Por Michele Pacheco
Hoje foi um dia daqueles! Parecia que não acabaria nunca. Começamos cobrindo a visita do Ministro das Comunicações, Hélio Costa. Ele esteve em Leopoldina assinando termos de doação para criar os tecnocentros comunitários na Zona da Mata Mineira. O projeto visa dar a todos acesso de qualidade à informática. O ministro tomou um café no aeroporto de Juiz de Fora e teve uma conversa informal com o prefeito da cidade, Alberto Bejani. Depois, seguiu viagem para Belo Horizonte. Em entrevista, Hélio Costa comentou as possibilidades de aliança política entre PT e PSDB em Minas Gerais. Ele voltou a afirmar que é a favor de alianças entre a base aliada. Se não for possível acordo entre todos os partidos aliados, aí sim deve-se discutir outras propostas.
Depois do aeroporto, seguimos para o bairro Santa Cecília, na região central da cidade.
A denúncia era de que um bebê tinha sido encontrado morto em casa com sinais de estrangulamento. No local, já não tinha mais qualquer movimento de policiais e conselho tutelar. Alguns moradores nos receberam com cara feia, apontando para o nosso carro e reclamando entre eles. Uma senhora nos disse onde ficava a casa da criança. Pedi ao Robson que não saísse do carro e me deixasse falar com a família antes de descer o equipamento, para evitar problemas. O avô do bebê estava no portão. Depois que eu pedi desculpas por incomodar a família num momento tão difícil, ele se tornou receptivo e autorizou a nossa entrada na casa. A mãe do bebê é uma estudante de 17 anos e parecia alheia a tudo o que estava acontecendo. Ela disse que deu de mamar ao filho Caíque, de 3 meses, e lembra que ele dormiu ao lado dela na cama, como sempre fazia. Depois disso, só lembra de ter acordado e visto a criança com espuma saindo por uma narina e sangue pela outra. Gritou por socorro, mas quando o SAMU chegou, o Caíque já estava morto. A avó do bebê é uma zeladora de 41 anos. Ela acredita que a filha possa ter ficado desacordada em função dos dois calmantes de tarja preta que tomou na noite anterior, por ordem médica (ela tem epilepsia). O corpo do menino foi levado para o IML de Juiz de Fora para necropsia e o laudo sai em 30 dias. Caíque viveu tão pouco, que a mãe sequer teve tempo de revelar as fotos que tirou no batizado dele, há duas semanas. Em respeito à família, vamos deixar esta parte do trecho sem fotos dos familiares nem do barraco onde eles vivem.
Abalados com a morte do menino, seguimos para a próxima pauta. No caminho, Robson fez imagens do temporal que deixou várias ruas alagadas nos bairros São Mateus e Bom Pastor. Quem estava na rua no centro da cidade foi pego de surpresa. Nem todos tinham guarda-chuva para se proteger. O trânsito ficou complicado em diversas regiões de Juiz de Fora.
Depois de registrar o aguaceiro, fomos a uma cidade vizinha.
Nosso objetivo era investigar uma denúncia recebida pelo repórter Ricardo Beghini, do Jornal Estado de Minas.
Como ele estava enrolado cobrindo o Tupi, coube à nossa equipe descobrir se o caso era verdade.
Matias Barbosa fica mais perto do que muitos bairros da cidade.
Na antiga estrada União Indústria, flagramos um ciclista imprudente circulando entre os carros nas curvas perigosas.
A chuva foi intensa para aquele lado também e a ponte na divisa dos municípios ficou cheia de água. Depois de conversar com muitas pessoas, descobrimos que a denúncia não era verdadeira e voltamos a Juiz de Fora.
Eu já estava digitando meus textos para gravar os offs, quando a nossa produtora, Regina Ramalho, avisou que uma mulher tinha sido encontrada morta em casa, amarrada e amordaçada. O crime aconteceu numa granja no bairro Niterói, zona Sudeste da cidade, mas o corpo tinha sido levado para um hospital particular. Lá, encontramos os policiais militares registrando a ocorrência. Não conseguimos contato com os familiares, que estavam abalados numa sala da administração. Os policias contaram que a dona de casa de 82 anos foi encontrada pela filha amarrada, amordaçada e com o rosto preso no travesseiro. Havia sinais de invasão na casa, mas ainda não se sabia se algum objeto tinha sido roubado, o que configuraria latrocínio, roubo seguido de assassinato.
