Na quinta-feira, tínhamos que gravar imagens para uma matéria sobre o aniversário da cidade. Na realidade, uma crônica sobre Juiz de Fora.
Depois de bater cabeça, fomos às ruas. Depois eu explico o bater cabeça.
Primeiro, escolher locais para as partes onde a Michele apareceria.
Um dos locais foi mais que obvio, o calçadão da rua Halfeld.
Ali é o coração da cidade e daria para servir de fundo para a passagem.
Como precisava rebater a luz do sol e não trabalhamos com auxiliar, a Michele se posicionou próxima a uma viatura da PM que estava parada no local.
Aí, eis que surge um policial e educadamente pergunta:
“Vocês estão fazendo matéria sobre segurança publica? Se for, eu tenho que avisar que vocês vão usar a viatura na matéria.”
Expliquei a ele que a Michele estava naquela posição, pois nos resolveria dois problemas: a luz que estava sendo rebatida no capô branco do carro e as pessoas que adoram aparecer e não teriam como passar entre a Michele e a câmera.
O policial fez uma cara de quem não entendeu misturada com desconfiança
Como a gente não tinha uma idéia formada de como gravar os planos, gravamos com cinco variações de ângulos e movimentos pra na edição ver o que ficaria melhor.
Mas, faltava um lugar para gravar a abertura.
Não bastava pensar apenas no local, tínhamos que pensar também na posição do sol. Isso, para evitar sombras duras no rosto da Michele.
Escolhida a região com a luz mais favorável, começamos a procurar a melhor vista. Havia muito mato em todas as encostas na região do bairro Nossa Senhora Aparecida e nenhum local com a vista diferente e limpa da cidade.
Quando estávamos quase desistindo, a Michele viu uma laje de uma obra de onde a vista seria perfeita.
O problema é que havia um muro enorme e nenhum sinal de alguém na obra. Mesmo assim resolvemos ir até lá.
Por sorte, o dono da obra apareceu e liberou nossa entrada. Realmente a vista era muito boa e rendeu boas imagens.
Dali, seguimos para fazer as imagens que encaixassem no texto da Michele.
Câmera no ombro e idéias na cabeça, lá fomos nós!
Como sempre, nada acontece na hora em que você precisa.
O calçadão estava vazio e eu precisava de imagens de agitação. Parecia que ninguém tinha pressa pra nada.
De longe, usando a profundidade de campo, dava pra enganar, parecia que o calçadão fervia de gente.
O que salvou foram algumas figuras que apareceram, como o violonista.
Na realidade, ele não toca nada!
Mas, pra imagem, ele ficou perfeito para a parte do texto que citava anônimos de Juiz de Fora.
Outro que caiu como uma luva foi o vendedor de chapéus em forma de guarda-chuvas. Fui gravando sem ele perceber, de longe. Mas, quando viu a câmera apontada para ele, fez uma cara de poucos amigos pra mim. Mas, depois relaxou e não se importou que o gravássemos.
Gravamos várias imagens da cidade pra ilustrar a crônica e tudo tinha que ser muito rápido, não dava pra ficar enrolando muito nos locais.
E, ao mesmo tempo não podia fazer “nas coxas”, pois era o produto para o jornal do dia do aniversário de Juiz de Fora.
Aí, a Michele me lembrou que precisaria de imagens de crianças.
E, criança quando vê uma câmera corre pra cima ou se esconde e não fica natural. Por isso, prefiro gravar as imagens à distância.
E, não sei se já notaram, criança corre sem rumo. Ela vai numa direção e de repente vira e corre para o outro lado.
Aí, pra acompanhar com o zoom fechadão é dureza. Parece que a criança é o Garrincha e eu o Zé. Tomei cada drible de dar pena.
Registrada a garotada, chegou a hora sagrada do almoço.
Barriguinhas cheias, voltamos à tarde.
Porém, São Pedro não ajudou e mandou um chuvão.
Ficamos presos na Câmara Municipal e a Maria pediu à Michele para ajuda-la a fazer um cachecol.
Lembra lá no inicio que eu disse que batemos cabeça?
Batemos cabeça, pois surgiu a idéia de terminar a crônica com a Maria cantarolando o hino de Juiz de Fora.
Aí, eu fui taxado de louco.
Maria é aquela que está sempre cantando pelas ruas da cidade e que algumas pessoas chamam de Maria “Doida”.
Ela não é doida nada!
É só uma pessoa que rompeu com todas as normas e vive do jeito que acha certo.
A sinceridade dela beira a falta de educação, mas todo mundo conhece a Maria e já nem estranha os comentários atravessados.
Expliquei meus motivos: primeiro porque ela é uma figura muito conhecida e segundo porque acho legal que ela fica na rua, mas sempre trabalhando.
E, já que alguém tinha que falar, podia ser do povão e por que não a Maria?
Depois de bater cabeça, fomos às ruas.
Primeiro a Michele aproveitou para explicar à Maria uma técnica para fazer cachecóis.
Nada a ver, né!
Mas, a Maria queria aprender.
Enquanto isso, fui fazendo imagens fechadas de nossa personagem. Depois de um longo tempo, ela entendeu como fazer.
Aí, pedimos que ela cantasse o hino de Juiz de Fora.
Ela compensou nosso trabalho e cantou todo o hino.
É verdade que trocou algumas palavras.
Mas, a maioria de nós não sabe cantar o hino de nossa cidade.
E, ela cantou, e com convicção!
Depois, terminou com um ótimo pamparampampam.
Na edição do material, acharam tão interessante que separaram da crônica e decidiram deixar que a Maria fechasse o Jornal da Alterosa de Aniversário de Juiz de Fora.
JUIZ DE FORA - 159 ANOS