Fomos a Espera Feliz, cidade da Zona da Mata, no Maciço do Caparaó, para

A viagem foi tranqüila. Mas, na hora de achar o endereço na zona rural...
Seguimos as referências que estavam na pauta e foram passadas pelos organizadores do evento.
Tínhamos que ir à localidade de Córrego São Felipe. Para isso, bastava entrar à direita numa estrada de terra entre Carangola e Espera Feliz. Haveria uma placa na estrada e muitos carros.
Teoricamente, fácil de achar. Mas, na prática...
A placa de córrego Sao Felipe apontava

Imaginamos que o pessoal teria se confundido na hora da referência e entramos na estradinha de terra. Rodamos um bom trecho e nada de sinal de carros da Epamig.
Como todo homem, o Robson prefere andar quilômetros na direção errada do que parar e perguntar.
Quando, enfim, concordou em pedir orientação, nem uma vaca apareceu para nos ajudar!

Com aquele jeitinho simples e simpático das pessoas do interior, ela arregalou os olhos e disse "Ah, vocês andaram muito pro lado errado.
A fazenda que vocês procuram fica do outro lado do asfalto. Vão ter que voltar tudo!"
Menos mal, já sabíamos para onde ir.
Achamos a sede da Associação dos Produtores


A cidade é muito linda.
Pequena e bem-cuidada, dá uma sensação gostosa de aconchego.
As cenas são típicas do interior.
Velhinhos com chapéu de palha sentados

Uma delícia!
O nome da cidade vem da época em que um grupo de engenheiros fazia pesquisas na região e descobriu um lugar onde a caça era boa.
Os caçadores esperavam, felizes, a caça abundante.
Voltando para a fazenda, a paisagem era linda.

Dos dois lados da estrada, as montanhas de Minas estavam cobertas de cafezais.
Os pés de folhas escuras de longe formam desenhos na plantação.
De trechos em trechos, havia terreiros para secagem dos grãos.
Não vimos nenhum cheio, o que nos chamou a atenção, já que os pés estavam carregados.

" Só falta o dia de campo ser numa dessas plantações no alto do morro!"
Toda vez que ele diz "só falta", não falta mais!
A coisa acontece!
E não deu outra!
Seguimos na direção indicada pelo pessoal da associação e a estrada só subia. Montanhas dos dois lados e

Mal tive tempo de resmungar e o meu marido foi entrando com carro e tudo na plantação.


Não dava para ir mais longe com o carro.
Pegamos o equipamento e fomos patinando barranco acima.
O terreno estava seco e a terra solta nos fazia escorregar o tempo todo.
Gravamos entrevista com o Paulo César Lima, pesquisador da Epamig.
Ele é especialista em solo e nos deu uma aula sobre a utilização de recursos naturais no cultivo.

Os produtores aprendem a usar o que o meio-ambiente oferece para substituir a utilização de produtos químicos. Lá, o amendoim forrageira era usado para manter limpa a área entre os pés de café e, depois de cortado, servia como adubo natural, misturado a outros produtos, para substituir o nitrogênio químico.
O Paulo César ensina os agricultores a aproveitar o que está à mão. Palha de bananeira, casca de café, tudo vira adubo e reduz o custo do cultivo, ajudando o agricultor familiar.
A Waldênia Moura também é pesquisadora da Epamig e começou o trabalho com os produtores de Espera

Ela defende a integração entre os produtores de diferentes regiões e diz que "o mais difícil na cafeicultura orgânica é a comercialização do produto. É preciso agir em parceria com uma cooperativa. Sozinho, ninguém consegue sobreviver no mercado".
Para os produtores, a grande vantagem do cultivo orgânico está no preço, que pode ser mais do que o dobro do valor do café comum.
Tibúrcio Figueira cultivava café da forma tradicional e, há oito anos, trocou

"Hoje, eu sei que tenho o melhor para mim, para minha família e para o meio-ambiente.
No início, é muito difícil você se adaptar ao novo esquema.
Mas, com o tempo a vegetação vai se acostumando com os produtos naturais, vai ficando mais resistente, as doenças diminuem e fica mais fácil cuidar do cafezal" explicou o agricultor.
Ele já está exportando café com ajuda de uma cooperativa de Nova Resende.
Tibúrcio mostrou orgulhoso a plantação dele.

O produtor colhe 33 sacas por hectare, o que siginifica que a cada área do tamanho de um campo de futebol oficial são colhidos 1.650 kg de grãos.
Isso equivale ao dobro da média nacional.
"Eu colho muito mais do que os meus vizinhos que usam agrotóxicos pesados.
E o café é mais valorizado, o sabor é melhor e ele é mais saudável, o que agrega valor no mercado" disse satisfeito.
O difícil mesmo foi conseguir fazer as gravações num terreno inclinado. Levar o tripé, nem pensar.

E ainda dizem que vida de repórter é puro glamour. Tá legal!