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JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, Brazil
Esperamos com este Blog dividir um pouco das inúmeras histórias que acumulamos na nossa profissão. São relatos engraçados, tristes, surpreendentes...

domingo, 20 de setembro de 2009

Incêndio em Juiz de Fora destrói patrimônio ambiental

Por Michele Pacheco

Hoje, nossa primeira pauta era às 12h.
Coloquei o relógio para despetar às nove.
Teria tempo suficiente de preparar o almoço, acordar o Robson, almoçar e ir ao trabalho.
Estava tendo um sonho agradável, quando um barulho estranho invadiu a história.
Custei para entender o que aquela sirene escandalosa tinha a ver com a linda paisagem imaginária onde eu estava.
Custei, mas entendi que era o telefone.
A Carla, produtora, avisou que um homem tinha sido assassinado na porta de um Buffet no Alto dos Passos, bairro nobre de Juiz de Fora.
No fim, descobri que o rapaz de 24 anos morreu de ataque cardíaco ao tentar separar uma briga.

Depois de fechar o texto dessa reportagem, fomos almoçar.
Por volta de onze e meia, saíamos de casa quando notamos muita fumaça no Morro do Imperador.
Pela intensidade das nuvens que subiam do paredão de pedra, imaginamos que fosse grave a situação.
Fizemos vários caminhos pelo centro da cidade tentando calcular onde seria melhor para fazer imagens.

As chamas altas eram vistas de longe e a fumaça encobria boa parte da encosta.
O fogo começou no meio do morro e foi se espalhando rumo à mata que é uma área de preservação ambiental.
Dava pena ver tantas árvores ardendo e a vegetação rasteira reduzida a cinzas.
Fora o perigo do incêndio atingir as casas no entorno do Morro do Imperador.

Chegamos numa trilha que passa pela parte turística do mais conhecido cartão postal de Juiz de Fora.
Levamos um susto ao ver o tamanho do estrago.
De baixo, já dava uma noção do problema.
Mas, de cima dava para imaginar melhor a dificuldade dos bombeiros naquela ocorrência.

A velocidade do vento e a força das chamas destruíam tudo pelo caminho.
Um acero largo separa a vegetação da encosta e as plataformas com torres de transmissão da Embratel e de outras empresas de comunicação, incluindo TVs e Rádios da cidade.
O fogo não respeitou a área de terra normalmente usada para impedir que queimadas se espalhem muito.
Nesse caso, não funcionou bem.
O fogo passou das árvores de um lado para as do outro.

Havia cinzas e carvão por todo lado.
Os bombeiros terminaram o combate ao incêndio nesse ponto e seguiram o rastro das chamas.
Elas se alastraram por terrenos particulares.
Um clube de luxo no Morro do Imperador teve uma área grande destruída.
A direção foi muito gentil em permitir que entrássemos no clube lotado para acompanhar o trabalho dos bombeiros.

Eles estavam num estado...
Sujos, cansados e preocupados.
Por mais que combatessem as labaredas, elas retornavam alimentadas pelo vento forte e a vegetação muito seca.
A equipe de 8 homens se revezava entre as mangueiras e os abafadores.
Quando tudo parecia mais tranquilo, lá vinha o vento mudando de direção e trazendo de volta o fogo.

A queimada avançava rápido e a água foi ficando escassa.
A equipe pediu reforço e o caminhão-tanque vazio desceu para reabastecer.
Cada minuto parecia uma hora!
Enquanto o novo carregamento de água não chegava, as chamas foram tomando conta da área.
Destruíram folhas secas acumuladas no chão, árvores velhas, vegetação rasteira.

A todo momento os bombeiros lembravam que a previsão para hoje era de chuva.
Eu olhava para o céu azul e tinha sérias dúvidas.
Mas, não quis ser desmancha prazeres e lembrar que havia poucas nuvens no céu.
E nenhuma onde estávamos!
Só a fumaça encobria o horizonte, mostrando que outras queimadas estavam causando estragos pela cidade.

Quando o reforço chegou, os bombeiros correram para conectar as mangueiras.
Mais dois caminhões foram usados.
Era preciso puxar as mangueiras e emendá-las para chegar aos pontos onde era mais complicado trabalhar.
O pior era que eles acabavam de apagar o fogo num ponto, olhavam para trás e viam que estavam quase cercados pelas chamas de novo.

Exaustos, eles não perderam o profissionalismo e a paciência com os frequentadores do clube que pareciam deslumbrados com o espetáculo de destruição.
Realmente o fogo atrai olhares.
E o perigo tão perto mexe com as pessoas.
Apesar do medo, muitos com certeza espantaram o tédio do domingo vigiando o trabalho dos bombeiros.

O Robson acompanhou de perto a ação deles.
E ficou daquele jeito!
Se eu estava cheirando a queimado, ele parecia ter acabado de ser defumado.
Cabelos e roupas cheios de fuligem.
Suor escorrendo de tanto ficar perto do fogo.
Olhos vermelhos e irritados por conta da fumaça.
Nariz e boca secos.
O calor era tanto que já estávamos vendo miragens de garrafas de água geladinhas e gigantes dançando entre as chamas.
Se a fumaça não fosse tão intensa, teríamos pelo menos um pouquinho de saliva para matar a sede!

Depois de quase duas horas e meia naquela peleja, meu marido chutou o balde!
Ou melhor, largou a câmera e seguiu os bombeiros até o caminhão para aproveitar um pouco do jato de água...morna!
Nem o banho improvisado acabou com o calor dele.
Só não deu para tirar mais fotos, porque na correria ele ficou com dois palmos de "cofrinho" à mostra.
E eu não ia ficar divulgando a intimidade do meu marido, né?!

Saímos do Morro do Imperador para não perder as outras pautas, mas os valentes soldados do fogo continuaram naquela sauna ao ar livre por um bom tempo.
Pena que nem sempre a população reconheça o esforço dos bombeiros para garantir o nosso bem-estar.
Até agora há pouco, havia focos de incêndio se destacando na escuridão.
Era só olhar com atenção para o morro, para notar as chamas reaparecendo entre a vegetação.
Por sorte, começou a chover agora.
Aquela chuva que os bombeiros tanto pediram durante a tarde!
Antes tarde do que nunca!