Por Michele Pacheco
Os primeiros imigrantes alemães chegaram em Juiz de Fora há 150 anos para trabalhar na construção da estrada União Indústria.
Eles foram instalados na Colônia D. Pedro II, que deu origem à Cidade Alta, região que compreende vários bairros na região oeste do munícipio.
Duas mil pessoas deixaram a Alemanha e a Áustria em busca de novos rumos no Brasil.
Menos de 1200 conseguiram chegar ao destino.
Eram famílias inteiras que enfrentaram as dificuldades de uma travessia longa para dar início a um projeto pioneiro no país, a substituição da mão-de-obra escrava pela dos imigrantes europeus.
Dispostos a se integrar à nova realidade, os germânicos se obrigaram a aprender o português e os costumes da nova "casa".
Com isso, muitos descendentes não aprenderam a falar alemão, apesar dos antepassados terem feito questão de preservar algumas heranças da terra natal.
Uma exposição realizada nesse fim de semana no bairro São Pedro relembrou essa história.
"São Pedro Alemão" foi uma mostra de fotos, documentos e objetos cedidos pelos descendentes dos primeiros imigrantes alemães.
O comerciante aposentado, Antônio Dilly, o Tio Toninho, como é conhecido no bairro, foi um dos moradores que ajudaram a formar o acervo da exposição.
Bisneto de Ludwig Dilly, um dos primeiros germânicos a chegar em Juiz de Fora, Tio Toninho guarda com carinho a herança que recebeu do pai.
Entre os objetos da família dele que estão expostos, se destacam uma balança de ferro, preservada nos mínimos detalhes.
Até os pesos usados na venda dos Dilly foram mantidos em bom estado.
Antônio contou que, na época em que ele era criança, via o pai colocando sacas de papel de um lado da balança, enchendo com os produtos pedidos pelos clientes e colocando os pesos de ferro na outra bandeja, até calcular a quantidade necessária.
Ele fazia isso inúmeras vezes durante o dia.
Para o herdeiro, as lembranças são agradáveis e trazem de volta um gostinho do passado.
Outro objeto que Tio Toninho mostra com orgulho é um espremedor de laranjas rústico, feito de uma haste de ferro com uma roseta na ponta e uma manivela atrás.
A haste era girada e a laranja colocada na frente da roseta, que rodava e ia tirando o suco.
O caldo da fruta era usado na produção de licor de laranja e outras bebidas.
Segundo nosso personagem, ele ainda lembra do cheiro que sentia na cozinha, enquanto o pai preparava a iguaria, e do gosto das bebidas feitas em casa.
Os visitantes da exposição viram fotos das primeiras famílias que se instalaram em Juiz de Fora, documentos antigos e até um raro livro de metalurgia do século XIX, todo em alemão.
As fotos revelavam ainda a religiosidade dos germânicos.
Eles tinham a necessidade de construir uma igreja na Colônia, já que eram obrigados a andar uma distância longa até a Igreja da Glória, a mais próxima deles.
Algumas famílias doaram terras e dinheiro para a construção de uma igreja mais perto dos bairros da Colônia.
A primeira capela erguida foi uma homenagem a Santa Ana, mãe de Maria.
A segunda edificação religiosa, foi a Igreja de São Pedro.
Os descendentes contam que entre as histórias que ouviram, ligadas ao carinho dos alemães com o discípulo que se tornou o primeiro Papa da Igreja Católica, estão alguns relatos sobre as dificuldades enfrentadas na viagem para o Brasil.
O medo da morte, das tempestades no mar e das doenças levou muitos católicos a se apegarem ainda mais às orações.
Muitas famílias eram devotas de São Pedro e prometeram homenageá-lo.
Os descendentes preservaram a devoção e as festas em homenagem a um dos alicerces do catolicismo.
A exposição "São Pedro Alemão" foi uma homenagem aos imigrantes e fez parte das comemorações do Dia de São Pedro, celebrado nesse domingo.
Além da mostra acompanhamos uma procissão que saiu da capela de Santa Ana em direção à Igreja de São Pedro.
Com velas nas mãos, os fiéis percorreram várias ruas do bairro, sendo saudados no caminho pela Banda 24 de Setembro e por muitos moradores.
Eles fizeram todo o caminho cantando e rezando e renovando a fé no santo que escolheram como intercessor.
Ao chegar à igreja, a multidão de católicos dividiu espaço para a missa de São Pedro.
Como houve muito atraso no início da procissão e a missa também começou muito depois do horário previsto, não pudemos acompanhar a bênção das chaves, uma tradição religiosa ligada ao discípulo que recebeu de Jesus Cristo as chaves do Céu.
Durante todo o fim de semana, além das celebrações religiosas, moradores da Cidade Alta e de vários bairros de Juiz de Fora se divertiram com a festa na paróquia, com direito a barraquinhas de comidas típicas de festas juninas.
Encontramos uma velha amiga, a Denise.
Ela foi a primeira assessora de comunicação da TV Alterosa em Juiz de Fora.
Ela estava com a filha Laura e com a mãe.
Conversamos um pouco e agora a Denise está trabalhando na Votorantin, em Monte Verde.
Enquanto esperávamos a procissão, aproveitei para matar a fome com algumas das guloseimas que eram oferecidas pelos vendedores.
Tinha churros, crepes, caldos, pipoca, milho verde, maçã-do-amor, cachorro-quente...
Mas, eu me lambuzei mesmo foi com os morangos-do-amor.
Como sou estabanada, nem tento comer maçã-do-amor na rua, para não passar vergonha.
Mas, os morangos são mais fáceis de degustar sem risco de ficar toda melada.
E estavam deliciosos!!!
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