(Recepcionistas da TV Alterosa Juiz de Fora)
Estamos aqui de novo para falar um pouco de como é ser a “cara” da Tv Alterosa.
Como já falei uma das nossas funções é atender o telefone o dia todo, passamos ligações para todo mundo, falamos com diversos tipos de pessoas: as educadas, as mal-humoradas, as grossas, as sonolentas, os gagos (pode ser pecado falar isso, mas é muito complicado falar com gente que gagueja pelo telefone).
Tem pessoas que ligam e falam "quero falar com o fulano" e nem um oi falam. Porém, elas têm que ser identificadas, aí perguntamos quem é e da onde para agilizar a situação para quem for atender, e quem está do outro lado não gosta de ficar nos respondendo. Acho que, para elas, a gente tem que ter obrigação de saber quem fala, só que são tantas pessoas com quem falamos todos os dias que nem sempre guardamos a voz de quem tá do outro lado da linha.
Mas tem pessoas educadas, que ligam nos cumprimentam, perguntam como estamos, só faltam perguntar se estamos precisando de alguma coisa. Isso faz com que fiquemos “próximas” é sempre bom ouvir um bom dia, boa tarde ou um boa noite! Acho que pelo menos cumprimentar as pessoas faz bem... faz parte da educação que ganhamos no berço, porém não é todo mundo que pensa assim.
Eu e a Mayra como eu já falei fazemos de um tudo aqui, mas tem um lado que ninguém conhece. O lado em que somos psicólogas, confidentes, amigas....
A gente fica muita conhecida pelas pessoas que fazem parte de alguma forma da Tv, mas que temos muito pouco contatos com elas, ou seja, os telespectadores, muitos deles são atenciosos, engraçados, rabugentos e tem aqueles também que gostam de nos presentear. Às vezes passam aqui só para dar um oi, desabafar e até mesmo chorar.
Tem outras que fazem pedidos que infelizmente não podemos solucionar, nós sofremos com isso em não poder ajudar as pessoas necessitadas: aquelas que tem um parente na fila aguardando uma vaga no SUS, outras que não têm dinheiro para comprar remédio para seu filho; tem gente que chega pedindo pelo amor de Deus ajuda porque a casa tá caindo, tá alagada, cheia de bichos, roupas que foram levadas pela enchente, fraldas, leite. Nossa são tantas as coisas de partir o coração. Na maioria das vezes são as donas de casa que vêm aqui. Aí, dá um peso na gente, um desespero emocional em vê-las correndo de um lado para outro à procura de ajuda! Na hora temos que ter sangue frio, ainda mais quando o assunto é, digamos, “cabeludo”. Algumas vezes já sai daqui abalada, sem saber o que fazer... mas o que faço sempre antes de dormir é rezar e pedir a Deus que ajude essas pessoas desamparadas, que sofrem sem ter aonde morar, o que comer...
Já vi muitas mulheres ligando para cá e pedindo ajuda porque o filho tá desaparecido, o marido tá preso, tem não sei quantos filhos para cuidar e ainda por cima não trabalha! Nessas horas eu penso: como o mundo é cruel com algumas pessoas, umas têm tanto e outras não têm nada.
Nesse meio dos desaparecidos já vi muitas famílias encontrarem seus parentes... não só mulheres como homens ligam agradecendo nossa ajuda ou até mesmo nossa palavra de conforto:
"Deus vai te ajudar". Coisas simples assim, nos fazem boas pessoas para quem estava uns dias atrás totalmente desesperado sem saber que rumo tomar! O lado bom disso é quando vêm aqui na nossa recepção nos dar um abraço e dizer um muito obrigado por a gente ter emprestado nossos minutos para a pessoa desabafar!
Mesmo a gente não podendo ajudar, acho que o pouco que fazemos ouvindo para alguns já é uma grande ajuda!
É acho que vou parando por aqui se não o Robson corta a minha cabeça rsrs... mas quando tivermos mais coisas para contar a gente volta!
Abraços
Michelle e Mayra