Por Michele Pacheco
Acabou-se o que era doce! Fim de feriado, hora de voltar para casa.
Quem deixou para o último instante, se arrependeu.
Com chuva e trânsito intenso, as rodovias em Minas Gerais ficaram ainda mais perigosas.
Fomos para a BR 040 acompanhar o movimento e encontramos a estrada cheia.
Depois do sossego do feriado prolongado, os motoristas precisaram de paciência e bom-humor para enfrentar os engarrafamentos nos pedágios da rodovia que liga o Rio de Janeiro a Belo Horizonte.
No posto de Simão Pereira, as filas chegavam a um quilômetro em cada sentido.
A fila longa andava lentamente.
Um teste de resistência para quem estava louco para descansar um pouquinho antes de retomar a rotina.
Eu olhava de longe e ficava imaginando a situação de muitos daqueles motoristas.
Com a família inteira dentro do carro, cansado de dirigir debaixo de chuva, com as crianças reclamando de fome, de sede e de vontade de ir ao banheiro.
Parar no posto do pedágio significava ter que deixar toda aquela fila passar.
Tem gente que não suporta se ver cheio de carros pela frente e parece querer a estrada liberada.
Mas, num dia como hoje, nem adianta pensar assim.
Em momento algum do domingo na estrada, os viajantes se sentiram sozinhos.
Havia carros de toda parte de Minas e de outros estados.
A Polícia Rodoviária Federal calcula que 90% dos motoristas que viajaram no Natal deixaram para voltar para casa depois do feriadão de Reveillon.
Resultado: congestionamento no último dia.
Para ajudar, a chuva começou fina e constante e acabou virando temporal em alguns trechos da BR 040.
Eu só pensava: o que estamos fazendo aqui?
Posso afirmar com certeza que se não fosse pelo trabalho, o último local onde gostaria de estar é na estrada.
Com tempo ruim e motoristas apressadinhos querendo levar vantagem em cima dos outros, é um risco muito grande viajar nessa época.
Nem na fila do pedágio o povo toma jeito.
Veja esse carro.
Ele ia de uma fila para a outra.
Uma andava mais rápido e lá ia ele trançando entre os outros carros.
Dá nos nervos!
Depois de registrar o movimento no pedágio, seguimos para a delegacia da Polícia Rodoviária Federal.
Estávamos a 90km por hora.
E esse carro nos ultrapassou a toda.
O motorista seguiu viagem fazendo ultrapassagens perigosas e colocando em risco a vida de quem estava no veículo e nos outros carros.
Será que o preço a pagar vale a pena pelo risco assumido?
A rodovia estava com visibilidade prejudicada em vários pontos.
Além da chuva, uma névoa densa entre Matias Barbosa e Juiz de Fora, deixou a tarde com cara de noite.
Às quatro da tarde, o céu estava escuro e os faróis eram necessários.
Mesmo assim, ainda tinha gente se arriscando com direção perigosa.
A polícia pede tanto.
A imprensa mostra tantas matérias de mortes nas estradas.
E nem assim o recado é captado por alguns imprudentes.
O perigo é real e está por toda parte. Foi o que descobriu com um susto uma família de Juiz de Fora.
O casal e a filha viajavam de volta para casa depois de curtir o feriadão em Cabo Frio.
Quase chegando em casa, o motorista perdeu o controle da direção numa reta e o Kadett com placa de Contagem capotou e ficou preso num barranco.
Quando chegamos, o pessoal da Concer, concessionária responsável pela manutenção do trecho privatizado da BR 040, já estava removendo o carro.
Os guinchos, as ambulâncias e os carros de patrulhamento estavam em alerta o domingo inteiro.
Os funcionários dos guinchos tinham que agir rápido, para evitar que veículos com defeito ou batidos causassem mais transtornos na rodovia.
Os profissionais são eficientes e em poucos minutos colocam os veículos no caminhão e levam para local seguro.
Para a família, ficou a sensação de medo e a incredulidade.
Tão perto de casa e um susto desses.
Alguns parentes estavam na estrada recolhendo objetos pessoais e acompanhando a remoção do veículo.
Eles não gravaram entrevista, mas contaram que a família viajou em dois carros com familiares.
Em Três Rios, um dos veículos seguiu para Paraíba do Sul, onde mora o irmão da mulher acidentada.
Ele foi chamado de volta e ficou assustado ao saber que o cunhado e a sobrinha tinham sido levados por uma ambulância da Concer para o Hospital de Pronto Socorro de Juiz de Fora.
