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Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Humberto Mauro – A história do pai do cinema nacional virando lixo

Por Robson Rocha

Em abril de 1997 fui a Volta Grande e Cataguases gravar matérias sobre os cem anos de Humberto Mauro. O cineasta mineiro que sonhou em transformar sua terra natal em uma Hollywood brasileira. Pra isso ele construiu ao lado de sua casa, em Volta Grande, o Estúdio Rancho Alegre.
Asssiti a alguns filmes dele e fiquei impressionado com os enquadramentos (fotografia). Ele conseguia ângulos maravilhosos e dá a sensação que ele gostava de arriscar, de fazer coisas diferentes do padrão da época.

Conheci a família de Humberto Mauro na casa dele, na cidade de Volta Grande. Na residência existem algumas peças que ele inventou, como o lustre da sala. Ele criou um mecanismo para que o lustre tenha uma altura variavel. No estúdio apenas um galpão e pequenas salas vazias, que no passado eram camarins, cabines de gravação, etc.O estado dos imóveis naquela época já não era bom e os filhos lutavam para manter o patrimônio do pai, a casa e os estúdios Rancho Alegre.

Tive o prazer de conhecer o Zequinha Mauro, um senhor, que foi super-simpático com a gente e que tinha um bom gosto para escolher uma cachacinha.
Ele nos deu uma aula de cinema, sabia muito de como tirar boas imagens de coisas simples.
Mas ele estava muito preocupado com o estado da casa e dos estúdios. Apesar de toda festa pelos 100 anos do pai, nada estava sendo feito para recuperar o local onde boa parte dos filmes de Humberto Mauro foi produzida.
Zequinha morreu em dezembro de 2002 sem conseguir a recuperação.

Em 2004, voltamos em Volta Grande e o que encontramos foi um total abandono. O galpão onde eram feitas as filmagens totalmente depredado. Quando entramos onde era a sala de áudio, ficamos sem palavras. Simplesmente, tudo destruído. Vandalos entraram arrancaram tacos, fizeram fogueiras dentro da sala e danificaram até o teto.

Simplesmente, parte da história do cinema nacional está virando, ou melhor, virou lixo. Aí a gente nota que em um mundo capitalista não existe respeito pela história, é cada um olhando para o seu umbigo. Se não dá pra levar vantagem, deixe a história virar lixo.
Mas vendo a casa de Humberto Mauro e andando pelo quintal da casa, você começa a viajar no tempo e é impossível não admirar a determinação desse cara que é conhecido como o “Pai do cinema nacional”.

E me lembro do Zequinha contando como eram produzidos os filmes, naquele cantinho de Minas.
O ultimo filme de Humberto Mauro, “Canto da Saudade”, foi rodado no Rancho Alegre.

Existem projetos para recuperar o espaço, mas nenhuma verba é aprovada para que isso aconteça. O projeto foi arquivado pelo Ministério da Cultura em 2005. E a memória de Humberto Mauro vai morrendo aos poucos. Assim como aos poucos o estúdio está acabando. Se alguém quiser conferir, o endereço é:
www.cultura.gov.br/salic4/index.php?pronac=046658

Estivemos gravando em Volta Grande nessa terça-feira, 15 de janeiro e o que vimos mais uma vez foi um prédio abandonado e mais castigado pelo tempo. Mais uma vez tive a sensação de que o Rancho Alegre é um lixo para a história do cinema nacional, por isso tem que ficar “jogado em um canto”. Mas quem sabe alguém se interesse em “reciclar esse lixo que sobrou do cinema nacional?”


Dia 18 de janeiro começa a 11ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Será que alguém vai se lembrar de Humberto Mauro? Com certeza! Talvez até alguém do Ministério da Cultura faça um discurso elogiando o cineasta mineiro. Mas não vai dizer que o Rancho Alegre está caindo aos pedaços, junto com o passado do cinema nacional.

É difícil avaliar, existe dinheiro do Ministério da Cultura pra tanto lixo que é produzido no Brasil e não existe verba para recuperar um importante capítulo da história do cinema nacional.

Que pena!