Por Michele Pacheco
Eu tenho trauma de estúdio! E tenho motivos para isso! Todo mundo acha engraçado ver aqueles vídeos em que spots caem nos apresentadores e coisas estranhas acontecem. Eu também achava, até me tornar vítima de "acidentes" no estúdio.
Sou do tipo que gosta de aprender e quer saber todas as funções ligadas ao jornalismo. Aprender a ancorar o jornal era um desafio. Sou da equipe de rua, amo o trabalho de externa e gostaria de manter contato com ele para o resto da vida. Mas, eu tinha que ir para a bancada e provar a mim mesma que faria direito. Lá fui! Uma, duas, várias vezes. Estava começando a superar a sensação de passarinho engaiolado, num local fechado e com ar condicionado ou muito frio ou muito quente (nunca na temperatura ideal!). Foi, quando aconteceu.
Nossa Editora Responsável estava de licença maternidade e o editor assumiu o lugar dela. O Stanley Teixeira fechava o jornal e ficou responsável por cortar o Jornal da Alterosa aos sábados. Lá fui eu para o estúdio, apresentei tudo e me despedi. Sabe aquele finalzinho de jornal, com a ficha e o apresentador tirando o microfone, etc... Pois foi aí que começou o problema. O Robson estava de férias e o Maurício Mazzei estava no lugar dele na rua comigo e no estúdio passando o TP. Eu encerrei, tirei o microfone, coloquei na bancada e fui conversando com o Mazzei até minha imagem sair do vídeo. Assim que a tela ficou preta, indicativo de que o sinal tinha passado para o controle de Belo Horizonte, eu tirei o ponto eletrônico e me virei na cadeira para amarrar o fio. Foi quando o Mazzei começou a rir e disse "olha lá, é você de novo". Senti um frio na barriga. Claro que tinha acontecido algo errado! Sentei direito, fiz cara de quem estava disfarçando, como se tudo estivesse previsto, abaixei um pouco a cabeça e mexendo pouco a boca, pedi baixinho para ele desligar as luzes para que eu pudesse sair do estúdio. Quem disse que meu querido amigo me ouvia? Também, com tantas gargalhadas! E ficamos alguns minutos naquele sofrimento. Minha imagem sumia, eu levantava para sair, ela voltava, eu sentava, ela sumia, eu levantava... Lá pelas tantas eu já estava vendo a hora em que iria levantar e, em vez de deixar o estúdio, eu iriar voar no pescoço do Mazzei. Ele riu tanto que já estava ficando roxo.
Quando enfim entendeu o que eu queria que fizesse e apagou as luzes, pude finalmente escapar do meu calvário! Entrei na cabine de exibição pronta para esquartejar quem tinha me deixado naquele mico e a história que ouvi foi hilariante! O botão da mesa de corte escapuliu e caiu no chão no fim do jornal, impedindo que mudassem a imagem que estava no vídeo, cortando para o sinal de Belo Horizonte. Imagine o nosso editor com quase dois metros de altura e calçando 46 bico largo andando de um lado para o outro atrás de um botãozinho, com o pessoal de BH gritando pelo intercom cobrando solução! Cada vez que ele chegava perto, chutava o pobrezinho para mais longe. Quando enfim conseguiu resgatar o fugitivo, eu já tinha conseguido sair do estúdio.
Fiquei com medo de passar até perto do estúdio. Entrava passando por trás das câmeras, para não correr o risco de alguém ligar e eu ir para o ar. Quando estava começando a me curar do trauma, veio outra bomba.
Mais um fim de semana, mais uma vez eu apresentando e o Mazzei no TP, mais uma vez o Stanley no corte. Receita perigosa! Mas, tínhamos que arriscar.
Lá estava eu, sentada na bancada, esperando o jornal começar e com as pernas bambas. O Mazzei vira e me diz todo simpático "calma, você já passou pelo pior, o que mais pode acontecer?". Foi o suficiente para me subir um frio pela espinha. Começou o jornal, a primeira matéria entrou, li algumas notas e chamei a segunda matéria. De repente, buuum! Ouvi um estouro e vi uma chuva de fogo caindo em cima do monitor do TP e na camisa do Mazzei. Acreditem se quiserem, a lâmpada de um dos spots em vez de queimar, derreteu. Quente, o material derretido queimou o plástico do monitor e levantou fumaça. Assustado, o Mazzei começou a se estapear, levantou e foi para a frente da câmera. A matéria chegando ao fim, eu pedindo socorro pelo microfone (baixinho, com medo de vazar o áudio no ar e criar pânico) e o meu pobre colega com a roupa cheia de buraquinhos andando de um lado para o outro na frente da bancada. Socorro, não veio nenhum. Mas, logo ouvi a voz do Stanley "atenção, deixa no ar, você vai voltar agora". Virei para o Mazzei e falei "vamos voltar, vá se estapear atrás das câmeras". Busquei a expressão mais tranqüila que consegui e fui lendo os textos em meio à fumaça, como se nada tivesse acontecido. Nossa sorte foi que o jornal de sábado era menor e eu tinha lido várias vezes as laudas antes do jornal começar. Improvisei alguma coisa e saímos do estúdio assim que o jornal acabou. Entramos brancos e trêmulos na cabine e o pessoal nos recebeu dando os parabéns, dizendo que tinha sido o melhor jornal dos últimos dias. Quando nos viram quase desmaiando e contamos o que tinha acontecido, ninguém acreditou. Todos correram para o estúdio e viram as marcas de fogo no monitor e a camisa furada do Mazzei.
Desde então, estúdio para mim é fogo!
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