Mais uma vez fomos para a TV descarregar o equipamento, digitar os textos e nos preparar para voltar para casa, onde deixei uma sopa bem suculenta pronta para o jantar. Mas, ainda não era dessa vez que a gente ia conseguir secar os ossos molhados depois de tanta chuva. Uma fonte me ligou passando que um duplo assassinato tinha acontecido na zona norte da cidade.
Fomos para o bairro Barbosa Lage e encontramos um número grande de curiosos.
Ninguém quis falar sobre o assunto, mas os policiais já tinham ouvido as testemunhas e nos passaram todos os detalhes.
Segundo o boletim de ocorrência da polícia militar, o vigilante André Cezário da Costa, 31 anos, encontrou a ex-mulher, Irna Daniele Petterman, também de 31 anos, na saída do trabalho dela. Os dois foram caminhando em direção ao bairro onde a Irna morava. No meio do trajeto, eles discutiram porque o André não se conformava com o fim do relacionamento. O segurança deu um tiro na cabeça da ex-mulher e depois se matou com um tiro na boca. O casal deixou uma filha de 6 anos. Ainda segundo os policiais, o revólver usado no crime e no suicídio era a arma de trabalho usada pelo André na empresa de vigilância onde ele trabalhava.
Em todos os casos de mortes que cobrimos hoje, a ajuda prestada pelos policiais militares foi imprescindível. Só podemos agradecer às equipes que estavam de plantão e sempre encontram um tempinho para atender aos chatos curiosos da imprensa. A gente chega sempre nos piores momentos e sedentos de informações. Eu e o Robson temos um relacionamento muito legal com os policiais. Nós respeitamos o trabalho deles e recebemos respeito de volta.
Quem somos
- Michele Pacheco e Robson Rocha
- JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
- Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...
quinta-feira, 3 de abril de 2008
Parque Halfeld - 154 anos de história
Por Robson Rocha
Hoje, Juiz de Fora é uma cidade de mais de 600 mil habitantes e que mantém, de certa forma, características de cidadezinhas do interior.
Olhando a cidade do alto, bem do alto, dá pra ver que ela tem muitas áreas verdes, mas lá embaixo, bem no meio da cidade existe um lugar especial, que parece uma ilha no meio do concreto do centro da cidade.
É o Parque Halfeld.
O terreno foi adquirido pela Câmara Municipal em 1854 e era conhecido como Largo Municipal.
O Antigo Jardim Municipal era o local escolhido para instalação das diversões itinerantes que passavam pela cidade, já que Juiz de Fora não possuía nenhuma forma regular de entretenimento. Ele foi até palco de touradas.
Quando essas atrações aqui chegavam o local era capinado e limpo. No período de chuvas virava um lamaçal.
Sua primeira reforma data de 1879 quando foi ajardinado, seguindo modelos de jardins ingleses.
Em 1906, foi totalmente reformado. A obra foi financiada pelo coronel Francisco Mariano Halfeld, passando, em virtude disso, a chamar-se Parque Halfeld.
Dá pra imaginar uma cidade em 1908 com pouco mais de 25 mil habitantes e que essa pequena população desfrutava de um maravilhoso espaço de lazer.
O Parque Halfeld é um cartão postal de Juiz de Fora. O charme do Parque e dos jardins é de dar inveja. E, vendo fotos antigas, dá uma vontade danada de voltar no tempo e passear por ele. Assentar em um dos bancos e observar os bondes passando.
A elegância da década de 1940 se reflete no local de passeio dos juizforanos da época.
Nessa semana, a Michele e eu voltamos lá para gravar uma matéria e a realidade é bem diferente de 60 anos atrás.
Gravamos uma entrevista com uma dentista que mora em frente ao Parque Halfeld há 20 anos. Ela afirmou que a prostituição no local é grande e que à noite o programa costuma ser feito no próprio Parque.