Mas, a irmã dele acreditava que não era nada muito grave.
Ela também teve arranhões pelo corpo, mas estava bem.
O dia foi um suplício para o Robson. Ele está se recuperando de uma gripe forte e ficou o tempo todo na chuva.
Parava o carro em local seguro, descia, montava o tripé e registrava algumas imagens de trechos estratégicos.
As rajadas de vento impediam que ele fizesse todas as imagens com a câmera no ombro.
Bastava fechar o zoom, para se ter a noção de que um terremoto estava em andamento.
Assim, só o tripé salva!
O complicado era encontrar pontos seguros para fazer as imagens, sem ficar na mira dos motoristas mais apressados.
Era preciso pensar também que a névoa e a chuva tornavam a visibilidade comprometida e os motoristas poderiam não enxergar o carro da TV.
Alguns trechos renderiam boas imagens, mas a segurança era mais importante e não dava para parar.
Na delegacia da Polícia Rodoviária Federal, encontramos um caminhão dos bombeiros de Juiz de Fora fazendo ponto base.
Ficando lá, a guarnição poderia se deslocar com mais rapidez para o local de um possível acidente mais grave.
Se fossem esperar ser acionados para sair do 4o Batalhão de Bombeiros Militar, no centro da cidade, levariam pelo menos uns quarenta minutos para chegar à estrada.
Quando chove, o trânsito na cidade fica lento e complicado.
A Polícia Rodoviária Federal trabalha em esquema de rodízio de plantão.
E todos estão trabalhando muito nessa passagem de ano.
Da meia-noite do dia 31 de dezembro até às cinco da tarde desse domingo, foram 19 acidentes com 21 feridos e 1 morto.
O caso mais grave foi o acidente entre um ônibus da viação Transur e uma caminhonete Pajero.
A motorista do carro, Valéria Delmonte morreu presa às ferragens.
A imagem do carro era inacreditável. Mesmo sendo um veículo resistente, com airbag e reforçado, o utilitário ficou destruído.
Os bombeiros ficaram das oito da noite até a meia-noite desse sábado serrando a lataria, usando pé-de-cabra, para abrir espaço para o trabalho, e cabos de aço e correntes para desamassar a frente do veículo.
Depois que postamos o texto nessa madrugada sobre o acidente, recebemos o e-mail de um motorista que estava 50 metros atrás do Pajero na hora do acidente e ajudou no socorro.
Não vamos citar o nome dele, apesar de ter nos deixado contatos para mais informações.
Agradecemos muito a colaboração desse motorista.
Talvez ele posse esclarecer o que as autoridades tentam entender: o que a motorista estava fazendo na contra-mão, num trecho largo da estrada, com duas pistas em cada sentido, apesar de não ser duplicado.
Segue o e-mail na íntegra:
"Michele/Robson, boa noite.
Vi sua reportagem sobre o acidente ocorrido neste sábado na rodovia 040 e gostaria de comentar com você o ocorrido. Presenciei o momento do acidente a 50 mts de distância.
Segue abaixo um breve resumo:
***Resumo
A Motorista Valéria estava em alta velocidade e tentou me ultrapassar por diversas vezes (sentido RJ/BH) mas como se tratava do posto policial a mesma reduziu a velocidade. Após o posto da PRF dei passagem à motorista e nos mantivemos próximos. Aproximadamente 500 mts após a PRF o veículo utilitário se deslocou para a pista oposta e veio a colidir frontalmente ao onibus que se despencou barranco abaixo. Não houve frenagem da Pajero, somente o desvio do ônibus. Após este evento, o veículo esportivo começou a pegar fogo e utilizamos nossos extintores para evitar o pior.
***Resumo
Se necessitar de qualquer outra informação estou a disposição."
Só a Valéria poderia esclarecer porque foi vista em alta velocidade, à noite, numa estrada molhada e perigosa.
Mas, o relato do motorista que viu o acidente deve nos servir de alerta.
Quantas vezes encontramos motivos para exagerar na velocidade?
Preocupações familiares, desejo de chegar logo em casa, emergências em família ou no trabalho. Nós, jornalistas, somos peritos em esquecer a prudência e pisar um pouco mais para chegar a tempo de colocar uma reportagem no jornal do dia.
Confesso que ver tantos acidentes num mesmo período me deixou sem a menor vontade de correr mais riscos do que o necessário.