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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Acidentes graves na BR 040

Por Michele Pacheco

É incrível!
Todo mundo sabe que o trecho da BR 040, entre Juiz de Fora e Santos Dumont é perigoso.
Mesmo assim, os acidentes se repetem, cada vez mais graves.
Em três dias foram dois casos com um morto e dois feridos.

Hoje, por volta de 15h15, um caminhão de Muriaé seguia no sentido Juiz de Fora-Santos Dumont e foi atingido na traseira por outro caminhão que ia na mesma direção.
O motorista perdeu o controle do veículo, invadiu a contramão e bateu de frente numa carreta.
Por sorte, os dois não estavam em velocidade alta, o que evitou uma tragédia.

O carona do caminhão foi o primeiro a ser socorrido pelos bombeiros de Juiz de Fora.
A cabine foi destruída com a violência da batida, o painel prendeu o motorista no banco e o resgate foi demorado.
Foram usados serras, desencarcerador, corta-pedal e outros equipamentos para abrir espaço no caminhão retorcido.

O trabalho dos bombeiros sempre me surpreende.
Eles ficaram uma hora e meia no local, se desdobrando para socorrer o caminhoneiro.
O párabrisa foi retirado e a equipe entrava e saía pelo espaço aberto, sem se preocupar com os cacos de vidro, as pontas da lataria cortada e os restos do veículo que estavam espalhados.

O tempo todo, o sargento Denílton ficou ao lado da vítima.
Com voz calma e segura, ele buscava tranquilizar o motorista e mantê-lo acordado, evitando que perdesse a consciência.
Ao mesmo tempo, o bombeiro ajuda os companheiros no resgate, colaborando com as ações de desencarceramento.

Os bombeiros mostraram mais uma vez a importância de um bom treinamento.
O grupo pensou sempre numa mesma direção.
O que um sugeria, os outros já estavam colocando em prática.
Na hora do socorro ao acidentado, os gestos eram precisos e ágeis, mostrando o preparo de todos para atuar em situações de risco para os bombeiros e as vítimas.

Uma hora depois do acidente, o resgate ainda era complicado.
Os bombeiros conseguiram soltar a perna do motorista usando o desencarcerador, correntes e a carreta.
A demora deixou exausto o acidentado.
Apesar do atendimento que estava recebendo, ele precisava de reforço e uma equipe do SAMU entrou em ação.
Máscara de oxigênio e soro foram usados.

Nercindo dos Passos, carreteiro, estava assustado.
Ele contou que tem 34 anos de profissão e nunca tinha sofrido um acidente.
"Acho que o motorista do caminhão deve ter batido a cabeça, porque ele andou um trecho muito grande antes de invadir a contramão e bater em mim" explicou o carreteiro que seguia de Itaúna para Juiz de Fora.

Depois de muito trabalho, os bombeiros conseguiram liberar o pé da vítima que estava preso no pedal retorcido.
Márcio Dimas Fernandes foi colocado numa prancha, passado para a maca e levado para a ambulância do SAMU.
Ele teve as duas pernas imobilizadas com talas e foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia, em Juiz de Fora.

Na última sexta-feira, faltando cinco minutos para o Brasil entrar em campo contra a Holanda, outro acidente grave foi registrado na BR 040.
Um motociclista entrou numa curva, perto do trevo de Santos Dumont, ultrapassando uma carreta. No sentido contrário, um ônibus da Útil, linha Belo Horizonte-Barra Mansa, fazia o mesmo com outra carreta.
Na curva, a moto invadiu a contramão e bateu de frente no ônibus.

O motociclista caiu na pista e teve a cabeça esmagada pela carreta que ele estava ultrapassando.
Os documentos dele eram do Rio de Janeiro e os da moto eram do Espírito Santo.
Os motoristas envolvidos no acidente ficaram chocados e tiveram dificuldades para falar do que houve.

Esse é o tipo de matéria que nenhum repórter gosta de fazer.
Enquanto alguns curiosos mórbidos não perdem a chance de ver miolos e sangue espalhados nos acidentes graves, a gente não tem escolha.
Chega ao local do acidente e acaba vendo cenas difíceis de esquecer.
Acho lamentável ver pais com filhos pequenos no colo, mostrando as imagens tristes como se fossem algo legal.

Não consigo esquecer que por trás do sangue e da tragédia existia um ser humano que deixou família e amigos.
Nos acidentes graves, a imagem nos persegue por um tempo.
Com a experiência, aprendi a lidar com elas da melhor forma possível.
No início, eu ficava dias pensando no que tinha visto, no sofrimento das pessoas envolvidas.
Aos poucos, encontrei o meu ponto de equilíbrio: respeitar ao máximo as vítimas e os familiares, evitar atrapalhar o trabalho dos policiais e dos bombeiros e ocupar a mente depois da matéria.
Um bom livro antes de dormir para mim é o melhor remédio, tenha a cabeceira cheia de títulos diversos.