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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Primeira transmissão de TV no Brasil e a primeira emissora de TV do interior do Brasil

Por Robson Rocha 

A gravação de uma matéria nos fez voltar no tempo nessa semana. 

A pauta era a primeira transmissão de televisão no Brasil, realizada em 1948, por Olavo Bastos Freire. O primeiro local marcado para as gravações da matéria foi o prédio da Funalfa, antigo prédio da Prefeitura de Juiz de Fora. 
Lá encontramos com Nilo Campos, chefe da Divisão de Memória da Funalfa.
Ele nos levou até uma sala onde estão guardadas relíquias da televisão brasileira. Entrando na sala, logo foi possível ver a câmera. Ela foi montada sobre uma espécie de caixa, que funciona como um pedestal e que permite movimentos de pan horizontal e vertical. Do lado de dentro da caixa ainda existe uma série de engrenagens que permitem a variação na altura da câmera. Em princípio, segundo informação colada na base do equipamento, a câmera possuía cerca de 120 linhas e 30 quadros por segundo e depois foi modificada para 262 linhas 
60 quadros por segundo.

Ela era ligada a um pequeno transmissor. O receptor era uma caixa preta onde havia um monitor de 3 polegadas. Foi com esses equipamentos, que o próprio Olavo Bastos construiu, que no dia 28 de setembro de 1948, foi realizada a primeira transmissão experimental de televisão no Brasil. O fato aconteceu diante de várias testemunhas. Generais do exército, prefeito de Juiz de Fora e várias autoridades acompanharam no monitor imagens do Parque Halfeld e da Avenida Rio Branco, geradas da sacada do prédio da prefeitura Municipal.
Tudo foi registrado pelo cineasta João Gonçalves Carriço e hoje é parte do acervo que está na Cinemateca de São Paulo. Em 1950, Olavo Bastos transmitiu o primeiro jogo pela TV no Brasil, Bangu e Tupi. O jogo aconteceu em Santa Terezinha e foi assistido no centro de Juiz de Fora. O equipamento, hoje, não funciona mais, mas Nilo Campos sonha em ter o equipamento recuperado e exposto.
Porém, apesar de Juiz de Fora possuir quatro canais de televisão, ninguém se interessou em tentar recuperar essa parte da nossa história. Existe pouco material sobre Olavo Bastos Freire, que morreu em 2006. Os relatos são apenas da primeira transmissão em Juiz de Fora e que Bastos teria ajudado a montar a TV Paranaense, primeira emissora do Paraná.
Mas , em 2000, o professor de cinema Rogério Terra Jr gravou um documentário com o técnico em eletrônica. No vídeo, o Olavo explica como montou a câmera, o transmissor e o recpetor. Esse é o melhor material sobre Olavo Bastos Freire. Documentos e projetos dos equipamentos também estão guardados com a prefeitura. Mas, segundo Nilo Campos, muito se perdeu com a morte de Olavo. A família teria se negado a doar o restante do material.
Outra aula que tivemos, graças a essa pauta, foi com o Natálio Luz. Uma pessoa especial que nos contou como foi o inicio da primeira televisão do interior do Brasil, a TV Industrial. Ela foi inaugurada em julho de 1964 e possuía uma torre helicoidal, 1ª do tipo na América do Sul. Foi uma emissora com sede em Juiz de Fora e considerada a primeira emissora de televisão a funcionar no interior do país. Segundo Natálio, o regionalismo da TV Industrial se confirmava com uma programação onde 80 % da produção acontecia no estúdio no Morro do Imperador.
Eram telejornais, programas esportivos e principalmente programas de auditório. O restante complementado com filmes fornecidos pela Herbert Richards, Viacon e Century Fox. Natálio ainda nos contou sobre as dificuldades de se produzir e que todo mundo fazia de tudo por trás das câmeras para que os programas fossem ao ar.
Além disso, segundo ele, todo mundo aprendeu televisão fazendo e sem saber se estava fazendo da forma certa. Mas, acima de tudo a equipe tinha garra. Ele mesmo foi diretor, locutor, apresentador de vários programas. Ele nos mostrou emocionado o script do TV-Jornal, que se iniciava com o seguinte texto:
“Boa noite, amigos telespectadores. No ar o TV-Jornal, o jornal da cidade. Apresentação diária da TV Industrial de Juiz de Fora, canal 10”.
Como dá pra ver na foto acima, não havia teleprompter e o apresentador tinha que tentar memorizar o texto, senão o jeito era ler as laudas, ou o texto, em folhas que ficavam na mão. O silêncio no estúdio na hora do jornal tinha que ser absoluto e o apresentador também tinha que ter uma boa voz. Isso porque não havia microfone de lapela e o operador de boom também tinha que ficar esperto com o microfone na mudança de apresentador.
Com a venda da TV Industrial para a TV Globo, Natálio continuou trabalhando por um tempo na nova emissora na área comercial.
Em uma das fotos na TV Industrial encontrei de um lado de Natálio, Ivam Costa, que hoje é locutor da Rádio Globo Juiz de Fora. Do outro lado, Sebastião Cosme, que foi um dos primeiros operadores de câmera de Juiz de Fora e participava de todos os programas da TV Industrial. Ele foi meu Supervisor, na TV Globo Juiz de Fora, e hoje continua trabalhando como Supervisor de Operações da TV Panorama. Natálio Luz nos contou várias histórias e foi de uma simpatia com nossa equipe, que não temos como agradecer.
Ele nos deu uma aula de rádio e televisão. Sem falar que o jeito dele é muito interessante. Parece um cavalheiro à moda antiga. Recebeu a Michele com um beijo na mão e fez questão de tirar uma foto com ela. Quem sabe, uma das faculdades de Juiz de Fora não organiza para o *Dia da Televisão, 18 de setembro, uma palestra com os profissionais que começaram a televisão em Juiz de Fora com a TV Industrial. 

*O Dia da Televisão foi instituído pela lei federal no 10.255, de 9/7/2001, para ser celebrado a 18 de setembro, em todo o Brasil.