Pedi à Michele que me aguardasse enquanto tentava pegar uns flagrantes, óbvio que não seria de pessoas transando.
Logo de cara a gente vê que existem muitos cães perambulando pela praça e foi justamente essa cadelinha muito simpática que me acompanhou durante a toda a gravação.
A Magrelinha era a única que parecia gostar da minha presença, pois as prostitutas saíram, literalmente, correndo quando viram a câmera.
Logo de cara, encontrei um grupo de andarilhos tomando cachaça e com eles um garoto que não parecia pobre, consumindo muito álcool. Quando viram a câmera as ameaças começaram. Alguns correram e se esconderam próximo ao banheiro, isso me adjetivando com os melhores palavrões que se lembravam. Enquanto isso o restante do grupo provocava: “qué filma, ô moço? Intão veim cá prô ce vê”.
Na parte que fica para o rua Santo Antônio, o jogo rola solto, muitas vezes valendo dinheiro e aí vagabundos se misturam aos idosos.
Ali mais uma vez fui ameaçado, o cara disse que se eu ficasse ali ele ia me dar uma porrada.
Fingi que não ouvi e continuei fazendo meu trabalho, ele ameaçou levantar eu coloquei a câmera no chão e fui para o lado dele com uma cara não muito boa.
Ele assentou de novo e ficou só me olhando com cara feia, peguei a câmera e voltei a fazer minhas imagens.
Voltei para o meio do Parque e a Magrelinha parou para tomar água, água que por sinal está imunda. As pessoas não têm o mínimo de educação, jogam lixo pra todo lado.
Também são vários os andarilhos que dormem pela praça, em geral, totalmente bêbados.
Isso tudo misturado às crianças que vão lá para brincar e correr atrás dos inúmeros pombos que reviram o lixo deixado por parte dos freqüentadores do lugar.
Enquanto gravava os pombos, um mendigo “trêbado” me fazia mais elogios. Coisas do tipo: “ Seu filho... vai filmar em outro lugar”, “deixa a gente aqui em paz e vai tomar conta da sua mãe, aquela p... que está dando pra todo mundo”. Nessa hora, sendo bem honesto, o sangue sobe e a vontade é de partir pra porrada, mas aí a Michele apareceu e me chamou para gravar a passagem, que tivemos que gravar fora da praça devido ao “bg” que nosso “amigo” produzia com seus gritos.
Depois de gravar, deixei a Michele no carro e voltei para tirar algumas fotos, mesmo que mais distantes. Quando retornei ao carro, me deparei com o maior problema de gravar no Parque Halfeld, “os malas”.
A Michele parece que tem um imã para atrair “malas”. Eu entrei no carro, liguei o motor e o cara não saía da janela. A Michele dizia que a gente tinha que ir e quando eu começava a andar com o carro ele quase debruçava na janela.
Custamos, mas saímos.
E agora esperamos que com o novo projeto de segurança 24 horas no Parque Halfeld, ele deixe de ser um submundo de Juiz de Fora e volte a ser local de diversão e cultura.
Uma vez que o Parque Halfeld, desde a sua criação, é um dos mais importantes símbolos de Juiz de Fora.
Hoje, Juiz de Fora é uma cidade de mais de 600 mil habitantes e que mantém, de certa forma, características de cidadezinhas do interior.
Olhando a cidade do alto, bem do alto, dá pra ver que ela tem muitas áreas verdes, mas lá embaixo, bem no meio da cidade existe um lugar especial, que parece uma ilha no meio do concreto do centro da cidade.
É o Parque Halfeld.
O terreno foi adquirido pela Câmara Municipal em 1854 e era conhecido como Largo Municipal.
O Antigo Jardim Municipal era o local escolhido para instalação das diversões itinerantes que passavam pela cidade, já que Juiz de Fora não possuía nenhuma forma regular de entretenimento. Ele foi até palco de touradas.
Quando essas atrações aqui chegavam o local era capinado e limpo. No período de chuvas virava um lamaçal.
Sua primeira reforma data de 1879 quando foi ajardinado, seguindo modelos de jardins ingleses.
