Quem somos

Minha foto
JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Incêndio em bar deixa um ferido em Bicas

Por Michele Pacheco

Quarta-feria de cinzas.
Dia de voltar ao trabalho e se despedir da folia.
Pelo menos, a rotina recomeça em meio expediente!
Em Bicas, os moradores curtiam o restinho de descanso, antes de retomar o trabalho, depois do almoço.
O Robson e a Flávia Crizanto voltavam da cobertura de um bloco carnavalesco, quando flagraram uma situação perigosa.

Chamas altas saíam de um bar.
Ele fica na parte de baixo de uma construção de dois andares.
Do lado de fora dava para ver o fogo devorando tudo pela frente.
A fumaça negra se espalhou rápido e assustou os vizinhos.
Como a cidade não tem uma guarnição de bombeiros, o socorro foi pedido ao Quarto Batalhão de Bombeiros Militar, em Juiz de Fora.

Enquanto os bombeiros não chegavam, os próprios moradores se desdobraram com baldes e mangueiras para tentar controlar o incêndio.
Todos estavam muito preocupados com os imóveis ao redor.
Sem controle, as chamas poderiam se espalhar e causar um estrago de grandes proporções.
Fiquei me imaginando numa situação dessas, acordando com fumaça e vendo o perigo tão perto, sem poder fazer nada.

Homens, mulheres e crianças foram para as ruas.
Alguns pareciam não acreditar no que estavam vendo.
Outros, não paravam e ficavam de um lado para o outro vigiando o avanço do fogo.
Mas, felizmente numa situação como esta sempre tem gente com iniciativa, que arregaçou as mangas e foi em busca de recipientes com água para tentar diminuir os riscos até a chegada dos bombeiros.

Os policiais militares de cidades pequenas estão acostumados a agir em todo tipo de emergência e não fizeram por menos.
Se uniram aos moradores e foram molhando como dava a entrada do bar.
Como as labaredas ainda estavam sem controle, ninguém se arriscou a entrar no estabelecimento antes de ter certeza de que era seguro.

A primeira pessoa a notar o incêndio foi uma vizinha.
Dona Maria Célia do Carmo sentiu o cheiro de fumaça e foi ver o que estava acontecendo.
Ao notar o fogo, gritou por socorro.
Muito abalada, ela chorou durante a entrevista à Flávia.
Difícil esquecer o susto e a sensação de impotência vendo o perigo tão perto da família dela.

O dono do bar ficou muito ferido.
Teve queimaduras nos braços, nas pernas e na cabeça.
Teve a roupa destruída e perdeu os cabelos.
Ele foi socorrido por uma ambulância de Bicas.
A suspeita é de que o comerciante tenha tentado o suicídio.
O homem contou à vizinha que alguém colocou fogo no bar.

Ele sentado num banco, todo queimado, sangrando e com olhar perdido é uma cena que a Flávia com certeza não vai esquecer tão cedo.
Ser repórter numa hora dessas exige calma.
A gente não pode atrapalhar enquanto busca informações, tem que disfarçar o choque e a emoção de ver o sofrimento alheio e ainda tentar entrevistas com pessoas que estão tão assustadas que nem sabem o que dizer.

Eu e o Robson acompanhamos há muito tempo o trabalho de policiais e bombeiros para saber que uma boa imagem não depende de estar no meio do caminho deles, prejudicando o socorro.
A sensibilidade é o mais importante.
Saber a hora de se aproximar e de se manter distante, estar atento a tudo o que é dito ao redor, saber a quem pedir informações...
E, o mais importante, não esquecer de respeitar as pessoas que estão envolvidas no caso.

Fico muito orgulhosa vendo a Flávia, com pouca experiência de rua, colocar em prática esses detalhes.
O interesse natural dela pelo lado humano das histórias é um passo importante para que se torne uma grande repórter.
No início, cobrir situações como este incêndio é difícil.
A gente nunca sabe o que é o mais importante na história, se está valorizando as imagens que o repórter cinematográfico está fazendo, se o público vai entender todos os lados do fato.

Vale a sensibilidade de cada um.
Como a equipe não invadiu o espaço dos moradores, conseguiu a colaboração deles com informações.
Os vizinhos mostraram o medo deles quanto a um cômodo atrás do bar, onde estavam guardados botijões de gás, pneus e outros materiais inflamáveis que poderiam colocar em perigo outras construções.
São dados imprescindíveis para a reportagem, que os jornalistas só conseguem com atenção e apoio de quem mora no local.

Os bombeiros de Juiz de Fora chegaram e acabaram com o incêndio.
Por mais urgente que fosse o chamado, eles tiveram que passar por 40Km da BR 267, que exige atenção dos motoristas.
Ainda mais, no retorno do feriado, com tantos veículos na estrada.
Chegaram o mais rápido que puderam, apagaram o fogo e fizeram o rescaldo.

Foram tirados do bar móveis, balcões frigoríficos, garrafas e todo tipo de material carbonizado ou derretido.
O calor intenso fez com que os bombeiros molhassem os produtos retirados e também o interior do imóvel, para evitar que as labaredas voltassem a ameaçar o local.
Botijões de gás estavam dentro do estabelecimento e, por sorte, não explodiram.

O que ninguém esperava era encontrar irregularidades no meio do rescaldo.
Quando os móveis foram tirados, os policiais militares levaram um susto ao ver a quantidade de munições, incluindo de fuzil, que estavam guardadas numa gaveta e se espalharam pela rua quando os bombeiros começaram a jogar tudo para fora.
Como o comerciante já não estava mais no local, não ficou claro o que aquelas munições estavam fazendo lá.
Agora, além da dor das queimaduras, ele vai ter muito o que explicar sobre a causa do incêndio e o material encontrado no bar.