Por Michele Pacheco
Esse foi o caso mais confuso que já cobri na minha vida!
Uma fonte contou que havia um acidente com morte no bairro Barreira do Triunfo, zona norte de Juiz de Fora.
Como tínhamos um intervalo antes da primeira pauta, corremos para lá.
No local, encontramos muitos curiosos parados nas margens da Avenida JK, quase chegando na BR 040.
Eles olhavam para baixo, onde havia um caminhão tombado na ribanceira.
Perguntamos o que tinha ocorrido e o José Adelson, auxiliar de produção, contou que pedalava pelo trecho por volta de sete e cinquenta da manhã e notou o mato no acostamento muito amassado em alguns pontos.
Seguindo as marcas, ele enxergou o caminhão e desceu para ver se tinha alguém precisando de ajuda.
Acabou encontrando um corpo caído a uns cinco metros da cabine.
Os documentos no bolso da vítima foram retirados pelo Adelson.
Eram de João Evangelista Quetz, de 52 anos.
Pelo que dava para ver no local, ele foi arremessado para fora da cabine quando o veículo voou da pista para a ribanceira.
As marcas no asfalto mostram que o motorista foi na contra-mão, puxou de volta o caminhão, passou pelo acostamento, varou um matagal e voou por uns trinta metros, batendo no chão e tombando.
Parecia um acidente triste, mas simples.
Mas, começaram a surgir informações desencontradas.
Uma fonte nos ligou para dizer que a polícia militar não queria ir ao local, porque a ocorrência seria repetida de um atendimento feito durante a madrugada, com socorro de uma vítima.
O problema foi a demora para encontrar a tal ocorrência e confirmar se o caso era o mesmo.
O primeiro motorista que parou para ajudar confirmou ter ligado para a PM às oito horas.
Nossa equipe estava no local quando os policiais chegaram, uma hora depois da chamada.
Para ter acesso ao caminhão, era preciso escorregar ribanceira abaixo.
Como a perícia ainda seria feita no local, evitamos descer e o Robson foi até o meio do barranco, de onde tinha uma visão melhor, sem prejudicar a cena do acidente.
Pena que nem todo mundo tem o mesmo raciocínio e muitos curiosos driblaram os policiais para ver de perto a tragédia alheia.
Enquanto esperávamos a perícia, o Adelson voltou ao caminhão e encontrou perto da cabine uma carteira com documentos de outro homem.
Estava completa a confusão.
As perguntas eram muitas.
Quantos estavam no veículo?
Por que uma vítima foi socorrida e outra deixada para trás?
Por que a vítima socorrida não contou a ninguém que havia mais um ferido?
Os policiais militares pareciam perdidos.
O sargento não saía do telefone.
Quando saiu, foi para nos dizer que não poderia passar nenhuma informação e que só a assessoria de imprensa da PM poderia falar.
Oras, isso só aumentou a nossa desconfiança de que alguma irregularidade foi praticada naquela ocorrência.
Se os pm's foram ao local na madrugada e registraram o caso, como não encontraram a vítima caída no meio do mato?
Sem falar que para as equipes de reportagem é inviável largar a cena do acidente, ir a um gabinete gravar com um assessor de imprensa e voltar ao local para ver o que mais estava sendo feito.
Os parentes do João descobriram por meio de um amigo policial que um homem foi mesmo socorrido durante a madrugada e levado para o Hospital de Pronto Socorro.
Liguei para a redação e pedi que levantassem no HPS a história da tal vítima
Os documentos eram de Edmar dos Anjos França, de Santos Dumont.
Pelo nome, foi possível confirmar que ele estava internado desde a meia-noite e meia.
Muito bem.
Confirmada a presença de outra vítima, restou a questão do João Evangelista ter sido largado no local.
Fiquei me colocando no lugar dos parentes dele, imaginando se morreu na hora em que foi arremessado ou se morreu lá, sozinho no meio do mato, no frio e no nevoeiro.
Só os peritos vão poder responder a isso.
Nossa produtora, Regina Ramalho, fez contato com os bombeiros.
Como sempre, eles foram prestativos e passaram as informações na mesma hora.
O Capitão Santiago confirmou que uma equipe de Resgate foi à Barreira do Triunfo, se prontificou a fazer contato com os profissionais e pegar mais detalhes do caso.
Trabalhar com gente competente assim, dá gosto!
Em pouco tempo tínhamos os dados que precisávamos.
O Edmar foi retirado da cabine pelos bombeiros e recebeu os primeiros atendimentos com apoio de uma equipe do SAMU.
Ele estava com fraturas pelo corpo, meio desorientado e não falou nada sobre o colega que ficou para trás.
Foi encaminhado ao HPS, onde deveria passar por cirurgia.
No hospítal, encontramos com amigos do SAMU que confirmaram a história.
Eles acompanharam o trabalho dos bombeiros para retirar a vítima das ferragens e ajudaram no socorro.
A conclusão é de que não houve negligência no atendimento.
Sem qualquer informação ou sinal de outra vítima, no escuro, no fundo de uma ribanceira cercada por nevoeiro, eles acreditaram que só havia um ferido.
Nem bombeiros, nem socorristas viram qualquer policial militar no local do acidente.
É comum os pm's registrarem casos de acidente direto no hospital, sem conferir o local do fato, que muitas vezes já foi todo alterado para garantir a segurança da via e dos outros motoristas.
O que não ficou claro nessa história confusa é o motivo do Edmar ter omitido a presença do João.
Impossível não pensar se ele apenas estava desorientado pela gravidade do acidente, ou se há algo mais suspeito por trás disso.
Tomara que tenha sido reflexo dos ferimentos e não uma omissão calculada.
Vamos ficar de olho na apuração desse caso e torcer para o Edmar se recuperar logo e esclarecer tudo.