Em 1906, foi totalmente reformado. A obra foi financiada pelo coronel Francisco Mariano Halfeld, passando, em virtude disso, a chamar-se Parque Halfeld.
Dá pra imaginar uma cidade em 1908 com pouco mais de 25 mil habitantes e que essa pequena população desfrutava de um maravilhoso espaço de lazer.
O Parque Halfeld é um cartão postal de Juiz de Fora. O charme do Parque e dos jardins é de dar inveja. E, vendo fotos antigas, dá uma vontade danada de voltar no tempo e passear por ele. Assentar em um dos bancos e observar os bondes passando.
A elegância da década de 1940 se reflete no local de passeio dos juizforanos da época.
Nessa semana, a Michele e eu voltamos lá para gravar uma matéria e a realidade é bem diferente de 60 anos atrás.
Gravamos uma entrevista com uma dentista que mora em frente ao Parque Halfeld há 20 anos. Ela afirmou que a prostituição no local é grande e que à noite o programa costuma ser feito no próprio Parque.
Pedi à Michele que me aguardasse enquanto tentava pegar uns flagrantes, óbvio que não seria de pessoas transando.
Logo de cara a gente vê que existem muitos cães perambulando pela praça e foi justamente essa cadelinha muito simpática que me acompanhou durante a toda a gravação.
A Magrelinha era a única que parecia gostar da minha presença, pois as prostitutas saíram, literalmente, correndo quando viram a câmera.
Logo de cara, encontrei um grupo de andarilhos tomando cachaça e com eles um garoto que não parecia pobre, consumindo muito álcool. Quando viram a câmera as ameaças começaram. Alguns correram e se esconderam próximo ao banheiro, isso me adjetivando com os melhores palavrões que se lembravam. Enquanto isso o restante do grupo provocava: “qué filma, ô moço? Intão veim cá prô ce vê”.
Na parte que fica para o rua Santo Antônio, o jogo rola solto, muitas vezes valendo dinheiro e aí vagabundos se misturam aos idosos.
Ali mais uma vez fui ameaçado, o cara disse que se eu ficasse ali ele ia me dar uma porrada.
Fingi que não ouvi e continuei fazendo meu trabalho, ele ameaçou levantar eu coloquei a câmera no chão e fui para o lado dele com uma cara não muito boa.
Ele assentou de novo e ficou só me olhando com cara feia, peguei a câmera e voltei a fazer minhas imagens.
Voltei para o meio do Parque e a Magrelinha parou para tomar água, água que por sinal está imunda. As pessoas não têm o mínimo de educação, jogam lixo pra todo lado.
Também são vários os andarilhos que dormem pela praça, em geral, totalmente bêbados.
Isso tudo misturado às crianças que vão lá para brincar e correr atrás dos inúmeros pombos que reviram o lixo deixado por parte dos freqüentadores do lugar.
Enquanto gravava os pombos, um mendigo “trêbado” me fazia mais elogios. Coisas do tipo: “ Seu filho... vai filmar em outro lugar”, “deixa a gente aqui em paz e vai tomar conta da sua mãe, aquela p... que está dando pra todo mundo”. Nessa hora, sendo bem honesto, o sangue sobe e a vontade é de partir pra porrada, mas aí a Michele apareceu e me chamou para gravar a passagem, que tivemos que gravar fora da praça devido ao “bg” que nosso “amigo” produzia com seus gritos.
Depois de gravar, deixei a Michele no carro e voltei para tirar algumas fotos, mesmo que mais distantes. Quando retornei ao carro, me deparei com o maior problema de gravar no Parque Halfeld, “os malas”.
A Michele parece que tem um imã para atrair “malas”. Eu entrei no carro, liguei o motor e o cara não saía da janela. A Michele dizia que a gente tinha que ir e quando eu começava a andar com o carro ele quase debruçava na janela.
Custamos, mas saímos.
E agora esperamos que com o novo projeto de segurança 24 horas no Parque Halfeld, ele deixe de ser um submundo de Juiz de Fora e volte a ser local de diversão e cultura.
Uma vez que o Parque Halfeld, desde a sua criação, é um dos mais importantes símbolos de Juiz de Fora.
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