Por Michele Pacheco
O loteamento no bairro Nova Cidade, em Barbacena é a realização do sonho de muitas pessoas que passaram a vida vivendo de aluguel.
O sorteio foi em 2009, mas até hoje 135 casas não foram entregues.
Segundo a prefeitura, elas tiveram que passar por reformas depois dos temporais do início do ano e não liberadas junto com o restante.
Com a demora, algumas famílias decidiram invadir os imóveis.
A prefeitura informou que foram 105 unidades invadidas e que o movimento começou há quase um mês.
A expectativa era de que as casas fossem entregues nesta semana, nos primeiros dias de agosto.
Mas, com o tumulto isso é impossível.
Durante a nossa reportagem, acompanhamos duas irmãs que participaram do processo e conseguiram os imóveis.
Elas estavam muito decepcionadas com a invasão quando estavam prestes a escapar do aluguel.
O olhar era de muita tristeza para as casas com sinais de ocupação.
A casa da Suely estava com um pano na janela pelo lado de dentro.
Quando ela reclamou da situação, algumas mulheres responsáveis pela invasão se exaltaram e começaram a agredir a dona de casa com palavras injustas.
Uma das mais irritadas chegou a dizer que se ela estivesse mesmo precisando de casa, teria invadido como todos eles fizeram.
O absurdo da situação foi mais longe.
No meio do bate boca, a mesma mulher saiu apressada e voltou com um miolo de fechadura e as chave e ofereceu à Suely dizendo que a chave estava ali e era para ela entrar na casa e parar de reclamar.
Foi impossível segurar a língua.
Eu estava gravando entrevista com a dona de casa, quando a folgada apareceu.
Ainda com o microfone ligado, eu perguntei se ela tinha autorização legal para estar de posse da chave da casa de outra pessoa.
A mulher desconversou e disse que tinha sido autorizada pela pessoa que invadiu a casa e desistiu dela, porque já tinha onde morar.
Aí, veio a melhor parte.
Continuei insistindo na irregularidade e, por fim, ela tentou encerrar a discussão dizendo que era só a Suely pagar os 15 reais que a tal mulher tinha gasto trocando a fechadura.
Comentei que era um absurdo e ela, na maior cara de pau, disse que não dava era para deixar a amiga dela no prejuízo, afinal ela tinha que repassar o dinheiro gasto com a fechadura.
Perguntei se ela não achava isso criminoso, e a criatura saiu pisando duro.
Gente, entendo perfeitamente o que todas as mulheres que estavam lá disseram.
Elas precisam de um lugar para morar e não têm condições de comprar uma casa.
Mas, acho que nada justifica passar por cima de quem também enfrenta dificuldades e age de acordo com as leis.
Todos que foram sorteados no programa se inscreveram, fizeram o cadastro e correram atrás, legalmente, do sonho da casa própria.
Já pensaram se isso vira moda?
Quem não tem um carro do ano invade a concessionária e toma posse de um.
Quem não tem uma casa na praia, escolhe uma e vai passar um temporada nela.
E por aí vai.
Essas irmãs que foram tão humilhadas e agredidas pelas invasoras têm motivos de sobra para esperar ansiosas pelos imóveis.
As casas onde moravam de aluguel foram condenadas pela Defesa Civil no último período de chuva.
Elas estavam vivendo de auxílio da prefeitura e contavam nos dedos o dia de tomar posse do que é delas por direito.
Agora, estão até com medo de morar lá, porque não sabem se os invasores vão ser mantidos no loteamento.
A prefeitura disse que não pode fazer nada, nem a Caixa Econômica Federal porque a construtora não entregou oficialmente as casas.
Já o responsável pelo departamento de engenharia da empreiteira disse que o primeiro passo é tomar posse das casas que ainda não foram invadidas e entregar os imóveis à prefeitura.
O segundo passo é mover um processo de reintegração de posse para recuperar o que foi invadido.