensar apenas na aparência, quer fazer algo mais, quer ajudar as
pessoas.
Boa sorte!
A última imagem que muitas pessoas vão guardar do Miss Brasil Gay 2009 é a
da agressão sofrida pela candidata vencedora.