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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

terça-feira, 16 de março de 2010

Acidente em gasoduto fere 6 trabalhadores em Minas

Por Michele Pacheco

Lamentável! Acho incrível a capacidade que algumas empresas têm de transformar o assessor de imprensa em uma parede contra a imprensa.
Se eu contrato um profissional para lidar com os jornalistas, não posso querer que eles ajam como barreiras para manter os órgãos de comunicação afastados.
Eles devem ser profissionais prontos para informar o estritamente necessário para não prejudicar a empresa, mas que seja o suficiente para manter os órgãos de comunicação informados.
Não foi o que houve hoje à tarde em Santos Dumont.

Recebemos a informação exclusiva de que sete pessoas tinham sido feridas da Estação de Gás da Mantiqueira e dado entrada na Santa Casa de Misericórdia de Santos Dumont com ferimentos graves, provocados por um acidente numa tubulação da obra do gasoduto Rio de Janeiro-Belo Horizonte (Gasbel II).
Corremos para lá.
O canteiro de obras fica na margem da BR 040, perto do trevo para Oliveira Fortes.
No local, os funcionários informaram que um engenheiro da Petrobrás já tinha visto a nossa equipe e avisado a todos para não permitir a entrada da imprensa nem passar qualquer tipo de informação.

Duas funcionárias chegaram num dos inúmeros carros das empresas envolvidas na obra e nos disseram que só podiam dizer uma coisa: procurem a assessoria de imprensa da Petrobras no Rio.
Nossa produção tentou contato, mas também não conseguiu informações precisas.
Enquanto a gente se desdobrava em Santos Dumont para entender o que tinha ocorrido e confirmar os dados passados por fontes, a Flávia Souza gastava horas ao telefone tentando o mesmo.

Na Santa Casa de Misericórdia de Santos Dumont, a situação era ainda pior do que no canteiro de obras.
Havia uma multidão de funcionários das firmas contratadas para a construção.
Eles ficaram inquietos com a nossa presença.
Fui à recepção e pedi para falar com alguém do hospital que pudesse me informar o número de feridos e o estado deles.
Uma funcionária, visivelmente irritada, me disse que todos foram orientados pela Egesa, empresa responsável pela obra, a não passar informações sobre o acidente.
Ela deixou claro que não concordava com isso, mas não podia nos ajudar.

Vários parentes de quem trabalha no gasoduto correram para o hospital com medo de descobrir que um dos feridos era alguém da família.
Mas, "acredite se quiser", nem eles tiveram acesso a informações sobre as vítimas.
Alguns ficaram ainda mais revoltados quando ouviram de um engenheiro que eles não deveriam conversar com a nossa equipe.
Claro que o efeito foi contrário!
As pessoas já estavam assustadas, magoadas com a falta de transparência dos responsáveis pela construção e ainda tinham que ouvir o que podiam ou não fazer?!

Alguns parentes aceitaram gravar entrevista.
Eles disseram que não sabiam o que estava acontecendo, como tinha sido o acidente, que tinham ouvido alguns trabalhadores falando que uma tubulação explodiu, mas que ninguém da empresa falava nada.
Uma dona de casa que buscava notícias do marido estava magoada porque um engenheiro disse que ela devia ir para casa.
Se o marido dela não estava lá, era porque ainda estava trabalhando.
Só que ela não tinha como saber se ele estava ou não entre os feridos.

Uma jovem que foi apresentada pelo mesmo engenheiro como responsável pelo contato com a imprensa me disse, mais uma vez, que não poderia falar nada e que os dados só com a assessoria de imprensa no Rio de Janeiro.
Advinhem com quem a Flávia estava falando ao telefone?
Exatamente com os assessores. E nada de retorno sobre o que tinha ocorrido.
"Estamos apurando" foi a frase que ela mais ouviu hoje.
Se não sabiam ainda a causa, poderiam pelo menos ter confirmado oficialmente o acidente e o número de feridos.

Encontramos um amigo que tinha acabado de sair do hospital.
Ele contou que três feridos estavam em estado grave e seriam transferidos para Juiz de Fora. Disse ainda que ouviu os funcionários que chegaram com os acidentados falarem de uma explosão durante um teste de rotina.
Sem informações oficiais e cheios de dados extra-oficiais, tivemos que voltar para a TV, para editar o material e fazer o vivo.

Um técnico que já trabalhou na obra do gasoduto me ligou para dizer que tinha conversado com os ex-colegas e descoberto que durante um procedimento de rotina numa tubulação, os testes tinham sido feitos de forma errada (uma torneira deveria ter sido aberta para liberar o gás antes da manutenção e não foi), o que provocou um vazamento e o ferimento nas vítimas.
Até na hora em que o jornal entrou no ar, nada de retorno da Petrobras.
Só bem mais tarde saiu a nota para os órgãos de imprensa.

A explicação dada foi de uma despressurização durante uma limpeza no gasoduto.
A Egesa informou em nota que os resíduos da limpeza atingiram seis trabalhadores (cinco da empresa e um prestador de serviços da Petrobras).
Três vítimas tiveram alta e outras três permanecem internadas em Juiz de Fora.
Encerrando a nota, vem a informação de que tanto a Egesa, quanto a Petrobrás estão apurando as causas do acidente e prestando auxílio às famílias dos feridos.

Acidente em gasoduto em Minas