Por Michele Pacheco
Férias! Pé na estrada! Decidimos ir para a casa que a mãe do Robson tem na praia de Sossego, no norte do RJ. Mas, jornalista não sossega...
Passamos primeiro pela Região Serrana. Em Nova Friburgo, numa serra cheia de curvas perigosas, notamos um homem em pé na carroceria de uma caminhonete segurando uma geladeira. Impossível não imaginar o estrago que aconteceria se ele se desequilibrasse numa virada mais brusca!
Chovia muito quando passamos pela BR 101. O Robson preferiu ir devagar, já que o trânsito era intenso, o risco de acidentes era grande e nós não estávamos com pressa. Para espantar o tédio, passamos a comentar as imprudências cometidas pelos motoristas e a tirar fotos das irregularidades. Entre Casimiro de Abreu e Macaé foi um festival de absurdos. Ultrapassagens em faixa contínua, num trecho de pista estreita e tráfego movimentado nos dois sentidos. A cada manobra errada, a gente prendia a respiração. Junto com os sustos, veio a revolta. Afinal, de que adianta gastar saliva em dezenas de matérias sobre perigo no trânsito, passar orientações, alertar para o índice crescente de acidentes nas rodovias, mostrar os estragos causados... Todo motorista sabe o que pode ou não fazer. Mas, na prática, nossas estradas parecem pista de corrida de assassinos e suicidas. Não me levem a mal, mas sempre que faço matérias sobre mortes no tráfego, eu lamento que as vítimas não sejam apenas os irresponsáveis que encaram os veículos como armas e se sentem intocáveis. Infelizmente, o que vejo com freqüência são pessoas inocentes, famílias inteiras destruídas pela imprudência de alguns. Basta ligar a TV para saber notícias de pessoas embriagadas que causaram batidas. Quando a gente faz uma reportagem sobre acidentes e ouve os motoristas, todos são unânimes em culpar a situação das rodovias. Como se explicam então os flagrantes que pegamos numa estrada com asfalto bom e em condições satisfatórias? O que o motoqueiro pensou ao ultrapassar a fila de veículos pelo acostamento? E se um ciclista estivesse no canto? Ou pedestres nos trechos em que a BR 101 passa por perímetro urbano?
E os maus exemplos não estão apenas nas estradas. Depois de uma viagem tensa, enfim achamos que seria só relaxar em Sossego. Mas, nosso faro jornalístico não sabe mesmo o que são férias! Parados numa lanchonete tomando água de coco, de frente para o mar, começamos a observar a quantidade grande de motos no lugar. Ficamos atentos a isso a partir desse dia, o que rendeu mais flagrantes. Tudo bem que as praias em São Francisco do Itabapoana são tranqüilas. O Robson costuma brincar que Sossego é uma roça com praia, já que existem muitas áreas desocupadas e o gado passeia livre pelas ruas. Mas, isso não é justificativa para que quase todos os motoqueiros andem sem capacete. Conseguimos fotografar vários casos. E, eles não se contentam em se arriscar sozinhos. O mais comum é ver duas ou três pessoas nas motos, incluindo crianças.
Depois de uma passada por Arraial do Cabo, decidimos voltar para casa antes do carnaval, para evitar riscos maiores nas estradas. Os pedágios da Via Lagos e da Br 040 (Rio-Juiz de Fora) estavam com retensões e o trânsito ia lento. Estávamos parados num deles, quando ouvimos uma freada. Um motorista não reduziu a velocidade e quase bateu em outro que não se decidia onde queira ficar e estava mudando toda hora de fila. Não foi surpresa encontrar pelo caminho acidentes de todo tipo. Não havia chuva e as estradas por onde passamos eram ótimas. Descartando essas duas causas comuns de batidas, sobrou a imprudência. Essa, é democrática! Acontece em qualquer nível social, qualquer região do país e qualquer rodovia, sem preconceito de idade, raça e sexo! O que mais podemos fazer ou dizer para que os motoristas entendam de uma vez que não são donos das estradas e que vidas são destruídas de forma brutal todos os dias para que alguns se divirtam em alta velocidade e num festival de imprudência?
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